29. Dedicatória - Laís

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"Para uma mulher especial, que me ensinou a dar valor às pequenas coisas e me fez amar novamente.

Se apenas posso ser seu amigo, que assim seja. Theo."

Passei os dedos sobre a escrita inclinada e espichada na folha. Minha mente entrou em curto. Ofegante, reli muitas vezes. Havia uma clara insinuação de que ele desejava mais do que minha amizade. E eu? A dúvida aflorou em meu coração palpitando agitado.

Era verdade que existia uma atração entre nós, no entanto o que eu devia fazer com isso? Eu tinha Cauã, não o magoaria por causa de uma palpitação por Theo.

Justo quando, depois de uma noite angustiante em claro, eu tinha decidido ignorar o beijo roubado e concentrar-me em meu futuro namorado, Theo me confirma que sentia algo por mim.

Por muitos anos eu mantive minha amizade com Cauã mesmo tendo o conhecimento dos seus sentimentos por mim, estranhamente eu não me sentia capaz de fazer o mesmo com Theo. Não tínhamos a mesma intimidade, e nem construímos nossa amizade na inocência da infância. Com ele não haveriam brincadeiras com segundas intenções, ele apenas fingiria que nada existia.

E eu passaria eternamente em dúvida se ele continuava a esconder suas verdadeiras intenções ou se seu afeto havia se extinguido. Seria uma amizade de mentiras, na qual ele se controlaria e eu faria o mesmo.

Até que um dia eu ou ele cometêssemos um deslize e nos entregaríamos a essa atração física. E disso só poderiam resultar mágoas.

Havia tanta angustia em meu peito, tantas acusações. Uma grande parte de mim sabia que era certo devolver o livro e que cada um de nós seguisse caminhos distintos. Mas outra parte quase maior lamentava tristemente. Eu conhecia Theo há tão pouco tempo, não era sensato me deixar envolver por ele. Então por que eu continuava a pensar sobre isso?

Larguei o livro sobre a cama e fui molhar o rosto. Talvez a água diluísse esses sentimentos conflitantes e afastasse minha mente de Theo.

Sem conseguir me acalmar, meu sangue gelou quando sai do banheiro: minha mãe chegara mais cedo do trabalho e segurava o livro aberto na página da dedicatória de Theo.

— Laís, o que está acontecendo entre você e o médico? — minha mãe fitava-me com seriedade.

— Nada! Somos apenas amigos — a voz saiu esganiçada. Como explicaria o inexplicável? Como confessaria a minha mãe que eu era uma pessoa horrível que fazia planos em namorar um, mas ficava pensando em outro?

— Mas ele quer mais que amizade. E você, minha filha, o ama? — ela observou-me com profundidade. Baixei os olhos, envergonhada.

Minha mãe fez sinal para eu sentar-me ao seu lado na cama. Eu suspirei, não consegui dizer a ela que talvez eu quisesse Theo. Eu apreciava a companhia dele e tinha vontade de beijá-lo, agora falar em amor era um pouco exagerado, não era?

— Vou devolver o livro para o Theo. Cauã logo estará aqui, e não vou magoar ele. — comuniquei sincera.

— Vai ficar com Cauã por que o ama ou para não magoar um amigo de tantos anos?

Sua insinuação parou minha respiração por segundos quando uma dor me atingiu como se algo me arranhasse por dentro.

Eu quis gritar que ela estava errada, que eu já tinha tomado minha decisão e nada do que ela dissesse me afetaria. Porém seria mentira, nesta última semana eu já não tinha tanta certeza se era mesmo amor que me fez aceitar Cauã. Talvez minhas dúvidas fossem apenas por Cauã estar distante, de repente quando ele estivesse aqui eu perceberia que não existiam dúvidas e era por ele que meu coração batia com força.

Corações RessuscitadosOnde histórias criam vida. Descubra agora