Capítulo 6 - Lucy Vives

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Camila fechou sua bolsa de mão, após um leve retoque na maquiagem, para mais uma vez checar seu visual no imenso espelho de folhagem dupla que dividia a parede. Ela jogou sua franja para trás checando o caimento impecável de seu cabelo ao redor de seu rosto e mordeu o lábio inferior como era de praxe. Seus pés ainda se mantinham bem equilibrados dentro daquele par desconfortável de sapatos novos, o que a fazia agradecer mentalmente aos deuses por mantê-los livres das marcas e machucados. Claro que ela queria poder dizer o mesmo de sua coxa esquerda.

Graças a Jauregui e suas unhas malignamente afiadas uma marca semicircular de cinco riscos fortes e vermelhos ficou gravada na sua pele, o que por muito pouco ainda conseguiu ser encoberta pela barra curta de seu vestido. No entanto, mesmo que eles permanecessem escondidos ainda dava para sentir muito bem. A filha da mãe não tinha outra forma de chamar sua atenção, não?

E enquanto amaldiçoava até a quinta geração de Lauren, Camila já planejava – o que havia se tornado até comum dentro daquela lógica de vinganças multas que elas viviam – de que forma faria para também enfiar suas unhas pela pele branca e imaculada de sua parceira nem que fosse apenas para provar o tamanho do estrago que também era capaz de fazer com os dedos (ignorando a óbvia conotação sexual que a coisa toda tinha).

– Pronta, Karla? – Jauregui disse ao entrar no banheiro feminino. A agente do FBI a surpreendeu aparecendo bem ao seu lado e escorando seu quadril direito no balcão de mármore. Ela mantinha os braços cruzados e um sorriso artificial demais para se acreditar. Estava praticamente estampado na sua cara como ela estava tensa com todas as mais recentes descobertas daquela noite.

Camila não precisava ser vidente, ou lá muito intima de Lauren, para saber que o que a estava preocupando e por tabela a fazendo ficar nervosa eram um resultado direito do peso extra que Lucy Vives havia acrescentado à missão como um todo. Se os seus departamentos já não queriam permitir falhas dentro daquele caso para conseguirem capturar Bishop (que apesar da ficha carregada ainda estava bem mais limpo com o resto do mundo que Vives) sequer queria imaginar o tamanho da apresentação de slides que Troy teria sobre não deixar Lucy escapar.

Para começar aquela mulher em si era um completo mistério. Camila sabia muito pouco além das informações superficiais que circulavam pelos corredores da agência assim como o emaranhado de rumores sobre ela ter sido marcada pelo FBI e CAP após trabalhar dentro do governo americano e cometer traição. Dizia-se que ela era a responsável pelo maior furo de informação bélica que os EUA já havia sofrido desde a guerra fria e que graças ao material que conseguiu roubar foi capaz de recriar um dos maiores carteis de armas ilegais do mundo bem debaixo da administração do governo Bush.

A tatuagem de uma serpente vermelha no pescoço era a marca da organização criminosa que a tinha feito encabeçar diversas listas com os criminosos mais procurados pelo serviço secreto americano e a Interpol transformado sua captura alvo de uma recompensa de quase 2,1 milhões de dólares. O que era o bastante para animar qualquer agente de campo com um contracheque de duzentos mil anuais.

E embora fosse empolgante ter um alvo daquela magnitude praticamente esbarrando no caso delas não podiam em qualquer hipótese desviar do foco principal ali. Tinham de relembrar que aquela missão era sobre Bishop e caso não conseguissem identificar qualquer ligação entre os dois, avisariam o ocorrido a central pela linha segura do hotel e voltariam aos seus papéis originais. Resumindo: aquilo só diria respeito a elas se envolvessem seu alvo, do contrário, era problema de seus superiores. Não tinham por que triplicarem a responsabilidade sobre os próprios ombros sem motivo.

Por hora a preocupação era encontrar Wesley Stromberg.

– Eu sempre estou pronta, baby. – respondeu Camila recolhendo a bolsa do balcão. – E pelo amor da virgem não fique com essa postura toda pesada. – Completou a latina jogando sua franja outra vez para trás enquanto encurtava a distância entre seu corpo e o de sua esposa falsa para conseguir falar com um volume mais baixo e discreto.

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