Capítulo 7

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O dia se resumiu em exames e mais exames, talvez você deva inserir novamente a palavra, para compreender realmente o que havia acontecido comigo em 24 horas, eu só me lembro de acordar cedo e ser analisada por diversos médicos. Meus pais como o esperado passaram o dia ao meu lado, era incrível como eu podia perceber a tamanha animação em suas vozes, eles conseguiam expressar completamente, o que sentiam através delas. Entender isso era algo que eu tinha adquirido com o passar do tempo, eu me sentia insegurança e desorientada por não poder vê-los em minha direção, mas tinha certeza através das vozes que eles estavam ali, elas eram o meu meio de orientação para que eu não me sinta perdida, então tento o máximo usa-las para meu auxílio. Com o tempo analisando elas, eu consegui perceber muitas das coisas que desconhecia. Mas a animação dos meus pais não era só por causa do tratamento e sim por eu ter concordado com ele.

Eu não conseguia entender a necessidade de tantos exames, se já havia o feito e passado por isso várias vezes. Amélia me levou para o quarto me guiando pelos corredores. Na chegada fui direto para o banheiro com sua ajuda, lá tomei um banho relaxante e demorado. Quando estava completamente preparada para dormir, depois de uma refeição que aguardei por um bom tempo, dispensei Amélia para poder finalmente descansar, pois estava morta de sono. Me posicionei de lado com cuidado, me guiando pela parede onde parte da cama a encostava, com um pouco de esforço eu já estava bem posicionada sobre a cama com os lençóis colocados acima do meu corpo, tentei não pensar em nada, relaxar e não deixar com que pensamentos ruins penetrarem em minha mente vazia e tranquila. Eu já estava sentindo meu corpo ficar inconsciente, minhas pálpebras já estavam cansadas e minha respiração estava ficando lentamente pesada, eu já estava prestes a dormir, quando um sussurro rouco, me despertou.

— Vega — era a voz de Kash — Desculpa te acordar.

Era a voz de Kash, era a voz dele, e isso me lembrava de um detalhe que nem havia passado pela minha cabeça. Eu tinha esquecido de contar a ele sobre o tratamento. Estava com tanta preguiça de conversar, meu corpo já estava desligando, mas era algo que ele precisava saber, embora seja bem provável que ele já tenha consciência de tudo que está acontecendo.

— Você parece... — ele começou. — Morta. —falou rindo.

Dei uma risada fraca.

— Fiz milhares de exames hoje — disse. — acredite, você também estaria assim.

— Talvez, bem pior. — ele disse.

Fiquei imaginando Kash em meu lugar, era estranho estar sendo observada por alguém e não poder vê-lo, nem saber como ele era.

— Eu estou nesse processo, porque finalmente aceitei o tratamento. — Falei sendo, mais direta possível.

E eu estava lá novamente, na sala de tortura silenciosa.

— Sério? — falou ele com muita animação. — para falar a verdade, eu já sabia, eu tinha certeza que você ia escolher o certo.

— Posso te contar uma coisa?

— O que?

— Eu também sabia — disse, com o sono já me consumindo.

— Eu também sabia disso — falou ele.

— Então você sabe de muitas coisas. — falei com meu corpo entorpecendo.

— Gosto de saber coisas sobre você — falou ele novamente — quero ajudar.

Eu podia notar sua preocupação, era incrível como uma pessoa que eu sabia tão pouco sobre, se preocupava tanto. Às vezes eu me achava egoísta, egocêntrica por não procurar saber sobre ele, as conversas giravam em torno de mim, eu tinha me tornado cega, é algo horrível, mas ele também podia ter dificuldades, e eu também queria auxilia-lo. Por mais cansada que estivesse, isso não saía da minha mente, ela não conseguia parar de trabalhar, imaginando como pode ser a vida de Kash fora tudo que ele já havia me dito. Eu tinha interesse em saber sobre ele, na verdade eu me pegava imaginando cada detalhe sobre, imaginava como ele sorria, sua aparência, seus gestos, sua vida fora daqui.

