Matteo avistou a tal geladaria, onde já estava por fora o gerente, à espera.
- Boa tarde. Foi você quem ligou para a esquadra?
- Fui sim. O meu nome é Hal Smith. Já trabalho aqui há algum tempo, e os McCartney vem cá muitas vezes, conheço os meninos bem. Estranhei vê-los sozinhos na rua, já que não estão propriamente perto de casa. Soube que eles estavam desaparecidos pois na vila não se fala de outra coisa, pois as restantes crianças que estavam dentro do autocarro com os pequenos já regressaram às suas famílias.
- Não fui informado disso, mas agora não interessa, são boas notícias. Sabe-me dizer para onde as crianças se dirigiam?
- Pareciam-me ir em direção da Praça Pública, tenho quase a certeza.
Assim que o sr. Smith acabou a frase, um homem desata a correr de dentro da geladaria, até estar o mais longe possível de Matteo. Percebendo que algo não estava certo, correu atrás do homem. Conseguiu o apanhar por o detetive ter dotes de atleta, encostou-o contra o chão, agarrou as mãos do suspeito contra as suas costa e disse:
- Tem o direito de permanecer em silêncio. Agora já não vais a lado nenhum, amigo.
Matteo ligou a Berry, dando-lhe as indicações de onde estava e de que tinha um presente para ele. "É bom que não estejas a fazer uma gracinha comigo, Mat.". Típico.
Assim que ele chegou, Berry olhou para Matteo, e depois para o suspeito e franzio o sobreolho. "Surpresa.", disse o detetive para o inspetor.
Dirigiram-se para a esquadra, enquanto o inspetor ligava a pedir reforços para irem inspecionar a Praça.
Chegando ao escritório, começaram o interrogatório.- O senhor gosta de correr?
- Não.
- Então é porque tem algo a nos dizer. Pode começar.
- Não sei de nada, asserio. – Ele gaguejava, e hesitava a cada palavra. – Eu só estava a...
- Só estava a fazer o quê? Acabou de me dizer que não gosta de correr.
Berry dá uma pequena estalada na nuca de Matteo, como se dissesse "Leva isto asserio, pá!"
- Ouça, - Começou Berry. – Nós estamos do seu lado. Acreditamos que não tenha feito nada de mal, mas precisamos que nos diga o que sabe. A vida de três crianças está em risco, e o senhor é o único suspeito que temos no momento. Sabe o que isso implica, correto?
O homem estava a suar. Era claro que não era bom a mentir, nem a aguentar muita pressão. E o inspetor sabia como manipular isso.
- Muito bem, eu digo o que sei. Eu vi... Eu vi... Eu não sei o que era. Parecia ser uma figura alta, esguia. Parecia ser uma mulher, mas não era humano. Eu sei que não vão acreditar em mim. Estava toda de preto, a brincar com as crianças num descampado, com um poço perto. Elas também não pareciam estar em si.
- Viu mais alguma coisa? – Disse Matteo, com um ar sério de quem realmente está a acreditar.
Um telemóvel toca, era o de Berry. Ele atende, e rapidamente fica com um ar muito sério, e olha para Matteo como quem diz "Está na hora de irmos, a bomba rebentou."
Dirigiram-se então para a Praça, como lhes foi indicado. Quando lá chegaram, saíram do carro e separaram-se. Ao início, não encontraram nada de suspeito, até que Berry avista algo e avisa Matteo e os restantes.
- Ei. Vejam isto.
Berry aponta para uma estátua que serve de emblema para a vila. O detetive repara num graffiti que está lá escrito, e lê "Quem pôs o anjo no poço?"
Matteo já sabia. Ele percebeu tudo. "Angel.", diz ele, tirando os óculos de sol como se em camara lenta, num tom quase irritado.- Eu sabia! Fogo, eu já devia ter percebido mais cedo! – Dizia o detetive para o inspetor, já nas instalações da esquadra policial.
