Capítulo 6

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Pedro massageava as têmporas numa tentativa de diminuir a dor latejante em sua cabeça. Não estava funcionando. Aquela salinha de investigações era totalmente claustrofóbica, possuía paredes cinzas, construídas num ângulo estranho e torturador, parecendo que a qualquer momento iriam dar a louca e se fechar em quem quer que estivesse dando sopa por ali. Só havia uma pequena janela coberta com grades, mas que se encontrava quase na altura do teto e que não servia direito nem para a entrada de ar. Se era para intimidar quem estivesse sendo interrogado, deve ter funcionado muito bem. Mas Pedro tinha certeza de que era um plano maligno para acabar com os pulmões dos policiais.

— Por favor, senhora. — disse a uma velhinha de aproximadamente 70 anos, que sentava-se em sua frente com a bengala apoiada no ombro. — Não há nada mesmo de que se lembre?

— Ah, meu filho. Eu já lhe disse tudo o que sei. Não tenho culpa se Eduardo era um homem muito reservado. Com ele, era assim: de casa pro trabalho, do trabalho pra casa.

— Mas ele parecia feliz? Tinha problema com vizinhos?

— Ele me parecia ser um homem muito misterioso, quietinho. Mas estava sempre se divertindo com o filho, levando-o para andar de bicicleta na rua. Para os vizinhos, só dava "bom dia" e "boa noite", não podemos saber de nada.

— Isso foi o que todos disseram. — deu um sorriso a ela. — Será que a senhora não ouviu nada, nem que fosse ao menos uma fofoca sobre ele? Qualquer coisa fora do comum?

— Sinto muito, meu filho. — e ela também deu um meio sorriso, soltando os ombros.

— Tudo bem, então. Está liberada.

E a senhora levantou-se e começou a andar com dificuldades até a porta, apoiando-se em sua bengala velha de madeira. Pedro ajeitou-se na cadeira, pensativo. Não fazia sentido. Eduardo conhecia o assassino, então porque ninguém que o conhecia sabia dizer nada de importante?

E bufou, levantando-se. Talvez uma espairecida de ares fosse boa para ele e para as investigações. Passou por cerca de dez pessoas que ainda encontravam-se na recepção, à espera de serem interrogadas, e seguiu para o estacionamento. Apoiou os dois braços na mureta e observou o movimento de carros e pessoas na rua. Inspirou o ar puro, tentando concentrar-se no verde dos arbustos para esquecer-se do caso por um instante. Antes, as coisas pareciam ser mais simples. O assassino sempre era pego por uma câmera de vigilância, nos dez primeiros minutos.

Olhou para a esquerda, e viu Augusto também tirando uma pausa do outro lado da escadaria, com um cigarro na mão.

Cigarro.

Na mão.

Cigarro.

Pedro vira o rosto para o outro lado, apoiando o cotovelo na grade e enterrando o rosto em suas mãos, numa tentativa de não ver o que seu companheiro de equipe fazia. Mas sua dor de cabeça parecia aumentar ao ter a ciência do que ocorria a oito metros de si. Começou a batucar os dedos e a sentir os pés trabalhando em um ritmo inventado e bastante rápido.

Fechou os olhos, lembrando-se da promessa que fizera. Soltou o ar que tinha dentro de si, vendo se conseguia se concentrar melhor. Mas, no mesmo momento a fumaça de uma das tragadas que Augusto dera atingiu Pedro, ele soltou os ombros e aproximou-se dele, por mais repulsa que sua presença lhe causasse.

— Pode me dar um cigarro? — perguntou, os olhos baixos, parado ao seu lado.

— Me desculpe, só tenho o tradicional. Não deve fazer seu estilo. — respondeu, provocando-o, e Pedro suspirou. A insolência era tamanha, até mesmo para os parâmetros diários de Augusto.

O Preço da JustiçaOnde histórias criam vida. Descubra agora