A família Avelar era diferenciada por seus cabelos claros e seus olhos cor de âmbar, mas Gustavo Avelar era diferente. Sua falecida mãe, era uma Forchins de cabelos escuros — havia nele mais Forchins do que Avelar, com seus cabelos negros e seus rosto afilado. Um homem belo, mas belo que os Argos que eram famosos por seus traços bem desenhado.
Não havia comparecido na arena como seu pai o instruiu e sabia que isso seria mais um ponto perdido com o velho. Ele até pensara em ir, mas acabou parando para experimentar um vinho qualquer e acabou comparando um jarra, depois outro.
Estava bêbado.
Sintia um pouco de sede, muita fome. Não queria admitir, mas estava perdido naquela infernal cidade fedorenta a merda e lama.
Caminhou mais um monte, desceu uma ladeira. A cada momento as ruas ficavam mais curtas e mais escuras.As pessoas sempre o olhavam com um olhar severo, mas assim que olhavam para suas botas de qualidade e seu broche de prata em formato de meio lua, elas mudavam subitamente, lhe perguntando se ele estava perdido ou se precisava de ajudar.
— Não ! — ele gritava, irritado. — Fique longe de mim, seus criadores de porcos. Não quero suas mãos sujas em minhas roupas.
O vinho no seu cérebro já não estava tão forte e sua lucidez já estava se fazendo mais presente. Alguns segundos atrás, ele podia jurar que estava na rua principal, caminhando em direção ao castelo, mas não estava. Não tinha como negar, realmente estava perdido.
Lá no céu a lua se fazia gigante. A cidade estava iluminada. Também estava frio demais para se andar por aí, então ele se acomodou em um cantinho e dormiu, mas logo foi acordado com um balde de dejetos.
Se levantou aos saltos. Procurou o infeliz que fez aquilo. Olhou para cima, mas viu apenas uma janela aberta. Voltou a olhar ao arredores, mas foi surpreendido novamente por um novo balde cheio de resto de cozinha.
— Maldito ! — espreguejou. — Meu pai, Carlos Avelar saberá que seu filho foi maltratado.
— Minha irmã, Amanda Collins saberá que um mendigo me amaldiçoou — disse o homem. — Me poupe disse, moleque. Vamos, anda... saia daqui, seu lixo.
Ele se pôs a andar. Nunca se sentiu mais humilhado do que agora. O que havia de era com aquele povo ? Ele era o filho do homem que comandava o maior dos exército do reino, esperava um pouco mais...
Decidiu que já estava bem o suficiente para voltar a procurar a rua principal ou pelo menos uma que o levasse de volta para o castelo. Entro na esquerda,em um beco pequeno e apertado. A rua seguinte era larga e grande.Essa deve ser umas das ruas principal, pensou. Mas assim que chegou no final descobriu que a rua era bloqueada por um muro de tijolos cinzentos.
Havia um portão, um pequeno portão feito de ferro velho e cheio de ferrugem. Gustava forçou o portão, mas ele não se movia, era como tentar empurrar as montanhas.
— Ei, o que o'cê pensa que 'tá fazendo ? — gritou um jovem com o rosto cheio de sardas, vindo de um beco escuro.
Atrás dele vinha outros. Meninos com idades entre dez a treze anos.
— Abra o portão! — Gustavo disse com sua voz senhoral e por alguns segundos o rapaz sardento até vacilou, quase abrindo o portão, mas então disse;
— Uma moeda de ferro. Nada mais.
Gustavo revirou os bolsos procurando por uma moeda, uma moeda se quer. Mas não tinha nada. Devia ter gastado tudo na Vinalia.
— Rapaz, meu rapaz — falou sibilante. — Não há, nenhuma única moeda aqui comigo, mas se você abrir o portão, eu posso voltar aqui e lhe pagar. Juro que lhe dou um saco do mais puro ouro. Ouro vindo das Ilhas Isabel. Ouro vermelho, do mesmo ouro que os Collins fizeram seu trono.
O rapaz por alguns segundos ficou a pensar. Os olhos tão grandes e a boca meio aberta. