Capítulo III

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Uma esposa? — Isso mesmo.

Tyler podia dizer que a surpreendera. Sabia como ela sentia-se. Algumas horas antes levantara-se e fora tra­balhar, um homem solteiro e sem maiores preocupações, e voltara para casa com uma nova família, que já come­çava a transformar sua vida bem organizada num verda­deiro, caos.

De repente sua casa havia virado uma bagunça. Helga montara um acampamento num dos quartos e Carmen mal falava seu idioma.

A única esperança de transformar o estranho grupo na família de seus sonhos residia na mulher sentada à sua frente. A mulher que o encarava como se estivesse diante de um lunático.

— Está falando em casamento de verdade?

— Oh, não — ele riu, irritado com seu ar apavorado. Muitas mulheres agarrariam sua proposta sem fazer perguntas! — É só por um final de semana.

— Um final de semana?

— Ou dois.

— Precisa de uma esposa de final de semana?

— Sim, e... bem, provavelmente por alguns dias úteis também.

Tyler estudou o rosto horrorizado, tentando encontrar uma maneira de explicar a situação com alguma delicadeza. Não podia perdê-la agora. Se fosse capaz de convencê-la a ajudá-lo, tinha a sensação de que seria a solução perfeita.

Enquanto o médico examinava Carmen, havia telefonado para um salão de beleza e marcara horários para as três. Com um pouco de sorte, no dia seguinte as três estariam irreconhecíveis.

Pensando bem, nem mesmo a sujeira e os evidentes sinais de cansaço conseguiam esconder a estrutura clássica do ros­to de Emily. Ignorando o medo que via em seus olhos, Tyler respirou fundo e decidiu seguir em frente.

— Na verdade, eu... O telefone tocou. Maldição!

Sorrindo, Tyler explicou:

— É o telefone do escritório, o que significa que o assunto é relativo ao meu trabalho. Talvez demore um pouco, mas quero que sinta-se em casa. Voltarei assim que terminar.

Afirmando com a cabeça, Emily o viu sair da cozinha. Queria que fosse sua esposa neste final de semana? E no próximo? E nos dias entre os dois? O que isso significava? Arrepiando-se com os horríveis pensamentos que passavam por sua cabeça, levantou-se e subiu a escada com passos lentos e hesitantes. Dizia a si mesma que precisava dar uma olhada em Carmen, mas sabia que queria realmente espionar o dono da casa. Se pudesse observar os quartos e os aposentos mais íntimos, talvez conseguisse ter uma idéia de quem, ou o que ele era. Homens normais não pediam em casamento mulheres que encontravam na beira de uma estrada.

Carmen dormia como um anjo. Helga conseguira lavar o rosto e as mãos da garota antes de acomodá-la em sua primeira cama decente. O rosto redondo repousava sobre o travesseiro limpo e perfumado, e sua boca distendia-se num sorriso que falava de belos sonhos.

Atravessando o corredor, Emily encontrou Helga roncan­do sobre a enorme cama de casal do quarto de hóspedes. A barraca que ela construíra, apenas um truque para man­ter as aparências, fora abandonada em favor do colchão firme e limpo.

Agora que sabia que Tyler era um maluco, tinha certeza de que no dia seguinte estariam novamente na rua, e isso partia seu coração. Apesar de ele ainda não ter se mos­trado perigoso, não poderia arriscar. Fechando a porta sem fazer barulho, Emily atravessou o corredor tentando imaginar onde poderia encontrar pistas sobre o caráter do dono da casa. Estava pensando seriamente em entre­gá-lo às autoridades.

A suíte principal parecia o lugar mais lógico para começar.

O quarto amplo e arejado tinha aquele ar de recém-habitado. Caixas vazias estavam empilhadas num canto, e os quadros ainda esperavam para serem pendurados nas pa­redes. As janelas precisavam de cortinas, mas já era possível deduzir que, depois de concluído, o quarto ficaria simples­mente fantástico. Portas duplas levavam a uma varanda de onde se podia ver a piscina, e um banheiro moderno e bem equipado completava a suíte confortável.

Esposa Temporária (Completo)Onde histórias criam vida. Descubra agora