Capítulo II

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Odeio ser desmancha-prazeres — Tyler comentou em voz baixa de modo que apenas Emily pudesse ouvi-lo —, mas temos de levar isso? — e apontou para os objetos de plástico que Helga carregava no velho carrinho de compras.

— É claro que sim — Emily respondeu com firmeza. — Esses são todos os bens que ela possui.

— Mas... — Odiava a idéia de enfiar todo àquele lixo malcheiroso no porta-malas de seu automóvel. — Tenho uma infinidade de objetos de plástico em minha casa, todos novos e limpos. Ela pode ficar com todos, se quiser.

— Não seria a mesma coisa.

É claro que não. Tinha uma sogra há menos de dez mi­nutos e ela já estava ameaçando enlouquecê-lo.

— Bem, vamos lá — Tyler murmurou, preparando-se para acomodar todo o lixo de Helga no porta-malas.

— Ei, cuidado com minhas coisas, seu cabeça-oca! Nem pense em estragar alguma coisa!

— Oh, eu nem sonharia com isso — ele respondeu mal-humorado. Estava começando a suspeitar de que havia co­metido o segundo grande engano do dia. Seria capaz de ensinar essa maluca a falar como uma mulher decente? Tivera uma infância difícil, praticamente uma criança de rua, mas chegara ao topo graças à própria inteligência e ambição. Poderia encontrar as mesmas qualidades nesse estranho trio?

Não tinha importância. A única coisa que importava era tirar Roxanne de seu caminho. Estava desesperado a ponto de acreditar que essa farsa funcionaria.

Terminada a odiosa tarefa, Tyler limpou as mãos na calça e virou-se para Emily.

— Pronto — anunciou. — Onde estão suas coisas? Emily o surpreendeu com a beleza de seu sorriso. Apesar da sujeira e do cansaço, algo nessa mulher sugeria classe. Estranho como uma mendiga de beira de estrada podia ter mais classe num dedo da mão do que Roxanne em todo o corpo.

Segurando um caderno espiral numa das mãos e a mão da garotinha na outra, ela respondeu:

— Essas são minhas coisas.

— Só isso? — Como alguém conseguia sobreviver tendo apenas um caderno? E para que precisava daquilo?

— Sim, só isso. Estamos prontas para ir.

Ela sorriu novamente, ajeitou os cabelos sujos e a roupa amarrotada, e Tyler ficou surpreso com a elegância de seus gestos. Adoraria saber como Emily se tornara uma sem-teto.

Sorrindo, ele anunciou:

— Também estou pronto.

— Então pare de olhar para Emily e ponha seu maldito traseiro no carro! — Helga gritou. — Não temos a noite toda. Ainda tenho de montar acampamento quando chegar­mos a sua casa. Mexa-se! — e, jogando o banco do motorista para a frente, ela acomodou-se no assento traseiro sem fazer cerimônia.

— Vou precisar de algum tempo para me acostumar com sua mãe. — Pior seria convencer Roxanne de que se casara com alguém dessa família.

Emily ajudou Carmen a entrar no carro enquanto respondia:

— Oh, ela não é minha mãe.

— Não?

— Não. E é melhor partirmos de uma vez, porque ela tem muito o que fazer antes do anoitecer.

Tyler entrou no carro e voltou para a estrada movimentada, oh objetos de plástico chacoalhando em seu porta-malas.

Embora estivessem viajando por alguns minutos, para Emily parecia uma eternidade. Por que diabos demoravam tanto a chegar? Tyler dissera que estavam perto.

Esposa Temporária (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora