Confusões de uma Nerd [DEGUSTAÇÃO]

c a p í t u l o 1

Observo o cursor do Word piscar com a página completamente em branco. Ao passo em que tamborilo meus dedos na mesa, ouvindo o ruído das minhas unhas pintadas de azul baterem sobre a superfície.

Irritada com a minha enorme falta de concentração, fecho os meus olhos, como se pudesse buscar alguma inspiração divina para escrever minha coluna mensal. Entretanto, para piorar a situação, apenas a imagem de um par de olhos azuis me vem à mente.

Eu xingo mentalmente e volto a abrir os olhos.

Depois de esbarrar com aquele desconhecido do táxi, a minha inspiração desapareceu por completo, e como isso já passa de uma semana, devo confessar que estou com sérios problemas!

Pego um bloquinho de rascunho e uma caneta que, involuntariamente, levo à boca. Apesar de consciente do quanto isso é anti-higiênico, mastigar canetas é um dos meus tiques nervosos.

Frustrada por quebrar a cabeça e não sair do lugar, solto um suspiro cansado. Afasto-me da mesa e encosto as costas na cadeira, passando a observar a agitação do restante da redação, onde todos correm contra o tempo. O som de teclados de computadores preenche os meus ouvidos. Enquanto ramais tocam aleatoriamente. Uma típica manhã de trabalho.

Trabalhamos em cerca de vinte jornalistas, adaptados em mesas separadas por divisórias. Cada um sendo responsável por uma coluna diferente da The Secret, uma revista impressa e eletrônica voltada para o público feminino.

A Editora Price, além da revista, também publica uma infinidade de livros de diversos assuntos e temas. Confesso que, quando me inscrevi para a vaga de colunista alguns meses atrás, eu esperava que o cargo pudesse ser um trampolim, levando-me a trabalhar diretamente com os manuscritos. Todavia, não foi bem isso o que aconteceu. Assim, enquanto não me aparece nada melhor, eu tento me contentar com o salário baixo que paga minhas despesas mais básicas.

Balançando minha cadeira de rodinhas de um lado para o outro, prendo minha atenção à mesa de Susanne, notando o quanto ela parece cansada e atarefada. Seus cabelos castanhos levemente avermelhados, sempre tão impecáveis, parecem um pouco volumosos demais. Provavelmente, porque ela não para de passar suas mãos sobre os fios, num gesto claro de impaciência. Vê-la despenteada soa mais estranho do que parece. Uma vez que ela é a responsável pela coluna de maquiagem e que está sempre muito bem apresentável.

Ainda me lembro do meu primeiro dia na redação, no instante em que a ruiva linda e extremamente produzida se aproximou e se apresentou com um sorriso cordial. Eu, que me sentia tão perdida e nervosa, relaxei quase que instantaneamente, diante da sua simpatia tão contagiante. Não é surpresa nenhuma que em tão pouco tempo Susanne tenha se tornado uma grande amiga.

Transfiro meu olhar para a divisória ao seu lado e vejo Stephanie levantar-se e caminhar até a máquina de xerox. Ela joga seus cabelos castanhos claros de cachos perfeitos e rebola os quadris, numa tentativa descarada de chamar a atenção do sexo masculino. Enquanto observo seu corpo magro e esguio dentro de um vestido tubinho azul-marinho, me parece impossível não associa-la com a sua coluna: dietas.