I - A Criatura das Sombras - Parte 2

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Uma oficial de cabelos curtos estilo chanel entrou na ponte, interrompendo a conversa. Meneou a cabeça, cumprimentando o capitão:

— Permissão para entrar na ponte, senhor.

— Concedida, tenente Sarah.

Cordon olhou-a e ficou paralisado por alguns segundos. Ela tinha a pele alva, olhos castanhos escuros e cabelos claros, quase loiros. O corpo curvilíneo revelava que malhava muito na academia da base. Uma pequena tatuagem enfeitava o seu braço direito, perto da manga de seu uniforme de cor azul marinho. Era a cor da indumentária dos oficiais.

— Nós estávamos conversando sobre como foi importante a colonização de Marte pelos nossos ancestrais — disse o Comandante Henry Fox.

Sarah sorriu, aquiescendo, fitando Cordon. Ele sorriu de volta e deixou o olhar se perder por mais tempo que o normal, encarando-a. O capitão pigarreou para quebrar o clima e o tenente continuou a falar:

— E como está a colônia de Enceladus, senhor?

— Estamos fazendo muito progresso com o mar subterrâneo que descobrimos aqui. Desde que as sondas mostraram que esta lua tinha muita água, o lugar tornou-se o novo alvo da colonização humana. Pena que o ar é irrespirável, por isso estamos demorando, criando as Redomas, com atmosfera artificial, para a nossa sobrevivência. Quando o projeto estiver concluído, poderemos permanecer vivos em qualquer parte do universo.

— Caso conseguíssemos encontrar um lugar semelhante à Terra, teríamos a chance de levar toda a população terráquea que hoje vive em Marte e Enceladus, reconstruindo a vida humana. Sem dúvida, tentaríamos evitar os erros do passado — concluiu Sarah.

— Bom, peço que me deem licença — disse Fox, depois de um momento. — Se quiserem ficar conversando, estejam à vontade. Vou até o novo sistema de reservatórios de água, com alguns oficiais para supervisão — antes de se afastar, ele concluiu. — Meu oficial imediato está terminando de conferir a carga que você trouxe, Cordon. Sarah, mande alojarem a tripulação da nave de transporte para que descansem. Isso inclui o tenente — riu, apontando para Cordon.

— Obrigado, senhor. — Disse o tenente.

O capitão, em seguida, se retirou para continuar o seu trabalho.

Depois de um instante de silêncio, Sarah olhou para Cordon e comentou, insinuando um sorriso:

— Deve estar cansado e com fome... Que tal irmos ao restaurante da base e tomarmos um bom café antes de levá-lo ao alojamento? Nós temos um ótimo por aqui.

— É claro que aceito!

Pouco depois continuavam o assunto, sentados à mesa do restaurante:

— E então, tenente?

— Pode me chamar de Sarah...

— Tudo bem - disse ele, meio sem jeito. — Sarah, como conseguem viver tão longe da colônia de Marte?

— Cordon, aqui é muito parecido com as condições de vida que vocês têm no planeta vermelho. Esta obra segue os modelos que foram edificados em Marte e os engenheiros florestais, geneticistas e biólogos possuem uma vasta experiência na preparação de ambientes sofisticados para a vida humana, como pode ver. O problema maior era a água e este foi um dos motivos principais para a escolha desta lua para a segunda colônia humana. Há um oceano de água aqui que garantirá a nossa sobrevivência — respondeu Sarah, empolgada em falar sobre Enceladus, que agora era o seu lar.

— Ouvi dizer que gêiseres lançam para a superfície deste satélite acinzentado minerais do núcleo sólido, que aos poucos mudam a constituição do solo... — Ela assentiu. — E que os cientistas conseguiram drenar a água para a superfície a fim de tratá-la, tornando-a própria para consumo e também como fonte de energia, visto que conseguiram separar o hidrogênio da água, transformando-o em combustível para gerar energia nuclear...

— Sim. Parece que você está bem informado sobre as condições da nossa colônia. Por falar nisso, os engenheiros descobriram como tornar a água potável e estão por coincidência, a partir de hoje, começando a bombear o líquido precioso de uma nova parte, mais profunda, que descobriram por acaso — disse a tenente, admirada pelo interesse.

— Sei destas coisas por causa das aulas que temos na academia militar. Aprendemos tudo sobre Astrofísica — retrucou, sorrindo.

Ela sorriu de volta.

— Você está sendo modesto, Cordon.

— Que interessante terem descoberto mais água nesta lua. Ouvi dizer que é o lugar com mais água disponível no nosso sistema solar.

A conversa continuou a transcorrer de modo fluido, e eles se divertiam enquanto tomavam café. Cordon olhava a sua colega militar, admirado com sua inteligência e beleza. Eles se divertiam com o bom papo.

***

Longe dali, na parte mais profunda da lua, uma aberração assombrosa abria os olhos. Acordou com o ruído de uma perfuratriz que buscava água. O operador da máquina gigante nem sequer imaginou que, naquele momento, algo completamente desconhecido o observava, de um lugar que, se pudesse vislumbrar, ficaria apavorado.

Ouvindo uma música antiga, o homem estava distraído trabalhando e, ao erguer o braço para alongá-lo, acabou batendo a mão em um parafuso solto, perfurando a carne. Imerso em dor, começou a xingar baixinho, sem preocupar-se com a sutil gota de sangue que esvaiu pelo corte, atingindo a água, despertando na criatura um novo sentido: a fome.

Curiosa, ela se moveu em direção a pequena nódoa vermelha que se misturava à água e absorveu-a rapidamente. Por um momento, o ser, sem forma definida, pareceu vibrar com o novo gosto que acabara de descobrir. E percebeu que queria mais... Para isso, esperou pacientemente a hora de dar o bote.

Analisando o ambiente ao seu redor, viu os dutos recém-instalados, encontrando ali a oportunidade perfeita de procurar uma nova forma de se alimentar.

Passou pelos canos que levavam água ao reservatório da Estação Delta. Seu corpo, gelatinoso, absorvia todos os seres vivos que encontrava pelo caminho, tornando-se maior e mais forte. Parecia uma água-viva, gelatinosa, atraída pelo gosto de sangue humano, através das centenas de receptores das membranas que revestiam a sua derme. Depois de algum tempo, criaturas menores, parecidas com ela, a seguiam, como se ela fosse a rainha. A morte estava chegando, e os habitantes da colônia não tinham ideia do perigo que se aproximava...

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Leia a Duologia #OHomemFantasma de #ChaieneSantos

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