Mathew puxava meu cabelo para trás, evitando que ele caísse sobre a testa impedindo minha visão, enquanto eu agarrava com as duas mãos a beirada do vaso sanitário e forçava minha cabeça pra dentro dele, sentindo meu estômago se contrair e empurrar o que estivesse dentro de mim pela minha garganta que já estava em chamas. Nunca tinha passado por isso com Mathew, e agora eu estava sem camisa, sentindo o odor de vômito que me deixava mais enjoado, e sentindo a mão macia dele que percorria pelas minhas costas.
- Devagar, Shawn. - dizia ele - Não force muito.
Vomitava.
- Isso. Agora respira.
Ânsia. Refluxo. Vomito. Respira. Refluxo.
- Ai... Tá... Doendo muito. - falava.
- Eu sei. Fica calmo.
Mathew pegou um pano úmido que estava do seu lado e passou em meu rosto e em minha boca, abaixou a tampa do vaso e deu descarga. Me fez encostar a cabeça em suas pernas e me deitar no chão, enquanto assoprava de leve meu rosto.
- Está melhor? - perguntou ele. Assenti com a cabeça.
Respirei fundo e encarei os olhos caramelados dele.
Algumas horas antes, estávamos no meu quarto, sentados no carpete, encarando um ao outro.
Ele tinha trazido uma caixa de donuts com cobertura de chocolate e morango, junto com um sorriso. E comemos metade deles, enquanto falávamos sobre a escola, sobre as matérias, sobre Mike que encarava Mathew às vezes no intervalo, e sobre o que meu pai havia dito de manhã. Ele tentou me passar alguns ensinamentos da semana que acabara, e o que ainda estava fresco em sua memória.
- Sobre matemática... Estamos revisando os conceitos sobre progressão aritmética, você sabe, a gente já viu isso. Lembra?
- Tem a ver com semelhança entre triângulos? - questionei, com um certo tom de desafio na voz.
- Pelo jeito você não lembra. - zombou ele. - É conhecida como P.A., querido. Vamos pesquisar algumas coisas aqui na internet pra relembrar.
Ficamos um bom tempo falando sobre números, genética, álgebra, e tudo que eu havia perdido na sexta-feira. Minha mente começou a difundir-se entre a escola e os deveres, e o momento em que eu não poderia evitar de voltar para lá, comecei a pensar na morte de Gellenberg, na alma do Sr. Adam Gellenberg, e minha cabeça começou a latejar.
- Shawn, você está bem? - indagou Mathew.
Não respondi, apenas me levantei e apertei minha têmporas com o polegar e o indicador numa tentativa de massageá-las. Mathew se levantou junto comigo, preocupado.
- Shawn?
Eu o ignorei. Sua voz era uma pontada em meu cérebro.
- Me responde. O que houve?
- Fique quieto! - gritei, me afastando alguns passos, ainda com as mãos em meu rosto, me curvando levemente para baixo.
Ele calou-se.
- Eu não quero voltar pra aquela escola. Não quero ter que olhar para a cara do Mike. - exclamava eu. - Não quero mais sofrer.
- Você não precisa voltar... - tentava acalmar-me, se aproximando.
- Não minta pra mim! - me ajoelhei no chão e comecei a chorar. - Eu não aguento mais, Mathew.
Ele se abaixou, e passou a mão em meus cabelos.
- Vai ficar tudo bem.
Meu choro não parou. Pelo contrário, ficou mais forte, e veio com soluços e pontadas, que me fizeram contrair o diafragma, perdendo a fala e um pouco do ar.
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S.L.M (Romance Gay)
Fiksi RemajaInseguro e temeroso de que poderia ser atingido por diversas situações, em que sua mente pode se tornar cada vez mais abalada, Shawn decide passar por cima de sua bipolaridade para tentar uma mudança maior na relação que tem com seu velho amigo de i...