Ano 505 da Segunda Era dos Reinos. Cidadela Alta de Arthor
Chuck corria, corria desesperadamente pelas ruas da cidade alta, a respiração vacilava, as pernas doíam, a fumaça fazia os olhos arderem como em brasa viva.
Logo atrás Nikki protegia a retaguarda, o draconato era mais forte e mantinha-se alerta. Os dois seguiam pelos corredores apertados que marcavam as casas nobres e mansões da cidade alta, pisavam firme e com pressa, mal viam os soldados aliados caídos no chão de mármore.
O coração do bruxo nunca havia batido tão forte, parecia saltar do peito, a ansiedade era visível em seus olhos, um desespero lancinante.
Chuck nunca havia visto uma guerra de perto, desde que nascera Arthor vivia á sombra dos conflitos que marcavam os territórios do mundo conhecido, graças a liderança sábia de seu pai. Mas, naquele dia, naquele instante, tudo havia ruído. Não havia mais as meretrizes na Praça dos Atros ou os menestréis em frente às tabernas. Havia apenas o som estridente de aço com aço e o baque surdo dos corpos caindo.
Correram mais um pouco até que chegaram em frente ao Palácio da Guilda, a construção de pedra se erguia imponente, contudo, em volta da escada que levava a porta de aço, semi aberta, soldados com o emblema da guilda jaziam sem forças.
Nikki se aproximou dos corpos.
- Sete. Sete mortos Chuck. Todos da guarda de seu pai. – Disse o draconato.
- Este era Hodrik – Chuck se ajoelhou perto de um deles – Ele costumava treinar montaria comigo todas as primaveras.
- O que diabos aconteceu aqui? – ponderou Nikki, indignado. – se existe um lugar nessas terras que é praticamente impenetravél são essas malditas muralhas de Arthor.
- Era impenetrável. – Respondeu Chuck – com certeza a ameaça surgiu de dentro. Olhe a disposição destes dois – apontou para dois soldados caídos, que pareciam ter se ferido mutuamente. – Um guarda da Guilda jamais feriria um dos seus. Fomos traídos.
- Vamos subir as ameias, não podemos ter certeza de nada por enquanto. – Disse Nikki.
Os dois passaram pela porta de aço que marcava a entrada do palácio. Quando entraram Chuck perdeu o chão, inúmeros corpos se dispersavam pelos salões da guilda, feridos por aço e magia.
O bruxo se manteve forte, mas as lágrimas subiram aos olhos.
Pensou em Myrrah, onde ela estaria? O que havia acontecido para que os deuses permitissem tal atrocidade?
Chuck não sabia as respostas, na verdade, mal conseguia pensar. Não queria imaginar Myrrah morta, muito menos seu pai.
Meu pai! Lembrou se.
- Pai! Pai! – Gritava o bruxo pelos corredores do palácio. Pai!
Disparou a correr, Nikki seguiu atrás.
Os ouvidos atentos do draconato perceberam o som de passos na sala a frente deles, uma das várias áreas de convivência que davam para o posto de observação no exterior do palácio.
Ele segurou o bruxo e tapou-lhe a boca.
- Quieto Bruxo! Se você continuar gritando vamos acabar com uma lâmina enfiada na garganta.
Nikki soltou o bruxo, que se escondeu atrás de uma pilastra, enquanto que o draconato se manteve em pé, em frente a porta. Ele afrouxou as presilhas da armadura, deixando o movimento mais livre e segurou com firmeza o machado de guerra.
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Lembranças de um deus caído
FantasyNikki é o último de sua estirpe. O último draconato vivo no mundo conhecido. Sem lembranças do passado, a única informação que ele tem é que sua linhagem descende de uma família poderosa e muito antiga. Em um mundo regido por leis de aço e magia...