O Príncipe sem honra

141 7 0
                                    

Parte 1

Herdeiros

Sete anos antes da queda de Arthor e da formação do Império. 

"O que molda o caráter de um homem, não são suas conquistas. São suas ultimas palavras." Yoren, O caçador.

Ano 498 da Segunda Era dos Reinos Cidadela Alta de Arthor.

È lindo não é? – Disse Chuck enquanto tocava os cabelos loiros de Myrrah e os colocava atrás da orelha.

Muito, não há nada como isso em Zakar – Ela sorriu. – Mas, não é nada comparado as luzes da Agrestia. Que logo você vai conhecer Ogiiri. *

Logo, Myrrah, logo. – Respondeu Chuck.

Os magos de Arthor brandiam seus cajados para cima, em um ritual de magia e truque, no alto da praça, um grupo de mais de uma dezena de arcanistas trocavam essências misteriosas, especiarias, tecidos e livros, enquanto outro grupo se aninhava dentro de círculos mágicos, luzes carmesins subiam e desciam pelo céu da praça. Formando uma dança de luzes multicoloridas. Era a festa do Solsticio de Verão.

*Principe. Em éflico.

O primeiro dia do verão era marcado por festividades, torneios e bêbados caindo pelas ruas de Arthor e em todas as dependências do sudeste do Mundo Conhecido.

Longe da euforia do centro, em um cume distante além da padraria de Elrolar, com uma visão privilegiada das construções prateadas da cidade livre de Arthor; Chuck e Myrrah se deitavam em meio à grama. Os dedos entrelaçados, os olhos fixos um no outro.

Um beijo.

Chuck olhou para cima depois de um suspiro, seus dedos seguiram um facho de luz que subia aos céus de Arthor.




2 meses antes

A luz entrou no quarto de Chuck, passou pela janela semiaberta, atravessou o fino véu que cobria a cama, e atingiu seus olhos.

Ele abriu os olhos verdes, que refletiram a luz do sol, ainda marejados de sono, se espreguiçou.

Afastou a mão da garota deitada ao seu lado, com cuidado para ela não acordar. Deixou um par de moedas ao lado da moça.

Levantou calmamente, afinal, ele era um príncipe e não precisava ter pressa.

Da vista de seu quarto Chuck enxergava todas as dependências do burgo que fechava o Palácio da Guilda, a construção mor de Arthor.

Passou a mão entre os cabelos negros, vestiu uma túnica branca de seda e desceu. A brisa denunciava o que estava por vir. Era primavera.

A família Daniel's, a família de Chuck, sempre foi respeitada, desde tempos muito antigos. Quando os deuses, dizem os magos mais velhos, ainda andavam entre nós. Mas, nunca foi temida como nos anos que se seguiam. Uma família de magos, não bruxos ou feiticeiros, agiotas da magia que a dominam rudemente. Os Daniel's viam a mágica como uma disciplina, assim como os ferreiros mais hábeis tratam o aço com extremo esmero, os magos da Guilda dos Magos Livres tratam a magia como aritmética. Exata, controlável, contudo, devastadora em combate aberto.

Para Chuck, não passava de chatice. Desde seu sexto ano, estudou os tomos a finco, conhecia orbes e cajados de todos os tipos, e tudo aquilo se tornou maçante para ele, um bando de velhos incautos, que mal sabem a extensão que o arcanismo pode alcançar.

Ele sabia.

Duas horas mais tarde, ele desceu ao antro principal do palácio, um amplo salão revestido com madeira vinda dos cantos mais distantes do oeste, estandartes flamulavam com o vento que atravessava as janelas. Excepcionalmente naquele dia, várias mesas haviam sido dispostas pelas laterais do antro e uma maior, no centro.

Um homem de cabelos esbranquiçados conversava com um de seus pajens que arrumava os preparativos para a festa que viria. Era Howard Danie'ls, líder da guilda e comandante de Arthor.

- Pai. Precisamos conversar. – Disse Chuck.

