Capítulo 1 (Parte I)

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Quem pôs as crianças entre os anjos? (Parte I)

Era um dia como outro qualquer na vida de Matteo. Já a viver em Brighton há 7 anos, a sua rotina não mudava muito. Acordar às 8h, tomar banho até as 8h15, vestir-se em 5 minutos, comer o pequeno-almoço em 10, estar no escritório às 9h.

Nada se passava nas redondezas. Brighton andava estranhamente calma há alguns meses, como se algo estivesse prontinho a acontecer.

No centro da cidade, a esquadra não é bem aquilo que se imagina em primeiro lugar – esta é um prédio de pelo menos 4 andares, com um ar rico e intimidador – como se nem todos lá pudessem trabalhar.
Chegando ao trabalho, Matteo encontra uma nota na secretária. "Precisamos de falar. – Berry". Uh-oh, sarilhos.
Matteo e Berry já se conhecem desde que ele chegou a Inglaterra, e é um amigo importante. Mas quando o assunto é trabalho, há que ter o pé atrás.
Desconfiado mas calmo, dirigiu-se até o escritório do seu chefe e bateu à porta: "Serviço de quartos!", disse Matteo com um tom de gozo. "Acabou o tempo para brincadeiras, Matteo. Algo está para acontecer, e eu sei que tu também o sentes.", Berry continuou:

- Recebi um telefonema de uma mãe que vive do outro lado da vila. Os seus três miúdos supostamente foram para a escola, e sempre que lá chegam têm por hábito ligar-lhe. Nem a 10 km fica de casa e em duas horas o autocarro ainda não chegou, nem sinal dele. Quero que vás à escola falar com os restantes motoristas e os seguranças para recolher data.
- Certo. Faço-lhe a cama depois. Até logo.

- Sem piadinhas, ó engraçadinho! Sinceramente...

Matteo pôs-se a caminho da única escola que existia na vila. "Isto não me parece ser muito grave.", pensou ele. A bomba que está para vir ainda não rebentou.
Quando lá chegou, reparou que estavam poucos alunos no recreio. "Estranho.". Dirigiu-se para a entrada e foi parado bruscamente por um segurança:

- Onde é que o senhor pensa que está a ir? Não tem cara de ser pai.

- Com essa cara o seu é que não sou de certeza. Agente Detetive Matteo Alessi, vim investigar o porquê de um certo autocarro cheio de crianças que já cá deveriam estar há mais de duas horas ainda não chegou. Dá-me licença ou preciso de um mandato para entrar numa escola pública?

- Desculpe, Sr. Detetive. Ultimamente o ambiente da escola têm estado algo sombrio, foi-nos mandado andarmos mais alerta. Entre, por favor.

Matteo chegou à direção da escola e encontrou o diretor a olhar pela janela principal, mãos atrás das costas, com um ar preocupado. "Sr. Diretor?", disse Matteo. O senhor, já com uns 60, talvez 70 anos, virou-se com um ar bastante sério:

- Já fazem quase três horas. Onde estão os meus alunos?

- É isso que eu gostava de descobrir. Posso fazer-lhe algumas perguntas?

- Claro. Não consigo ficar calmo, quero resolver isto o mais rápido possível. Por favor, não hesite. Em 37 anos como diretor, nunca algo tão grave alguma vez aconteceu.

- Eu compreendo. O Sr. conhecia bem o motorista que enviou?

- O do costume adoeceu, não conseguiu vir então a empresa mandou um substituto. Aliás, era uma mulher, algo estranho. Penso que se chamava Angel.

- Certo. Poderia dar-me a morada da tal empresa?

- Com certeza. Por favor, mantenha-me informado.

Com isto, Matteo não demorou a voltar para o seu carro. Um Mercedes C220 CDI. Clássico. Continuando, foi então para o edifício da tal empresa, e quando lá chegou, o gerente confirmou que não existia atualmente nenhum funcionário chamado Angel, muito menos mulher alguma.

- Havia, porém, uma funcionária que cá trabalhou, mas já fizeram quase dois anos. – Disse o gerente a Matteo.

- O que lhe aconteceu? – Perguntou.

- Faleceu, pelo que parece. – Afirmou o gerente. – Causas desconhecidas, nem se soube do paradeiro do corpo. Foi simplesmente dada como desaparecida, e depois deduziu-se.

"Mas que raio, o que é que se está a passar afinal?!", pensou Matteo. O telemóvel toca – Era Berry. O que poderia ser agora?
"A mãe dos putos ligou, os miúdos apareceram! Conseguiste alguma informação sobre o autocarro? Quero que vás a casa deles falar com a senhora."
"Bem, pelo que parece, estamos a lidar com um fantasma. Vou já para lá."

Agora com um novo trajeto, Matteo dirigiu-se assim para a residência dos McCartney. Quando lá chegou foi recebido por uma senhora que teria por volta de 30 anos, baixa, gorda, cabelos longos e ondulados, ruiva de olhos claros que certamente seria a mãe das três crianças.
Matteo e a tal senhora começam a conversa, e ele, indignado, diz:

- Então, a senhora está a dizer que os seus filhos simplesmente apareceram à sua porta, sem mais nem menos?!

- Sim, foi isso mesmo... Não há outra maneira de o explicar. E quando chegaram, vieram com uma conversa muito estranha.

- Como o quê?

- Eles disseram que viram um cadáver no fundo de um poço. Não sei como, pois eles nunca viram sequer um. Não prestei muita atenção, pois no final de contas, eles são apenas crianças. E estou apenas feliz por eles já estarem comigo, sãos e a salvo. – Disse a mulher, com um ar aliviado.

- Então posso falar com os seus filhos, por favor? Talvez eles me possam dizer um pouco mais.

- Claro, venha por aqui. Eles devem estar no quarto de brincar.

A mãe das crianças levou-o até um quarto cheio de brinquedos. Cheio, mas vazio. Não estava lá nenhuma criança, não estava lá ninguém. "Os meus filhos, os meus filhos!" gritava e chorava a senhora.
Matteo rapidamente foi para o carro. "Se eles fugiram, não podem ter ido muito longe."
O telemóvel volta a tocar. É Berry, mais uma vez. "Espero que sejam boas notícias", diz Matteo ao atender. "Isso só saberemos quando lá chegares, Mat. Um comerciante acabou de me informar de que reconheceu as três crianças, pois eram clientes habituais, mas que não responderam quando as chamou. Pensei que elas já estavam em casa."
"E estavam, mas não ficaram por muito tempo. Quando demos por isso já cá não estavam, e estavas tu a ligar-me. Manda-me as indicações. Não te preocupes, estou mesmo a ir."

"Eu sabia" pensou ele. "Estava mesmo a ver que hoje o dia ia ser diferente, mas bolas, ainda não parei por um segundo."







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