Magia de sangue

142 7 0
                                    


Chuck foi o primeiro a subir no palco do combate. Em suas mãos carregava um tomo antigo, um velho livro amontoado de feitiços e evocações ensinadas através dos anos pela família Daniel's.

Era uma tradição, assim como seu pai dizia. E todos os anos os melhores aprendizes da Guilda se enfrentam em uma demonstração de magia.

Já passava da segunda vigília da noite, os homens já estavam embriagados e satisfeitos com o banquete que Howard oferecia, com toda a hospitalidade típica de Arthor, as mulheres dançavam ao som dos musicistas que entoavam canções de batalha e poemas que aclamavam os Lordes Magos da Guilda.

As canções diziam acerca da Grande Guerra da Magia, de Ramir, O Insano, de eras em que deuses andavam entre os homens. Diziam sobre Thanatos, sobre Os Oito e a Era das Correntes.

Mas, a canção cessou quando o Príncipe Balthier se aproximou do palco com Summers Han's ao seu lado.

Coberto por um longo tapete marcado por runas élficas, o palco de combate atiçava os impulsos arcanos de todos os magos do salão. A magia pulsava como uma energia viva naquele instante.

Summers era jovem, assim como Chuck, não passava de mais do que dezessete verões. Os cabelos negros, curtos e lisos. A pele tão branca que parecia estar doente. Vestia o tradicional robe cinza-escuro da família, com os TrêsDragões bordados no peito. Ao seu lado, Balthier exalava arrogância. Era loiro, vestia um robe cinza-claro com arabescos dourados.

A família Han's é de longe, o grupo mais rico da Guilda. O reino livre dos TrêsDragões é um dos maiores do Mundo Conhecido, rico em minério de ferro, trigo, bronze, e principalmente, armas. Grandes patrocinadores das guerras em andamento, mais da metade das lâminas usadas em batalha, passaram pela mão de um artífice da família Hans. O impulso bélico fez com que os magos desse clã se diferissem dos demais, eram mais perigosos, impulsivos. Totalmente o contrário dos passivos e pacatos magos de Arthor.

Imprevisíveis. Dessa forma Chuck pensava. E na primeira vez em anos, estava nervoso ao subir para o combate. As mãos vacilaram, o pensamento viajou para longe.

Os dois se encontraram no centro. Howard arbitraria a disputa, em baixo. Não havia regras muito bem estabelecidas, mas era de praxe que logo após a primeira queda, o vencedor ser definido, por questões políticas. Mas dessa vez seria diferente.

Uma saudação. E então cada um se colocou em um dos cantos do palco de combate. Os olhos vidrados um no outro, os dois nunca se encontraram em outro momento, nem sequer haviam trocado algumas palavras, mas a rivalidade era inerte a tradição de suas famílias. Pela primeira vez Chuck se sentiu um representante dos Daniel's, parte de algo maior e muito mais antigo do que toda aquela baboseira dos livros.

Diferente de uma batalha entre homens armados com armas marciais comuns, um duelo arcano era normalmente definido em um ou dois movimentos. A conjuração bem escolhida, no tempo certo, definia o melhor.

Os magos aprendem através do estudo de tradições antigas, meios e truques de transformar a realidade por meio do arcanismo. O arcano é misterioso, obscuro, e ninguém sabe, ao certo, da onde vem o impulso que percorre as artérias de feiticeiros, preenchem os pactos dos bruxos, e despontam dos dedos dos magos mais habilidosos.

Os aprendizes descobrem desde seus primeiros dias de treinamento que a magia é dividida em círculos de hierarquia. Quanto mais alto o grau do círculo, mais temido é o mago. E o grimório não é mais necessário.

Summers não usava grimório. E isso assustava Chuck, a confiança que o adversário mostrava era intimidadora. Então o jovem aprendiz decidiu se mover primeiro.

Lembranças de um deus caídoOnde histórias criam vida. Descubra agora