Capítulo 18

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Não havia espaço para depressão ou trevas na delegacia da polícia civil. Em dias comuns, às três horas da manhã, os policiais de plantão encontravam-se de olhos semiabertos, iluminados por lâmpadas fracas, trabalhando tediosamente num ritmo arrastado.

Naquele dia, pelo contrário, todas as luzes estavam ligadas na potência máxima, via-se uma grande correria de um lado para o outro, pessoas falando ao telefone, analisando provas, criando hipóteses. Parecia um exímio mercado de bolsa de valores, em que o preço das ações subia e descia a cada milésimo de segundo, deixando à mostra a insanidade das pessoas.

O único cômodo em que não havia nenhum movimento e em que o tempo parecia não passar era a sala do delegado Tom.

O delegado mantinha a cabeça baixa e pensativa, apenas dando ordens de um jeito bem ranzinza e irritado, deixando todos com medo de terminarem o dia com uma carta de suspensão nas costas. Ele era um bom líder, mas a delegacia inteira estava aprendendo que era melhor para seus empregos que ficassem longe de seus dois filhos.

Tom mal disse duas palavras num tom baixo a um investigador, que já bastou para que ele se sentisse um inútil e incompetente.

— Desculpa, doutor, desculpa! — corria o investigador pela delegacia, carregando um papel, o cérebro a mil conjecturando como poderia consertar a besteira que havia feito.

— E você, o que ainda faz aqui? — Tom cerrou os olhos, enquanto um perito novo qualquer saía em desabalada carreira pelo corredor principal.

Tom, de pé em frente à sua mesa, passou a massagear as têmporas. Ele sabia muito bem onde Pedro devia se encontrar, e também sabia que Flávia estava mentindo para protegê-lo. Em anos de delegacia, não era uma dupla novata recém saída da faculdade que iria enganá-lo.

Não bastasse estar cercado de "boas pessoas cometendo muitas negligências", tinha de lidar com seu próprio filho resolvendo que aquele era um bom dia para encher a cara num bar e pensar nos seus próprios problemas.

Quando tudo isso terminasse, Pedro ia ver só. E Flávia, também.

Mas agora ele tinha que colocar ordem na casa, pois parecia que todos os seus policiais resolveram que aquele era um bom dia para tentar agradá-lo, errando. A pressa era inimiga da perfeição, mas Tom estava cansado demais para repetir seus ensinamentos pela trigésima vez na mesma noite a seus homens e mulheres.

— Doutor? — uma mão deu três batidas à porta, pedindo permissão para entrar. — O senhor está bem?

Melhor impossível. — disse ele, entredentes, a Augusto. — Se você achou alguma coisa sobre meu filho, me interessaria muito.

Augusto mordeu os lábios.

— Bom, não sobre Manoel.

— Então vá, Augusto! Espalhe por aí que eu vou promover o primeiro que achar uma pista digna, e faça aquilo que você gosta de fazer a anos: vença a aposta do seu jeito. Mesmo que eles sejam bem duvidosos.

— Mas doutor, eu...

— Vá! — Tom o empurrou para a porta, fechando-a atrás dele.

Quando já estava de volta à sua mesa, olhando para seus esquemas desenhados numa lousa, a porta abriu-se de novo. Tom levantou os olhos raivosos para o homem que se encontrava com rosto amedrontado na pequena fresta.

— Eu quis dizer que tenho notícias do seu outro filho.

Tom levantou uma das sobrancelhas. Até onde ele deduzira, Pedro estava enchendo a cara e estragando seus pulmões em um bar qualquer do centro velho de São José.

O Preço da JustiçaOnde histórias criam vida. Descubra agora