Confusões de uma Nerd [DEGUSTAÇÃO]

c a p í t u l o 6

Durante as horas seguintes, eu me perco naquelas linhas de letras pequenas. A extensão do contrato e as cláusulas mais do que óbvias não deixam dúvidas de que meu chefe é um homem com sérios problemas de confiança, posto que a maior parte de suas exigências diz respeito às informações sigilosas da administração e das negociações que serão realizadas durante a sua gestão.

Continuo lendo o contrato até que me deparo com algo extremamente intrigante: sigilo sobre as condições da herança deixada por Anthony Price, sigilo sobre a vida pessoal de Dexter Price e sigilo sobre quaisquer assuntos que coloquem em risco seus planos de permanecer na presidência da empresa.

Mas o que há de tão importante sobre a herança deixada por seu pai? O que há de tão restrito em sua vida pessoal? E por que eu tentaria prejudicar sua permanência na presidência? Ou melhor, como eu poderia prejudica-lo, sendo uma simples funcionária que apenas teme em perder seu emprego?

Tudo se torna tão confuso e, ao mesmo tempo, tão curioso que após terminar a leitura eu me pego refletindo sobre toda e qualquer probabilidade. Solto a caneta sobre a mesa e fecho meus olhos, esticando meu corpo na cadeira e alongando meus braços para cima.

Por um instante tenho a nítida impressão de estar sendo observada. Torno a abrir os olhos e faço uma varredura pela sala, exclamando um grito agudo e quase caindo da cadeira ao avistar meu chefe parado ao lado da porta.

— Pelo amor de Deus! Você quer me matar de susto para não precisar mais me demitir? — falo de maneira impulsiva, colocando a mão sobre o coração.

Logo em seguida percebo que meu tom fora demasiado rude e que isto sim poderá custar a minha demissão. Já estou prestes a me desculpar pela milionésima vez, no instante em que sou surpreendida com um ataque de riso. A gargalhada de Dexter me pega tão de surpresa que minha reação imediata é acompanha-lo e rir feito uma hiena também.

Finalmente quando conseguimos nos acalmar e cessar nosso riso, sou preenchida por uma enorme sensação de satisfação. Afinal, desde que nos conhecemos, esta foi a primeira vez que tivemos um momento descontraído.

— Desculpe, eu não pretendia assusta-la. Você estava tão concentrada que eu não quis interrompê-la.

Como é? Dexter Price acaba de me pedir desculpas? Para tudo!

— O senhor estava aqui há muito tempo?

— Um pouco. — ele se aproxima e se senta à minha frente, colocando uma sacola de papel pardo sobre a mesa e me fitando daquele jeito intenso que me deixa desconcertada. — Eu trouxe o seu almoço.

— Mas ainda são... — pretendo argumentar que ainda tenho tempo para buscar um lanche rápido antes da nossa reunião, porém vejo no relógio que já são 13h03m. — Oh, perdi por completo a noção do tempo...

— Eu sei. Por isso eu trouxe sua comida. Coma. — ordena.

— Mas como sabe que eu não almocei?