Capítulo 1 - She Never Die

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                                                                    O silencio é um espião.

                                                                           - Mario Quintana


Camila havia permanecido estacionada pela última meia hora na esquina da Seven Avenue com a Broadway preenchendo suas palavras cruzadas favoritas e chamuscando o plástico do painel com a ponta ainda acesa do cigarro. Ela havia dito que não estava puta com Harry aquela manhã, mas havia sido da boca pra fora, por isso não podia se importar menos pelo estrago que havia acabado de fazer no carro do seu parceiro.

O sino da Igreja Pentecostal do lado oposto a esquina badalou oito vezes como se fosse seu alarme para levantar e ir ao trabalho. Checou seu ponto eletrônico e como estava seu batom e cabelo no espelho retrovisor, bateu a porta com força e desceu a rua com seu casaco de pele nos ombros. A distância de onde havia aguardado até o restaurante era pouco menos que duas ruas em cima daqueles saltos desconfortáveis, mas ela desfilou pela calçada como se fosse uma angel da Victoria's Secret e não tivesse meio quilo de munição e uma K-40 semi automática escondidos na cinta liga de couro embaixo de seu vestido de seda.

Camila não era uma mulher com uma beleza comum, suas curvas eram selvagens, os tons de seus cachos escuros reluziam como a beleza negra da noite americana e seu sorriso, apesar de raro, era tão letal, quanto, um lança chamas. Para muitos era apenas uma noite comum de quinta-feira, enquanto, para ela, era uma noite comum para colocar uma arma na cabeça de alguém.

O seu alvo de hoje era outro estelionatário da bolsa que havia lavado dinheiro em todos os bancos da Suíça até a América. E desta vez Troy havia sido bem especifico sobre o quão importante era fazer com que ele não chegasse tão machucado quanto o ultimo que tentou fugir (talvez por ser a mulher do mesmo que estava pagando sua captura e só o queria na cadeia, não todo ferrado) mesmo assim, ela achava preferível andar com toda a munição necessária caso houvesse algum evento extraordinário ao planejado.

As portas do Daniel Boulund abriram-se para um saguão decorado por carpetes europeus de um vermelho bem vivo que se estendiam aos seus pês após ela mal ter posto seus saltos Charlotte Olympia frente à elas. Seu sorriso arrogante se desenhou lentamente por seus lábios: era hora de atuar. Instantaneamente o elevador principal se abriu e o metre a anunciou na mesa com a reserva no nome de Austin Carter.

Camila o observou atentamente antes de se pronunciar imaginado com diversão qual seria a reação dele caso contasse que a CAP, a divisão paramilitar de espionagem americana com fins de proteção ao patrimônio (o que aos moldes simplificados seria uma espécie FBI que poderia fazer todo o trabalho sujo que o governo não poderia) era responsável pela prisão dele aquela noite.

O rapaz sorriu, levantou-se de seu lugar e quase travou ao tentar falar o que a deixou gargalhando por dentro. Era mais fácil prender amadores.

– Você é Karla?

– E você é o Austin?

Eles se cumprimentaram com um aperto de mão casual enquanto o rapaz com sorriso de galã de cinema lhe fintava bastante impressionado. Ele vestia um terno branco sem gravata e tentava passar um ar sofisticado europeu, mas Camila não precisava ter lido sua ficha para saber que aquele sotaque de inglês britânico fajuto era do Texas.

– Parece bem aliviado.

O rapaz pareceu sem saber o que fazer por um tempo então optou por esconder seu nervosismo com um gesto cavalheiro e puxou a cadeira dela antes de voltar ao seu lugar. Ao menos era um bandido de boas maneiras.

Agente CabelloOnde histórias criam vida. Descubra agora