Prólogo

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Bem, infelizmente Tommocchio havia sido deletada. Então, lá vamos nós mais uma vez!

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—Harold! — Ouvi meu pai me chamar, logo abrindo a porta de meu quarto.

Soltei os carrinhos de madeira que eu pintava, tentando limpar minhas mãos no pequeno avental que cobria minhas pernas.

—Sim, papai? — Perguntei, olhando para trás e me deparando com meu pai parado no meio de meu quarto. — Algum problema?

—Muito pelo contrário, meu filho. — Ele dizia, abrindo um sorriso e vindo até mim. Parecia segurar algo atrás de si. — Você sabe que dia é hoje?

—Sim, sim! — Bati palmas. — Hoje é meu aniversário!

—Aposto que você achou que eu tivesse esquecido. — Ele disse, tocando na ponta de meu nariz suavemente. — Hum, quantos aninhos você está fazendo?

—Um... Dois... Ah, sete! — Falei, contando nos dedos.

—Sete, hum? — Sorriu, se sentando na cama, pedindo que eu me sentasse ao seu lado. — Eu trouxe um presente para você! Bem, fui eu que fiz, espero que.... Que não se decepcione.

Meu pai é artesão, vivemos da arte da madeira desde quando eu nasci. Bem, desde quando mamãe morreu, também. Muitas vezes, me zombam na escola pelo emprego de meu pai. Todos os meus colegas têm os pais muito bem sucedidos, que trabalham no centro de Londres. Eles ganham vários brinquedos muuuito legais, e eu, às vezes, me sinto mal por meu pai não poder me dar tudo aquilo. Mas, meu papai sempre me deu amor, tentando preencher ao máximo o vazio que minha mãe deixou.

—Aqui está, seu presente! — Estendeu os braços, segurando um boneco de madeira em suas mãos.

Um sentimento de alegria tomou posse de mim. Era um lindo boneco, com os olhos azuis pintados em sua face, o cabelo castanho com lascas de madeira. Usava um short azul, com camiseta branca e suspensórios amarelos. A gravata borboleta azul clara era da cor de seus lindos olhos. A boca delicada e vermelha, pintada com o mais singelo toque de meu pai.

Ao ver aquele boneco, eu tive a esperança de um amigo. Meu novo amigo. Que eu poderia moldar como quisesse. Alguém que me fizesse companhia.

—Eu... — Fiquei sem palavras. Apenas agarrei o boneco, que era um pouco menor do que eu, e sorri abertamente. — Obrigado, papai! Eu estou tão feliz!

Meu pai sorriu e me abraçou. Logo em seguida, ele abriu a janela que ficava ao lado da minha cama, revelando o céu azul e estrelado.

—Antes que eu volte ao trabalho, vou te contar uma história! — Caminhou até minha cama, se sentando na mesma a fim de abrir a grande janela. — Está vendo aquela estrela bem brilhante?

—Sim! Nossa, como é linda! — Falei, sorrindo.

—O nome dela é Estrela Azul... Diz a lenda que ela realiza os mais loucos pedidos!

—Verdade? — Perguntei, e meu pai assentiu.

—Mas, tem um detalhe... — Ele ia dizer, quando o telefone tocou na sala, me fazendo franzir o cenho. Papai olhou exausto para mim, mas sorriu, logo se levantando para atender o telefone. Eu sabia que se ele saísse, não iria voltar tão cedo. — Desculpe, filho, tenho que atender!

—Papai! — Chamei, logo quando ele ia fechar a porta. — Será que ela atende um pedido meu?

—Se for de coração, meu filho... — E, com essas últimas palavras, meu pai fechou a porta, me deixando sozinho com meu novo boneco.

Passei alguns segundos apenas olhando para o céu estrelado, me arrepiando com a brisa gélida que passava em meu rosto, balançando meus cachos castanhos.

—Bem.... Não custa nada tentar... — Comecei olhando para os olhos pintados do boneco em meu colo. — Olá, dona Estrela Azul! Eu tenho um pedido para fazer! Sabe, eu não tenho muitos amigos.... Para falar a verdade, não tenho nenhum... E passo quase o dia todo sozinho, eu... Eu gostaria de pedir um amigo! Meu papai disse que a senhora realiza os pedidos mais loucos...

Senti meu coração apertar, e logo olhei para meu boneco mais uma vez.

—Eu sei que a senhora tem muuuuitos pedidos para realizar mas, por favor, é de coração! Obrigada, Dona Estrela, tenha uma boa noite aí em cima!

Me despedi, fechando a janela. Acendi o abajur branco que estava ao lado da minha cama, tentando fazer com que o boneco parasse sentado. Fiquei frustrado pelo pedaço de madeira ficar tombando para a frente, então o apoiei na parede.

—Oi, meu nome é Harry! — Falei, tendo o silêncio como resposta. —Esse é o meu quarto, mas podemos dividir.... Que tal? — Analisei a face do boneco, pensativo. — Hum, acho que você precisa de um nome! Que tal... Jack? Não, muito comum! — Balancei a cabeça em negação. — Então, que tal, Arthur? Não também.... Já sei! Louis! Sim! Seu nome vai ser Louis! — Bati palmas satisfeito com minha escolha.

Após decidir o nome do boneco, apaguei o abajur e me enfiei debaixo das cobertas, apenas jogando o avental sujo no chão de meu quarto. Peguei o boneco, abraçando-o para dormir.

—É, Louis, parece que vai ser só nós dois agora... — Falei, fechando os olhos e tentando dirigir meu último pensamento à estrela.


TommocchioWhere stories live. Discover now