Capítulo 3 (Parte II)

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Mas ele apenas se ajoelha, e diz:

- Eu sei. Eu sei, porque eu também passei por isso. Eu também vi a minha família morrer, perder o brilho aos poucos, a esperança. Eu também vi. – E abraçou-a.

Viktoria, ficou chocada por uns segundos, mas logo se deixou levar pelas emoções e abraçou-o de volta, e como se um recém-nascido, chorava com a sua alma.
Após ambos se acalmarem, ela sentia-se muito envergonhada, e como a pessoa orgulhosa que é, decidiu que seria melhor ir-se embora o quanto antes, assim levantando-se e pegando em suas coisas.

- Mas onde é que tu pensas que vais? Não consegues ficar sossegada? – Diz Matteo.

- Eu... Eu não posso ficar aqui, já falei demais.

- Ah, vamos ter calma sendo assim, eu levo-te à esquadra de carro, não tens de ir a pé.

- NÃO! Eu não posso ir presa, eu já te disse! ...Pensei que tinhas ficado sentido com a minha história.

- Sentido? Ah, claro, e fiquei. Mas és uma ladra na mesma, e eu trabalho 'pra policia. Estive a ver o teu histórico criminal – Empreendimento de pequenas quantidades de cocaína e heroína. Passaste alguns dias na cadeia também por pequenos furtos em mercearias e pequenas lojas. Porquê?

Ela fica confusa. – Mas porquê o quê? Eu tinha que sobreviver de alguma maneira...

- Não é isso que eu estou a dizer. – Ele interrompe. – Tu és uma ótima estratega, tu desenhaste um mapa da cidade inteira, com todos os pontos mais movimentados, a que horas abrem todas as lojas, a que horas fecham, todas as estações de comboio, tu até estudaste o clima para saberes quando será mais propenso ir assaltar cada zona. És nova, mas és uma rapariga muito inteligente. Porquê que decidiste ser ladra? - Matteo teria vasculhado os bolsos de Viktoria quando esta estava adormecida.

- Porque é fácil. – Viktoria admite. – Não é difícil para mim adquirir informação, e eu estou constantemente a "mudar de casa", não posso ficar muito tempo no mesmo sitio. E já está na minha hora.

Ela apressa-se e corre para a porta principal, mas Matteo chega lá primeiro, pondo uma mão contra a porta, encostando-a à parede.

- Ouve lá, pirralha. Eu estou a tentar dar-te uma oportunidade. Estou disposto a apagar o teu histórico criminal inteiro, e assim começares uma vida nova, desta vez com um bom rumo. Mas tens de colaborar comigo.

- Eu nem sequer te conheço, meu! Porquê que me queres tanto ajudar? Apesar de tudo, não aceito a tua pena, não sou nenhuma coitadinha!

- Ouve, eu só te quero ajudar.

- Sim, claro, como se pudesses fazer algo por um caso perdido, como eu! – ela irrita-se, partindo um copo com a sua própria mão, sangrando, mas pouco se importando. E com isto, saiu a correr do apartamento.

- VIKTORIA!! – grita Matteo, levantando-se, mas em vão. "Espero que ela volte.", pensou.

Viktoria encontrou Dália no corredor. Elas cruzaram olhares, Dália assim percebendo que a jovem não estava bem, gravemente sangrando da mão. Assim que ela ia a abrir a boca para falar, Viktoria rapidamente se desvia e continua o seu caminho. Dália ficou algo confusa.

O telemóvel de Matteo toca. "Estranho, pensava que o tinha desligado.". Era Berry. "Foda-se! Não vou ao escritório há três dias! Tenho andado mesmo desligado de tudo e todos. É melhor atender rapidamente."

- Berry? Então companheiro, epá desculpa lá...

- Matteo! Cala-te, não temos tempo para conversas. Vou-te mandar um endereço por mensagem, vai já para lá! JÁ!

Matteo nem pensou duas vezes, levantou-se e saiu de casa muito apressadamente, apenas dizendo um breve "Olá" a Dália, deixando-a mais uma vez confusa e pasmada. "Hoje o prédio está muito mexido.", pensou.

Ele chegou à tal destinação. Era uma casa, que aparentava estar normal. Não havia indícios de qualquer tipo de crime. Berry abre a porta da tal casa e dá sinal a Matteo para entrar, e aí ele se depara com algo incrível – Uma divisão completamente limpa, impecável, e um corpo completamente queimado no torso, quase até cinzas, completamente desfeito e irreconhecível.

- Mas... O que é que se passou aqui? – Matteo pergunta, chocado.

- É o que ainda estamos a tentar descobrir. Apenas temos duas testemunhas, e ambos dizem o mesmo – A mulher entrou em súbita combustão – sem dizer uma única palavra enquanto isso.

- Qual é a relação das testemunhas com a vítima?

- O seu filho e o seu marido. Ambos dizem ter apenas visto um clarão enorme, e de repente, lá estava ela em chamas. Pode-se dizer que era uma brasa.

Matteo fica sério. – Berry. Tu não tens piada, nem sabes quando tentar ter. Para com isso. – E saiu da cena do crime, em direção às vítimas.
Chegando ao pé das mesmas, vê que estão ambas aterrorizadas e sem fala. Ele aproxima-se do marido da vítima, parecendo estar mais disposto para falar.

- Boa tarde. Eu sou o detetive da esquadra policial de Brighton, Matteo Alessi. Lamento imenso o que aconteceu com a sua mulher, mas poderia responder a algumas perguntas? Serei breve.

- Claro, claro... O meu nome é Mark Sttafin, vivo apenas com a minha mulher e com o meu filho, mas ele não é filho dela. Nunca tivemos nenhum problema com ninguém... Não percebo como é que algo assim tão bizarro foi acontecer connosco.

- A sua mulher não estava a agir de alguma forma mais estranha? Não deu indícios de algo suspeito?

- Nada de que eu me tenha apercebido, não. Mesmo antes de ela... Enfim, estávamos a ter uma conversa normal, apesar de ela ter dito algo um pouco fora de contexto.

- Fora de contexto? – A atenção de Matteo foi capturada. – O que disse?

- Ela fez um ar assustado e exclamou "Penélope". Não entendi e estava para responder "Quem é a Penélope, meu anjo?" mas não tive tempo... De repente, bem. Foi o que se viu. Nem quero acreditar, ainda há poucas semanas foram os meus pobres sobrinhos, agora a minha mulher...

- Desculpe perguntar, mas mais algum dos seus familiares faleceu?

- Sim, os meus três sobrinhos. Foram encontrados num poço, coitadinhos... Eram umas crianças maravilhosas.

"Não acredito." Matteo pensou. "Não pode ser.... Os...?" – McCartney?!

- Era o apelido deles, sim... O senhor também trabalhou no seu caso?!

- Sim... Desculpe, eu tenho de continuar o meu trabalho agora...

Matteo está completamente perturbado, algo desnorteado até. Como é possível ambos os casos estarem relacionados?! E ambos serem estranhamente bizarros e inexplicáveis. Como irá Matteo resolver este mistério...?







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