Confusões de uma Nerd [DEGUSTAÇÃO]

c a p í t u l o 4

Minha manhã na revista The Secret havia sido um verdadeiro caos. Como se não bastassem as humilhações e as ameaças sofridas pelo Diabo Loiro de Saia, recebi a revelação bombástica de que o desconhecido do táxi era seu primogênito. O mesmo homem que me salvou de uma demissão e que agora também é o meu novo chefe. Ademais, eu não faço a menor ideia do que esperar em relação ao meu futuro profissional. Estou me sentindo ansiosa, tensa e seriamente preocupada.

Portanto, não. Eu não preciso acrescentar ao meu dia extremamente estressante, uma chamada desagradável — e provavelmente desnecessária — com a víbora da minha irmã.

Sem um pingo de remorso, ignoro a ligação e coloco o celular no modo silencioso. Conhecendo Emily como conheço, estou certa que ela insistirá incansavelmente.

No caminho para a casa de abrigo passo numa livraria e compro uma coleção de livros infantis.

Após passar pela recepção da instituição coloco meu crachá de visitante e caminho até o pátio, onde pelo menos uma dezena de crianças na faixa etária entre quatro e oito anos instantaneamente se aglomera ao meu redor.

— Tia Lou, qual será a história de hoje? — Sayuri, uma menina asiática de cinco anos, me pergunta.

— O que vocês acham do Pinóquio? — sugiro. As crianças mais novas comemoram, ao passo em que as mais velhas reclamam. — Eu sei que a maioria já conhece, mas a história do Pinóquio nos passa uma mensagem tão importante que eu acredito que vale a pena recordarmos. E então? — sorrio sugestivamente, tentando convencer os reclamões.

Eu me sento no chão do pátio e todos me acompanham, sentando-se em círculo. Noto que os menores fazem questão de se acomodarem ao meu lado e sorrio.

— A mensagem é sobre não mentir, não é, Lou? — Benjamin, um garoto negro de sete anos, indaga.

— Isso mesmo, Ben! A história do Pinóquio também nos mostra que basta termos coragem, bondade e honestidade em nossos corações para conquistarmos tudo o que quisermos no mundo!

— Será que um dia a gente também vai encontrar um pai ou uma mãe, igual o Pinóquio? — o comentário de Ryan me desarma.

Olho para o garoto loiro de quatro anos, comovida com a pergunta e insegura quanto ao que responder, pois não posso dar falsas esperanças a essas crianças órfãs. Assim como também não posso destruir a esperança de cada uma delas.

— Affff! Deixa de ser burro, Ryan! — Alyssa debocha, captando a atenção da turma toda. Ela é uma menina ruiva com pequenas sardinhas espalhadas pelo rosto e com ideias muito avançadas para seus cinco anos.

— Aly! Não fale assim com seu colega! — advirto com seriedade.

A garotinha de olhos castanho-esverdeados exala o ar, frustrada.