Prólogo

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Praça dos Imortais. Em frente a Taberna do Ogro Caolho. 822 2 E.R


O som do alaúde soou pela praça.

As crianças correram quando viram ele se aproximando. Amontoaram-se em volta do velho bardo que se sentava em volta da fogueira, o brilho da lua era ofuscado pelas chamas, a brasa subia em direção ao céu como se oferecessem um tributo aos deuses.

O bardo afinava as cordas do alaúde enquanto dizia algumas palavras, a barba grande e emaranhada descia até os botões de um traje de trapos que vestia. Uma longa cicatriz marcava do lado esquerdo do rosto até a clavícula, os olhos eram azuis e profundos, o cabelo negro.

Quando as cordas soaram no tom certo, os dedos deslizaram pelas marcações na madeira e então se formou um acorde, triste e melodioso.

As crianças se calaram no mesmo instante. Como em transe.

- Olhem as brasas, o vento as está levando  de volta para os braços dos deuses, crianças. – Disse o bardo, melodicamente.

Ele pontuou outro acorde.

- Uma noite perfeita para uma história. – Cantou o velho, sua voz era cansada, devido à idade aparente, contudo, era belíssima.

Aos poucos alguns adultos se aproximavam curiosos, se sentavam em volta da fogueira no centro da praça.

Todas as noites o bardo se sentava ali, ninguém sabia da onde ele era, ou de onde tirava suas canções e estórias. Apenas sabiam que ele estaria ali, todas as noites, na chuva ou no frio. E não importava se haveria alguém para ouvi-lo.

Era como uma fagulha de esperança para aqueles que estavam ali. Um momento onde os homens se esqueciam da guerra, da fome e dos impostos e se entretiam com os tempos antigos. Com histórias que ninguém mais se lembrava.

-Havia um tempo, que os deuses andavam entre nós. Ah, como sinto falta das belas ninfas da Elferia, e das asas brancas das Ohaniins. Do caminhar suave e do toque doce dos lábios de Sehanine. – Começou o bardo, a melodia era distante, quase como uma lembrança.

- Os mestres destilavam mirra aos divinos, seus palácios eram adornados de ouro e pedras preciosas. Homens e elfos se uniam em seus estandartes e lutavam por sua glória em guerras que duravam séculos. Como eram grandes os heróis! – O entusiasmo fez a melodia crescer, as crianças riam e cantavam, as mulheres dançavam em volta das chamas.

-Pelos Oito! Como eram belas as pradarias de PedraAlva! – Cantava o bardo.

A canção aos poucos se acalmava, enquanto a dança cessava o velho sentou se novamente.

Ele dedilhava acordes mais lentos, enquanto contava uma história, dizia sobre os tempos da Segunda Era, antes do Sol Negro, antes das desolações de nosso tempo, quando os deuses andavam entre os homens e rios e córregos haviam em abundância em nossas terras.

- Nos dias de Salazar, o Primeiro Dragão, houve grande guerra nas terras de Arthor, meus caros. - Exclamou.

- Salazar era alto, seus olhos eram vermelhos como essas chamas que queimam aqui. Seu corpo coberto de escamas rubras, duras feito aço.

- Ele era um dos primogênitos? – Perguntou uma criança curiosa.

- Sim! E sob as suas asas estavam os reinos de elfos e homens, anões e eladrins! Respondeu o velho.

- Quão grande foi o reinado dos Dragões, mas grande também foi sua queda. Quando não houve mais aonde o fogo consumir, suas chamas minguaram, e apenas cinzas e brasa sobraram! – O verso soou pelo deserto como um lamento.

O bardo olhou as fagulhas, os olhos dele não viam mais as brasas, nem podia mais sentir o calor, a mente viajara, para séculos atrás.

Para um tempo fora do tempo.

Para uma canção sobre cinza e fogo.




Pelos Oito! Você chegou ao final desse capítulo. Gostou do gênese dessa história? Garanto que tem muitas surpresas nas próximas páginas. Obrigado por ler até aqui.

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