No Antro Principal do Palácio da Guilda. Depois do atentado.
Howard era um dos magos mais poderosos de seu tempo. Conhecido como um dos Arcanos mais temidos e respeitados em todo o mundo conhecido, por homens de todas as línguas e nações do norte e sudeste. Contudo, sua fama não fazia diferença alguma agora, diante de um ataque tão repentino e soturno.
Instantes atrás em um único movimento de seu cajado o arquimago derrubara todos os separatistas que haviam se infiltrado no antro. O impulso arcano era uma magia devastadora, destruía mente e corpo ao mesmo tempo, de dentro para fora. O que sobrava no cenário era apenas um punhado de corpos jogados no piso de mármore. O mago impelia todo o seu furor em único ponto, que então se expandia dentro dos corpos das criaturas tomadas como alvo.
O saldo do atentado se revelaria mínimo. Graças à presença de Balthier e Summers, que perceberam rapidamente a invasão. Apenas um jovem lorde havia sido ferido, Meican Canith, sobrinho de Aidan Canith, sofrera um corte profundo no braço esquerdo. Dez Guardas da Guilda foram feridos, e dois morreram.
Assustados, os lordes aos poucos foram escoltados para fora do antro, para a segurança de seus navios e de volta para as suas terras. Atentados eram recorrentes em festividades que reuniam a alta sociedade do Mundo conhecido, portanto nenhuma represália foi imposta a Arthor naquele momento.
A única coisa que incomodava Howard era sua própria consciência.
- Um dia difícil, não é? Velho amigo. - A voz rouca e desgastada de Orion, companheiro de longa data do arquimago, soou como um consolo. O velho andava com dificuldade com sua bengala de madeira, percorreu o antro até que chegou ao lado de Howard.
- Todos os dias são difíceis, Primeiro Rei. - Era a alcunha tradicional de Órion, como regente de Zakar, o maior reino livre do mundo conhecido. -
- Esses separatistas. Como são chamados? - Questionou, enquanto mirava um dos corpos caídos. Vestia um traje completamente negro, quase como uma camuflagem na noite. Agora que podiam ver os seus rostos com mais calma, era possível notar que eram jovens ,muito jovens.
- Sacerdotes do Caos, como se autoproclamam. Um grupo de radicais, das antigas tradições.
- Tradições? Você diz de tempos antes da Era das Correntes? Então esses jovens não são devotos aos deuses. Interessante.
- Não exatamente. Dizem que eles cultuam um único Deus, uma deidade que, segundo eles, é superior as demais. - Howard se aproximava dos corpos, checava os pulsos e depois as vestes. Como se procurasse algo que o tirasse do impasse que havia em sua mente:
"Como, pelos nove infernos, eles haviam se infiltrado?"
- Então nesse ponto reside toda a mágoa deles com os demais regimes. Com nossos regimes. Entendo. Uma pena, jovens como esses seriam muito úteis nas fileiras zakarianas.
- Uma vida tão breve, eles tinham muito tempo ainda para viver. - Howard lamentou, enquanto mexia em um dos corpos, o rapaz não devia ter mais de vinte verões, tinha a pele branca, os cabelos loiros finíssimos. A expressão de horror eternizada pela morte dolorosa que sofreu, pelas mãos do próprio arquimago.
- Howard, você é tão sábio, mas as vezes parece ser tão tolo. - Orion tocou o ombro do arquimago. - Nós passamos uma vida inteira para descobrir algo pelo qual vale a pena morrer, esses jovens já encontraram. Não tire essa glória deles. Não há nada mais belo do que dar a vida por algo em que se acredita. Nós sabemos muito bem disso.
- Pelos Oito. - Howard sorriu enquanto se levantava.
- Pelos Oito. - Concordou Órion.
Algo chamou a atenção de Howard, quando um corvo entrou no antro. E pousou em cima de um dos corpos, o arquimago tentou afastá-lo, mas quando deu por si ele já havia voado de volta para a janela e depois para a imensidão dos céus de Arthor.
Mas o corpo no qual ele pousou tinha algo que o arquimago ainda não havia notado. Por baixo do tecido negro, se revelava uma veste vermelha, típica dos pajens que serviam a Guilda. Uma máscara cobria parte do rosto.
- Mas que merda é essa? - Howard rasgou o traje negro de uma só vez. Revelando o emblema clássico de Arthor. A lâmina longa rodeada por um dragão de platina.
- Parece que temos um traidor. - Orion foi irônico.
Tudo parecia se formar aos poucos na mente de Howard, até que ele se lembrou do pajem que o havia ajudado a montar as mesas, algumas horas mais cedo. Quando ele retirou a máscara então pode ter certeza. Era ele.
- Ele esteve aqui comigo, antes do banquete. Ajudou-me a arrumar o antro. É óbvio. Assim conseguiu observar a movimentação dos guardas.
- Tem muito mais nisso do que você imagina amigo. - Disse Orion. - Os homens são traiçoeiros.
- Pai! - A voz de Chuck interrompeu o diálogo. Ele e a bruxa Myrrah entraram pela mesma porta que haviam saído do antro.
- Chuck. Espero que você esteja bem. - O arquimago respondeu, sem olhar para trás.
- Eu estou bem, e tem algo que você precisa ver. Precisa mesmo.
- Você também, Primeiro Rei. Vai achar interessante. - Myrrah disse, olhando para Orion.
- Acho que temos muito que nos preocupar, ou você não entendeu ainda o que aconteceu? Howard foi ríspido.
- Acho que o baque que ele sofreu ainda não passou Howard. - Debochou Orion.
- Havia um draconato. Caído nas margens do rio que circunda o palácio. - Chuck foi direto.
- Um draconato? - Orion questionou surpreso.
- O último vivo foi visto a duzentos anos atrás. Isso é impossível. - O arquimago era cético.
- Eu confirmo o que o príncipe disse, vocês podem ver com seus próprios olhos se quiserem. - Myrrah foi irrefutável.
- Onde está então? - Howard perguntou enquanto se levantava.
- Os guardas da guilda estão tentando contê-lo nesse exato momento. Nos calabouços. Ele acordou a alguns minutos, parece entorpecido por alguma coisa.
- Ele disse alguma coisa? O nome ou de onde veio? - Orion não conseguia esconder a curiosidade.
- Quando perguntamos o seu nome, ele conseguia balbuciar apenas uma palavra. - Myrrah respondeu.
- Qual? - Howard parecia angustiado com algo.
- Nikki.
Um silêncio absoluto soou pelo antro. No céu de Arthor o corvo já despontava distante, no horizonte azul.
Pelos Oito! Você chegou ao final desse capítulo. Você chegou longe. Mas esse é apenas o começo da nossa jornada. Garanto que tem muitas surpresas nas próximas páginas. Obrigado por ler até aqui.
Se possível deixe um comentário e vote! Seja um dos bardos a levar esse conto pelo Mundo Conhecido.
Agora vire a página, a lenda está apenas começando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Lembranças de um deus caído
FantasíaNikki é o último de sua estirpe. O último draconato vivo no mundo conhecido. Sem lembranças do passado, a única informação que ele tem é que sua linhagem descende de uma família poderosa e muito antiga. Em um mundo regido por leis de aço e magia...