Confusões de uma Nerd [DEGUSTAÇÃO]

p r ó l o g o

Acelerando os passos na calçada movimentada da cidade, Louise Clark se repreende mentalmente por ter sucumbido à insistência de Daphne Anderson em acompanha-la à academia. A melhor amiga, que sempre fora do tipo fitness com um corpo esguio e escultural, estava sempre tentando arrasta-la para a prática de exercícios físicos, ainda que essa nunca tenha sido a verdadeira praia de Louise. Todavia, contrariando todas as expectativas, os exercícios de musculação de hoje até que não haviam sido de todo ruim. Ademais, se Daph não tivesse insistido em jogar charme para cima do personal, ela não estaria tão atrasada para trabalhar.

Era bom para ela aprender a não aceitar mais a carona da amiga. Afinal, fora justamente para ter mais independência que havia comprado o seu Chevette 1988, não fora?

Se pelo menos aquela lata velha não lhe deixasse tanto na mão... Suspirou, aborrecida.

Para ajudar, o dia estava demasiadamente nublado, como se o céu pudesse despencar a qualquer momento. Isso sem mencionar que também precisava passar numa cafeteria e comprar o café da sua chefe. Posto que chegar à redação sem aquela maldita bebida fumegante seria considerado algo imperdoável para o Diabo Loiro de Saia.

Nada contra a bebida, até mesmo porque Lou também era viciada no líquido escuro. O problema era excepcionalmente a sua chefe, extremamente mal-humorada e exigente.

Rezando para conseguir chegar à empresa antes da Filha do Demo, a mulher com aparência de nerd pragueja alto ao avistar a fila gigantesca do estabelecimento, como se toda a cidade tivesse decidido comprar café ao mesmo tempo.

Se fosse um pouco mais audaciosa, tiraria proveito do fato de estar alguns quilinhos acima do peso, fingindo uma gravidez para passar na fila preferencial do caixa. Entretanto, seu bom senso não lhe permite utilizar disso para burlar uma fila de espera.

Para ajudar, ao sair da cafeteria mais atrasada do que nunca, ela é surpreendida por pingos grossos caindo das nuvens pesadas.

Lou sempre odiou pegar chuva na rua, pois as lentes dos óculos de grau costumam ficar completamente embaçadas. Infelizmente, ela não pode se livrar deles tão cedo, visto que a cirurgia para correção da miopia é muito cara e o seu convênio médico na Editora Price ainda possui carência para alguns serviços.

— Ai, minha Nossa Senhora das Funcionárias Azaradas, será que ainda tem como piorar? — reclama em voz alta, sem se importar em parecer uma malucar falando sozinha.

Enquanto corre com a bandeja de isopor e tenta equilibrar a bolsa de ombro, ela procura por um táxi, sentindo as pernas latejarem com o esforço físico, consequência do treino pesado submetido pelo personal pouco tempo atrás.

Para sua alegria, rapidamente um dos carros amarelos entra em seu campo de visão. Tão logo faz o sinal com a mão livre, o motorista para rente a calçada. Pensando que talvez sua prece tivesse sido ouvida, Lou abre a porta e se joga no banco traseiro, ao mesmo tempo em que um homem entra pelo lado oposto.