10 anos atrás.
Pedro lembra-se de estar acordando de um escuro pesadelo, já quase sem lágrimas para chorar, de joelhos em frente a um mar de túmulos feitos de cimento. E olhava para a plaquinha de sua mãe: "Helena: mãe e amiga amada", sabendo que toda a base da sua vida havia acabado de ser enterrada diante de seus olhos, embaixo de seus pés.
— Parece que não foi a doença. — disse uma voz longínqua.
— É. Dizem que foi de desgosto pelo menino ter se perdido.
— Desgosto? Ouvi dizer que o que aconteceu mesmo foi uma bala perdida.
E Pedro levantou os olhos, afastando os cabelos encharcados da testa e vendo dezenas de guarda-chuvas caminhando pelo caminho que levava até a pesada porta de ferro, para a rua. Alguns passavam por ele e lhe davam um beijo, um abraço, ou um tapinha leve nas costas. Mas nenhum parava para lhe dar a mão e acompanhá-lo até a saída. Então Pedro olhou para a plaquinha, perguntando-se o que seria dele. Para onde iria? Porque agora, mãe?
Uma mão apertou seu ombro. Era Henrique, rapaz de cerca de 20 anos.
— Brother. Passe lá em casa pra gente conversar. Vou te dar um dinheiro por enquanto, até você se estabelecer. Depois, quando tudo ficar nos conformes, converso sobre manter seu emprego com o chefe.
Pedro assentiu, sem forças para falar. O garoto deu-lhe outro tapinha, e seguiu junto com a multidão para a porta do cemitério.
— Pai. — disse Manoel, o rosto cheio de espinhas e voz fina, à distância, mordendo as unhas enquanto observava Pedro. — A gente não pode deixar o Pedro ali.
— Filho, é a vida. — disse Tom. — Não tem nada que possamos fazer.
— Mas ele é meu amigo. A gente brincava de carrinho antes da Helena parar de trabalhar lá em casa. A gente foi até naquela festa que teve na cobertura na zona Sul juntos.
— Festa? Que festa, menino? — Tom lançou-lhe um olhar duro.
— Nenhuma festa. A gente foi... No cinema. — coçou a cabeça. — Só no cinema. Nem era na zona Sul. Era... Sei lá.
— Olha, sentimos muito carinho por ele. — disse Carla, mãe de Manoel. — Mas não há nada que possamos fazer.
— Ele já entrou num caminho ruim. — acrescentou Tom. — Eu contei a vocês que ele apareceu lá na delegacia naquelas condições. Agora, se você ainda me diz que ele te levou pra uma festa na zona Sul, tenho certeza de que não é boa companhia.
— Não teve festa nenhuma. — Manoel engoliu em seco. — Mas, só pra constar, se tivesse tido uma festa, numa situação bem hipotética, o Pedro teria me dito que era muito feio mentir pra vocês.
Tom revirou os olhos.
— O serviço social vai mandá-lo para um lar, filho. Não precisa se preocupar com ele.
— Claro. — e Manoel revirou os olhos. — E vocês dois iriam ficar muito felizes se eu ficasse jogado assim, no cemitério, esperando que alguém viesse me botar num orfanato?
Carla suspirou.
— Bom, oferecer um dia de banho quente e comida fresca não vai nos fazer mal algum, Tom.
— Tudo bem. — respondeu ele. — Espere aqui, filho.
E Tom e Carla andaram em direção a Pedro, que mantinha os olhos vazios. Carla pegou sua mão trêmula e a envolveu com toda a segurança que poderia passar. Tom ajoelhou-se ao seu lado.
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O Preço da Justiça
Misterio / SuspensoPedro Whitaker é um detetive nascido numa comunidade carente do Morro das Andorinhas. Quando criança, teve de lidar com a doença da mãe, a falta de dinheiro e o preconceito social. Agora, recém formado, ganha a vida investigando crimes para a políci...