Após Flávia conseguir arrastar Pedro para o vestiário, teve a total certeza de que as pessoas sempre ligam umas para as outras nas piores horas. Não havia momento mais inoportuno para que Tom resolvesse cobrar algum avanço nas investigações do sequestro de Manoel, que vinha conduzindo com mão de ferro desde o começo da noite.
O sumiço de Pedro na calada da madrugada, logo após de as atividades começarem, não tinha ajudado ninguém. Alguns estavam preocupados com fato dele ter sido também sequestrado, e outros afirmavam que ele devia ter ido procurar alguma pista em sigilo. Tom, por sua vez, não podia suportar perder outro filho, então incumbiu a Flávia a tarefa de procurá-lo.
O cumprimento de sua missão nem se deu por esforço próprio, mas porque a perícia recebera um telefonema desesperado de um tal de Tião, que se dizia treinador de luta de Pedro, implorando para que algum amigo do delegado viesse forçá-lo a ir embora da academia.
— Oi, Tom! — Flávia dizia segurando o telefone e forçando um sorriso positivo enquanto lutava para que Pedro tirasse a camiseta suja que nem um ser humano relativamente normal.
— Flávia, desculpe te incomodar. Já descobriu onde o Pedro está? — ele parecia extremamente cansado, provavelmente utilizando seus olhares severos com o intuito de fazer com que todos os policiais, que foram tirados de suas camas às pressas, cooperassem.
— Afirmativo, senhor. Já iria te telefonar. — disse ela, puxando a camiseta pela cabeça do detetive e evitando bisbilhotar seus músculos. Afinal, circunstâncias são circunstâncias.
Observando sua expressão cansada, não muito diferente da de todos os outros envolvidos no caso, ponderou a necessidade de Tom saber todos os detalhes sórdidos que envolviam o estado de seu filho adotivo.
Não que Pedro não merecesse levar uma bronca épica e aprender a tomar jeito na vida.
Mas Tom, por outro lado, não merecia se preocupar com mais um membro da família.
— Ele está bem, e trabalhando no caso. — resolveu dizer, por fim. — Tudo sobre controle. Já me inteirei das circunstâncias e ficarei por aqui o ajudando. Ele disse que não te ligou porque não descobriu nada importante. — e ralhou com Pedro, que tentava agarrar seu telefone que nem um bêbado idiota.
— E onde ele estava?
— Na... Hm. — e enfiou a mão na boca de Pedro, tapando sua respiração, enquanto ele fazia menção de falar algo. Suas veias desprovidas de talento circense ou teatrais não conseguiam pensar em nada muito criativo, então resolveu falar a verdade antes que se enrolasse nas palavras. Ou quase a verdade.
— Onde? — cobrou Tom.
— Na academia. Ele disse que por aqui pensa melhor, e trouxe muitas anotações consigo.
— Posso falar com ele?
— Não! Quer dizer... Não dá. Eu estou na rua, vim comprar algo para comermos enquanto tentamos analisar as evidências. — e deu-se um tapa na testa pela idiotice de seus improvisos. Por sorte, talvez Tom estivesse igualmente cansado para prestar atenção em seu tom de voz suspeito.
— Flávia. — disse ele, ríspido. — Sejam rápidos.
— Sem problemas, chefe. — apressou-se em dizer. — Estou à disposição.
— Eu vou desligando. Qualquer coisa entre em contato comigo. Também peça ao Pedro não mencionar o sequestro à minha esposa. Nós vamos encontrar Manoel a tempo, não quero preocupá-la. Ela já tem problemas demais. E outra... — e fez o possível para que sua voz ficasse mais séria. — Diga ao Pedro que da próxima vez que ele desaparecer sem me avisar, com um sequestrador à solta... Eu vou chamar Carla.
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O Preço da Justiça
Детектив / ТриллерPedro Whitaker é um detetive nascido numa comunidade carente do Morro das Andorinhas. Quando criança, teve de lidar com a doença da mãe, a falta de dinheiro e o preconceito social. Agora, recém formado, ganha a vida investigando crimes para a políci...