Capítulo 4

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- Você sofre de algum distúrbio de personalidade? - falei rindo, pelo seu modo de falar ele parecia alegre, completamente o oposto do que aparentava na conversa anterior.

Na última vez que nos vimos ele havia ficado irritado por algum motivo que eu desconhecia, no mesmo momento em que eu revelei algo que poucas pessoas entendiam, eu sabia que ele achava aquela minha decisão errada, mas eu tinha certeza que não tinha sido aquilo que o irritou. Ele me compreendia, na verdade aparentava já ter conhecimento de tudo que eu fazia, parecia ter perguntado para confirmar algo que não queria acreditar, aquilo me assustava.

- Talvez - ele disse com uma voz triste, mesmo forçando para fazê-la parecer divertida.

É, com toda certeza eu não conseguia entender ele...

- Me desculpa? - ele perguntou - Por ir embora do nada.

- Claro, você não fez nada de errado. - falei.

Ele ficou em silêncio por um tempo, que para mim pareceu uma eternidade, e aquilo era uma grande tortura.

- Por que você não confia em mim? - ele disse de forma séria.

Eu nunca havia dito que não confiava nele, queria saber o que o fez pensar dessa forma.

Ele estava irritado por isso?

- Eu nunca disse algo assim... - falei com um pouco insegurança com medo da resposta - Por que pensa que eu não confio em você?

Nem eu mesma sabia. Eu confiava nele?

A resposta era negativa, embora eu tenha deixado Kash se aproximar, eu não tinha total certeza do caráter dele. Eu não confiava nele do jeito que ele desejava e também não achava que este fosse possível. Eu não julgava ele incapaz de ter minha confiança, o problema era que eu me julgava incapaz de confiar.

- Eu não preciso que me diga Vega, consigo perceber... - falou como se fosse óbvio. - Você chegou a pensar que eu fosse contar a meu pai ou a qualquer pessoa, que você é contra o tratamento. Acho que eu não teria a capacidade de faze-los se darem conta de algo tão óbvio, que eles mesmos não querem perceber.

- Eu não confio em você... - falei com medo de sua reação - Porque não se deve confiar em alguém que conheço a menos de um mês e não sei o suficiente sobre você - falei.

Aquilo tudo que eu disse não parecia errado ou rude pois era verdade.

- Mas eu sabia que você não seria capaz de fazer algo assim, só que iria me culpar se eu estivesse errada e uma parte bem pequena tinha medo.

Ele não falou mais nada. Absolutamente nada. Me deixou com aquele silencio assustador.

- Vamos jogar?

De todas as possíveis palavras dele, essa era a que eu menos esperava.

Kash definitivamente era a pessoa mais imprevisível e aleatória que eu já havia conhecido em toda minha vida. Você nunca sabia o que poderia estar em sua mente, ele não reagia como as pessoas podiam prever. Você poderia imaginar milhares de reações possíveis, com toda certeza nenhuma delas seria o modo como ele reagiria.

Ele estava fugindo do assunto?

- Um jogo de perguntas, não vai ser nada que possa fazer você se machucar. - ele disse de forma amigável - Você disse que não me conhece, então me pergunte oque quiser.

Eu tinha certeza que ele sorria.

Ele não estava fugindo do assunto, ele queria achar uma solução.

A melodia da sua voz [REESCREVENDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora