Minhas lágrimas se confundem com a água da chuva que bate no meu rosto, as poucas pessoas que estão na rua, algumas indo para seu trabalhos e outras caminhando de forma bamba por causa do excesso de álcool, me olham quase com um ponto de interrogação desenhado em suas testas, e outros com certo olhar de pena, o que faz meu estômago embrulhar mais. Paro de frente a uma loja de roupas de grife e me olho em um espelho na vitrine, meu cabelo está pior que nunca, a maquiagem dos olhos está derretida em um borrão no meu rosto e sai um pouco de sangue no canto direito da minha boca, a jaqueta de couro esconde um pouco a regata rasgada durante a briga, a calça preta e a bota pelo menos está em boa condição, minha mãe surtaria se me visse assim, e me mataria se um conhecido dela me visse assim. Tento limpar um pouco a maquiagem do meu rosto e quando olho novamente para o espelho meus olhos estão ainda mais vermelhos, penso no que aconteceu essa noite, tento me controlar mais não consigo, meu corpo todo treme, minhas pernas doem e me sinto um lixo, mas o pior de tudo é que ele estava certo. Maldito.
Sigo pela rua 22 em direção ao Saskatoon Square, que não demora muito para se encher de pessoas; as padarias e cafeteira abrem e o cheirinho de pão fresco se espalha no ar junto com o aroma forte do café, as pessoas conversam e algumas até gritam oferecendo o jornal local por um custo menor, os artistas de rua já estão em seus lugares oferecendo suas músicas e danças, eu paro um instante pra ouvir um senhor tocar algo em seu violino e a melodia me parece mais dramática do que nós outros dias, tiro do meu bolso uma nota de cinquenta dólares molhada e coloco em um chapéu nos pés do senhor que imediatamente abre um sorriso e abaixa um pouco a cabeça como forma de agradecimento, contínuo a andar e me desligou para o que acontece a minha volta, finalmente chego ao Saskatoon Square entro e me direcionado ao elevador subo até o décimo quinto andar e depois pego as escadas para a cobertura, a chuva parou mas o vento continua intenso, tiro minha jaqueta e jogo-a no chão, o frio soprar em meus braços me fazendo arrepiar, amarro meu cabelo e caminho até a Beira do edifício, cada passo que dou meu coração acelera mais quase saindo correndo do meu peito, eu já havia considerado isso algumas vezes, mas ainda tinha um pouco de esperança pra me agarrar, agora tudo era apenas confusão, erro atrás de erro, mágoa atrás de mágoa, ninguém deveria viver assim.
Me esforço para subir no muro protetor, com o coração batendo mais alto que qualquer coisa no resto do mundo, e é isso, acaba aqui, Sem bilhetes, sem despedidas, apenas o fim.
_ o que você está fazendo aqui?