- Não, não sabias Mat. Ninguém sabia, e nós ainda nem conseguimos explicar este fenómeno. Estamos a lidar com algo novo.
- Estamos a lidar com o sobrenatural, essa é que é essa. Algo que nunca vimos antes, algo que nunca se estaria à espera – a acontecer mesmo à frente dos nossos olhos. Eu devia estar à espera.
- O homem que interrogamos antes tinha razão, temos que ir ao tal descampado inspecionar o poço. Se o graffiti estiver certo, já vai ser o segundo presente hoje. – Berry levou a mão à cabeça, com um suspiro. O dia parecia que nunca mais iria acabar.
- Sente-te sortudo, Berry. Nós queríamos isto. Já estava a faltar trabalho aqui nas zonas de Brighton, e isto é apenas uma pequena vila de muitas. Há que ter cuidado com o que se deseja. – Matteo sorriu.
- Ora, agora falaste bem, companheiro. 'Tás doente? – Berry riu.
- Ha-ha, muito engraçado.
Berry e Matteo não se demoraram e em pouco tempo chegaram ao descampado. Eram agora dez da noite, e já não havia quase ninguém na rua. Encontraram o tal poço, e aproximaram-se dele. Matteo tirou uma lanterna do bolso e mandou para Berry, que por pouco não deixou cair.
- Porquê eu?
- Senhoras primeiro. – Matteo riu.
Berry, com um revirar dos olhos, apontou a lanterna para o fundo do poço. Ambos ficaram horrorizados com a visão terrorífica que tiveram.
O que encontraram não era um, mas sim quatro corpos, derramados no fundo do poço. Chamaram reforços e a equipa forense para o local, que identificaram três dos quatro corpos. Eram realmente os três irmãos, até então desaparecidos. No que consta ao quarto corpo, permaneceu um mistério. Tudo o que se conseguiu deduzir foi que era uma jovem, morta já há pelo menos dois anos.
As autoridades, ao voltarem para a esquadra, passaram pela Praça Publica mais uma vez, e ao olharem para a estátua, conferiram que o tal graffiti foi alterado. Lia-se, agora "Quem pôs as crianças entre os anjos?".
Caso encerrado. Não havia mais que se pudesse fazer em relação ao caso. O quarto corpo permaneceu na morgue, na esperança de poder ser um dia identificado, e os três meninos enterrados na tristeza de sua mãe.
Mas Matteo sabia melhor. Ele sabia que não foi nenhum acaso, e que o quarto corpo foi sujeito a algum tipo de força sobrenatural, algum tipo de magia. E ele estava disposto a descobrir mais.Ao chegar perto da porta do seu apartamento, estava uma senhora que costumava fazer a limpeza do prédio:
- Boa noite, Sr. Detetive. Dia agitado? Parece cansado. - Disse ela com um sorriso. Ela é bonita.
- Boa noite, D.Dália. Sim, bastante. Já só penso na minha cama.
Ela riu-se. – Por favor, trate-me só por Dália. Devo ser um ou dois anos mais nova que o senhor.
- Nesse caso, trata-me tu também pelo meu nome. Chamo-me Matteo.
- Prazer, Matteo. – Disse Dália, e despediu-se com um simples sorriso.
Matteo entra em casa. Já estava a ver tudo desfocado, não aguentava mais o sono. Olhou para o relógio, que dizia 01h23. "Olha que giro, e amanhã estou eu a acordar às 8h mais uma vez." Rebolou para o outro lado, e pensou "Algo mudou. Algo me diz que os casos nunca mais vão ser sobre pequenos roubos, ou pequenos crimes. Isto acabou de ficar mais interessante".
Perdido nos seus pensamentos, Matteo adormeceu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Mistérios de Matteo
Mystery / ThrillerBrighton nunca esteve mais agitada. Matteo Alessi, um detetive prestigiado finalmente encontra a sua tão desejada ação, quando um desaparecimento bizarro e um corpo fantasma aparecem na sua vida. Acontecimentos sobrenaturais acontecem continuamente...