Capítulo 4 (Parte I)

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Euthanasia

Matteo retira-se do local onde se sucedeu a misteriosa morte e decide pagar uma visita à residência dos McCartney.
Por azar, ou talvez, coincidência, o seu carro foi abaixo. Faltava gasolina, "Foda-se! Não acredito nisto"- e de punho cerrado bateu com força no volante. Com isto, saiu do carro e dirigiu-se para a bagageira, de lá tirou uma espécie de garrafão para poder ir busca-la à bomba mais próxima.

Quando lá chegou foi direto para a caixa, estava lá uma senhora de idade, sua conhecida chamada Cristina, que tinha fama de gostar de homens mais novos. E pode-se dizer que o Matteo fazia, sem dúvida, o seu género.

- Olá bonitão. – "Oh não. Cá vamos nós." pensou ele.

- Boa tarde Dona Cristina, como está? O meu carro foi abaixo a meio do trabalho, vim só reabastecer. 20 euros de gasolina por favor.

- Fica o tempo que quiseres meu amor. – Ela liga uma das bombas - Isto anda tão parado, mas a tua presença agita aqui a menina.

"Menina? Deve estar a pensar que estamos na época do Jurássico, só pode. Eheheh, sou mesmo engraçado." Ele deu uma gargalhada em voz alta, só se apercebendo disso quando voltou a olhar para a idosa.

- Isso é sinal que queres dar uma voltinha, jeitoso? Aqui a Dona Cristina ainda sabe dar no pedal.

Matteo fica enojado, sente o vómito a subir-lhe pela goela, e vai rapidamente buscar a gasolina. Ouve a senhora a chamar-lhe uma última vez.

- Senhor Alessi! Espere... Beijinhos. – A senhora diz isto, numa tentativa de sedução, mostrando agora o seu decote. Ele enche o garrafão, e rapidamente volta para o carro.

Agora, de novo a caminho do seu destino, recebe uma chamada. É Berry. Ele rapidamente atende.

- Estou um pouco ocupado Berry.

- Matteo?! Onde estás tu, meu palerma? Sair a correr de uma cena do crime não é teu costume, o que é que se passa?

- Ao falar com o marido da vítima descobri que este caso está relacionado com o dos McCartney. É a cunhada da mãe dos miúdos. Estou agora a ir em direção à casa deles, a ver se ela me pode dar mais alguma informação sobre a... "brasa".

- Lá por agora seres tu a dize-lo não quer dizer que tenha piada, ó chavalo. Concentra-te no trabalho e dá-me noticias assim que as tiveres. – E desliga.

O detetive chega finalmente e o que viu, não era o melhor cenário. Assim que entrou, viu o que parecia ser uma casa quase assombrada, cortinas fechadas, estores para baixo, parecia não ser limpa há semanas, vidros pelo chão, espelhos estilhaçados, e no meio desta confusão, a mãe, tenebrosa e melancólica. Cheia de olheiras, magra e olhos inchados de choro. Cabelos sebosos, e com um odor inadmissível. A mulher estava irreconhecível desde a morte das suas crianças.

- Boa tarde, desculpe aparecer sem avisar... Dona...? Perdão, acho que não apanhei o seu nome desde a última vez...

- Samantha. – saiu uma voz rouca num murmúrio, quase inaudível.

- Certo, certo, Sra. McCartney. Já deve ter ouvido da morte da sua cunhada Ann. Os meus pêsames.

- Por favor, chame-me Samantha. McCartney é o apelido do meu ex-marido. Ele tirou-me tudo, pode muito bem ficar também com o nome.

"Ok... é melhor focar-me no caso por enquanto. Não quero-me afastar do assunto" – Ok, Samantha... Conhecia bem a sua cunhada? – Eles sentam-se nos cadeirões, cobertos de lençóis brancos.

- Ah, sim, Ann. Uma mulher, estranhamente bonita. É quase inexplicável, era linda, mas sinistra. Qualquer coisa nela não parecia estar certo.

- Consegue ser mais específica? – Matteo sente-se no caminho certo.

- A sua pele pálida como a neve, os seus longos cabelos, lisos, pretos como o carvão que faziam contraste com os seus olhos cinzentos. Alta, como uma modelo mas esguia. Não falava muito, por isso não sei o que dizer em relação à sua personalidade, ou mentalidade. Apenas o meu irmão a conhecia de verdade, só com ele se abria.

- Ela e o seu irmão tinham uma boa relação? Eram felizes juntos?

- Sim, daí ser estranho. Qualquer casal discute, todos têm os seus problemas. Mas eles não, sempre com uma postura exemplar, calmos. Até diria que eram abençoados, mas... Enfim.

- Obrigado pela sua colaboração, Samantha. – Matteo levanta-se, preparando-se para sair. – Ah, só mais uma coisa. O nome Penélope diz-lhe algo?

- Penélope? Não tenho ninguém próximo a mim com esse nome... Só mesmo a antiga diretora de turma dos meus... – a mulher hesita – falecidos filhos.

- Ah, a sério? – Matteo está algo intrigado. – E era professora de que disciplina?

- Se bem me lembro, era de ciências. Um pouco estranha, também. Algo... explosiva. – Independentemente do contexto da frase, Samantha permanecia séria, sem qualquer tipo de expressão. Não demonstra qualquer emoção.

Matteo tentou conter ao máximo, e com sucesso, o riso. – Muito obrigada pelo seu depoimento, Samantha. Eu sei que tem sido difícil para si. Desejo-lhe muita sorte.

- Sorte? – Samantha riu. –Claro, é isso. É muita sorte para uma vida. – Respondeu de forma sarcástica,fechando a porta. E não se ouviu mais nenhum som.




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