— Eu também gosto de saber coisas sobre você — disse — até porque me sinto perdida neste assunto.

— Lembra da brincadeira? — ele falou — É só perguntar.

— Eu não posso desvendar uma pessoa apenas com questionamentos — Falei. — você faz parte da minha vida e acompanha ela, mas eu não posso fazer parte da sua. - digo baixo e com o corpo adormecendo lentamente.

— Você pode não entender, mas você faz sim parte dela - ele disse.

— Mas eu não posso ver sua realidade, eu vejo apenas faces dela. — digo cansada. — queria saber, como você é ou que gestos faz quando está falando, quais são suas dificuldades. Eu sou observada, mas não posso saber coisas simples.

— Um dia Vega você vai voltar a enxergar, não posso descrever o que eu acho ou o que eu vejo sobre mim, não seria algo que você veria. — disse triste — meus problemas são difíceis de solucionar, não quero te fazer ter esse fardo.

Ele não queria me contar nada sobre sua vida. Isso me deixava frustrada.

— É um fardo maior que viver acompanhando a vida de uma cega? – indaguei.

— Isso não é um fardo.

— Tenho medo do que considera um. — falei lentamente.

Meu corpo já não aguentava mais, estava sendo dominado pelo sono e pelo cansaço.

— Você não é um fardo.

Ouvi a voz de Kash, não sei dizer se fazia parte de um sonho ou se ele realmente tinha dito aquilo pois eu já havia perdido a consciência.

A manhã que passou tinha sido normal, e por incrível que pareça eu não havia tido pesadelo algum.

Hoje era um novo começo, eu iria começar um tratamento, tudo de novo, iria ser o mesmo de sempre só que agora, eu estava preparada para enfrentar aquilo que tanto me assombrava. Eu precisava me trocar e esperar a chegada dos meus pais, para conversar com os médicos, e saber mais sobre o tratamento.

Eles demoraram bastante, uma eternidade praticamente, mas chegaram. Eu fui guiada até a sala onde iríamos conversar com os médicos responsáveis por meu tratamento. Eu sabia que seria uma longa discussão, eles iriam dar mais detalhes deste, por mais que já tenham sido passadas todas as informações necessárias, era preciso de uma visão profunda sobre aquilo que eu iria vivenciar, sobre algo que em partes já passei, embora seja algo que não deixa de ser novo e assustador. Lembro de tocar nas paredes como auxilio e caminhar com os meus pais em direção a sala, até sentar com sua ajuda na cadeira que aparentava ser de couro.

Fiquei atenta em cada palavra do que eles estavam dizendo. Eu iria fazer uma nova cirurgia logo após uma rotina de preparação. Essa rotina, esses remédios, essa nova chance poderiam me curar, mas ainda era apenas um teste, sem esperança alguma de resultar em algo positivo. Mas tudo parecia muito tentador, a garota que teve coragem de deixar tudo para trás para não se iludir com falsas esperanças, não estava mais ali, não, exposta como havia estado antes. Eu não tinha motivo para desistir de algo que ao menos havia começado, eu não podia esperar um fracasso sem ao menos tentar, essa é a minha natureza, eu coloco fim em algo que me machuca, mas mesmo que veja que aquilo possa me ferir, eu o vivencio, para não viver com o fardo da curiosidade de como seria se eu tentasse. Eu não deixaria de mergulhar naquilo que me assustou sem saber ao certo o que é.

A discussão durou um tempo, eu ouvia, e tentava processar tudo aquilo que era dito mas minha mente não aguentava mais, eu estava dispersa e quando me dava conta, havia estado bem longe da conversa, pensando em outros mil assuntos, todos sem a menor relação com este. Até que despertei quando ouvi um dos médicos.

— Então, Vega já irá para casa?



Olá pessoas lindas, vamos chorar juntos porque logo mais as aulas voltam ( ou já voltaram para vocês). Estão gostando do otp? O capitulo de hoje ficou um pouco gay, mas vamos fazer o que? eu gosto de coisas gays. Aproveitem o final de semana, um beijo, um abraço e até mais!

A melodia da sua voz [REESCREVENDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora