33. Amor - Laís

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Ter partilhando com Theo seu corpo e, mais importante, nossos sentimentos me mantinha desde então em estado de contemplação, como se todas as preocupações se afastassem eternamente.

Desde o primeiro toque, as dúvidas do quanto eu o amava se dissiparam e foram preenchidas pela cumplicidade compartilhada. Agora eu conseguia perceber como nunca foi amor o que eu sentia por Cauã.

Ao ter conhecimento das queimaduras de Theo, meus sentimentos por ele não se abalaram. Como poderiam? Eu o queria por inteiro, com suas qualidades e com suas dificuldades, assim como eu esperava que ele me aceitasse de igual maneira.

Naquele momento no telhado demos início a um elo não apenas físico e emocional, compreendemos o íntimo um do outro. Chegamos ao telhado cheios de dúvidas solitárias, e saímos com as certezas de nossos corações compartilhados.

Perdida em recordações dessa última semana de dezembro tentei voltar para o parágrafo do romance em minhas mãos, mas meu namorado bufou incrédulo:

— Sério que vai terminar assim?! Se Frodo for comido por uma aranha, quem vai ficar com o anel? Sam?

— Frodo? — com a cabeça deitada em seu tórax, enquanto ele mantinha as costas apoiadas em uma grande árvore na praça perto de minha casa, tentei lembrar a que personagem ele se referia. Afinal, havíamos combinado que por nossos gostos literários serem distintos leríamos livros diferentes. — Ah, o filme baseado nesse livro tava passando um dia desses na TV. Quer saber o que acontece? — ri com malícia pronta para lhe encher de spoiler.

— Melhor não. Se souber, não vou mais achar graça em ler — ele retomou a leitura, mas então voltou a me olhar. — O filme era bom?

— Achei legal, mas como não vi o anterior ficou um pouco sem sentido. São três filmes, talvez mais.

— Pelo visto perdi muitos anos de lançamentos no cinema — Theo contatou desanimado. Então sorriu para mim. — O que acha de alugamos os filmes? Mas outro dia, é claro, depois que eu terminar de ler o livro.

— Mas aí não vale me contar o que vai acontecer. Você vai saber toda a história.

— Prometo não sucumbir à tentação — rindo, ele inclinou-se e me beijou, para em seguida ambos os pares de olhos retornaram para suas respectivas leituras.

Sorri ao olhá-lo de relance outra vez me sentindo dentro de um conto de fadas por tê-lo ao meu lado nesse dia ensolarado. Ler na companhia de Theo tornava o livro mais interessante, podíamos discutir sobre os rumos de personagens, lamentar ou torcer por eles. Essa troca, mesmo envolvidos com histórias completamente diferentes, soava como o futuro perfeito que sonhei erroneamente por algum tempo com outro.

Quando o sol se escondeu ao dar lugar a tímida lua, interrompendo as sessões de leitura ao ar livre, nos dirigimos para o restaurante no qual Theo dizia que tivemos nosso primeiro encontro não oficial. Para mim havia sido na sala de atendimento doze, embora Theo dissesse que ali ainda era uma relação de médico paciente e não contava. No entanto, eu continuava a considerar a sala de atendimento doze, pois se não fosse por ela não teríamos iniciado nossa história.

Ao estacionarmos à frente do restaurante, percebi com frustração todas as mesas da varanda ocupadas — o lugar estava cheio. Vacilante, andei de mãos dadas com meu namorado pensava o que fazer com o meu pânico de lugares fechados e cheios se agigantando dentro de mim a cada passo.

— Não tem mesa na varanda — ele observou com frustração. — Vamos pedir para levar.

— Talvez possamos encontrar uma mesa perto da janela. — disse insegura, sentia-me mal por ter estragado seu convite de um jantar romântico.

Corações RessuscitadosOnde histórias criam vida. Descubra agora