- Está atrasado – respondeu friamente. – Se dormisse mais um pouco perderia a cerimônia de abertura.

- E se eu não quisesse realmente ver a cerimônia de abertura? – Chuck se indignou com a rispidez do pai.

- Você vai ver, e vai participar. É meu aprendiz. Como de costume, deve duelar com o aprendiz do membro mais alto da Guilda depois de mim. É a tradição. – respondeu secamente.

- Pros nove infernos com a tradição. – debochou enquanto se sentava em cima de uma das mesas. Pegou uma das taças que havia sido disposta cuidadosamente pelo pajem e sorveu o vinho em único gole.

- Isso é para os convidados Chuck! Esbravejou.

- Ah, a festa da Liberdade, lordes e membros da guilda do mundo inteiro vem aqui, dão dois tapas nas suas costas , um punhado de graõs e residuum e você entrega nossos melhores magos pra servirem de guarda-costas de um bando de velhos carcomidos que mal sabem se limpar. E de quebra uma demonstração pífia do que podemos fazer.

Lembra ano passado? Quebrei a mão do aprendiz do Lorde Ethani no duelo de demonstração, e quase tivemos uma guerra por isso. – Cada palavra saía como um desabafo.

- Hoje você vai duelar com Summers Han's. – Disse Howard, secamente, como uma sentença.

Chuck saltou da mesa em um supetão, se assustou com a revelação, mas ao mesmo tempo sentiu algo diferente.

- O filho de Klaus Han's? Perguntou ainda surpreso

- Ele mesmo, o príncipe Balthier virá hoje, ele mesmo fez a proposta. Achei que isso iria te animar. – Howard sorriu.

- Você é meu filho, não esqueça que quando eu não estiver mais aqui, é você que receberá as bajulações. Deve fazer por onde merecer isso.

- Que seja. – Chuck deu de ombros. – O que importa é que dessa vez tenho um desafio de verdade.

Desembarcaram no porto principal de Arthor navios vindos de todas as partes, tercos, caravelas e o grandioso galeão Olho do Mar da família Han's. Aportaram pouco antes da noite cair, lordes, magos, bruxos e feiticeiros da alta sociedade do Mundo Conhecido. Os feiticeiros Brax e Marcelas de Duergar, os magos Eldrich e Alreos da Elferia, todos se acomodaram em mesas bem adornadas no antro principal do Palácio da Guilda.

A noite já havia caído quanto o último navio chegou. Uma escuna, sem bandeira de identificação, mas todos sabiam quem chegava.

Howard e Chuck estavam no porto, recebendo os visitantes, escoltados pelos homens da Guarda da Guilda, soldados treinados desde os primeiros anos da infância, armados com bruneas completas e espadas longas afiadíssimas. Andaram até o frente do barco, um navio estrangeiro, com arabescos rudimentares e exóticos.

O primeiro a descer foi um velho homem, apoiado em uma velha bengala de madeira, vestindo um robe azulado, cheio de badulaques, em seguida, sua guarda pessoal.

- Órion! Não esperava sua visita hoje! – Disse Howard, ainda de longe.

O velho esboçou um sorriso e acenou. Os olhos de Chuck viajaram de volta ao navio, quando um brilho dourado surgiu.

Ela era linda.

Ela caminhou em direção a Órion com uma sutileza sem igual, tinha os cabelos loiros, como fios dourados, a pele alva, judiada pelo sol do litoral, pequenas sardas marcavam o rosto. Vestia um manto acinzentado.

Mas Chuck reparava apenas para o pingente que balançava perto dos seios, um minúsculo frasco com um liquido verde brilhante.

- Ouvi falar de você, jovem príncipe. Dizem que é um prodígio. – Disse Órion, em um tom cortês.

- Mas do que um prodígio. Um gênio. – Respondeu Chuck, olhando para a estrangeira.

Ela sorriu.










Lembranças de um deus caídoOnde histórias criam vida. Descubra agora