Esposa Temporária (Completo)

Capítulo X - Penúltimo

E agora — tio Denny ajustou o mi­crofone e olhou para os participantes do banquete da Connstarr —, quero apresentar o novo presidente do Fundo de Serviços Para a Comunidade da Connstarr Divisão Costa Oeste. Este ano a comunidade apontou os sem-teto como principal problema da região, e o presidente desse comitê é... Tyler Newroth!

Os aplausos estrondosos acompanharam os passos de Ty­ler da mesa ao microfone. Emily o viu penetrar o círculo de luz e erguer as mãos para silenciar a audiência. Tyler estava no comando de um comitê para cuidar dos problemas dos sem-teto? Desde quando? Helga a fitou com ar estupe­fato, incapaz de esconder a alegria provocada pelo que aca­bara de ouvir.

Tyler começou a falar sobre sua causa e Emily tentou concentrar-se em suas palavras.

— Os sem-teto? — Roxanne sussurrou atrás dela, des­viando sua atenção. — Posso ajudá-los com duas palavras: vão trabalhar! — ela comentou, rindo, divertindo os com­panheiros de mesa.

— Não sei por que ele insiste em patrocinar a preguiça — o homem sentado ao lado dela concordou em voz baixa.

— Isso é jogar dinheiro fora. Tenho um pequeno projeto que poderia dobrar esse capital.

— Mas é legal? — Roxanne cochichou.

— Que diferença faz? Quero dizer, acha que a moral da corja a quem vamos entregar essa fortuna é digna de elogios?

— Entendo o que está sugerindo — Roxanne respondeu.

Sem perceber o ódio que iluminava os olhos da mãe de seu empregado favorito, Roxanne continuou conversando com seu companheiro de mesa, rindo e fazendo piadas cruéis sobre os menos favorecidos.

Emily sentiu-se prestes a explodir ao notar que Helga também ouvia os comentários ridículos da chefe de Tyler. Carinhosa, tomou a mão da amiga entre as suas e afagou-a.

— Não dê importância ao que eles dizem, querida. Na verdade, eles não merecem sequer que os escute. Por que não presta atenção no que Tyler está dizendo, em vez de perder tempo com essas pessoas insensíveis e egoístas?

— Tenho um interesse bastante pessoal nessa questão dos sem-teto em nossa comunidade — Tyler dizia. — Co­nheci e aprendi a admirar e respeitar várias pessoas que, por circunstâncias alheias ao seu controle, encontraram-se nessa situação de penúria e humilhação, e por isso posso afirmar que a causa é válida. Dando esse dinheiro aos sem-teto, receberemos um presente valioso e compensador. O presente de saber que, numa pequena medida, conseguimos ajudar pessoas que, eventualmente, podem oferecer muito de suas experiências e de seus corações.

O rosto de Tyler expressava emoção verdadeira, e Emily tinha certeza de que jamais vira outra expressão tão linda. A audiência aplaudia entusiasmada, e ele sorria com um misto de coragem e alegria.

— Obrigado. Agradeço a todos vocês, pois sei que com o trabalho duro de cada um de nós esse projeto será um sucesso.

— Ah! — Roxanne exclamou irritada, atraindo olhares surpresos e cheios de censura.

— Também gostaria de agradecer minha adorável esposa e minha encantadora mãe, aqui presentes. Elas foram a inspiração necessária para que eu pusesse esse projeto em movimento.

Tyler reuniu suas anotações e preparou-se para deixar o palco. Enquanto a audiência aplaudia, Helga levantou-se e foi encontrá-lo antes que ele pudesse descer o primeiro degrau.

— Silêncio — ela pediu, aproximando-se do microfone.

— Como mãe de Tyler, gostaria de pedir mais um minuto do tempo de todos vocês. — De ombros retos e cabeça er­guida, ela respirou fundo e começou a falar. — Sei que algumas pessoas aqui presentes acreditam que não ter um teto é um sinal de preguiça, ou de falta de uma ética de trabalho sólida, ou de falta de decência ou moral. Nada poderia estar mais longe da verdade.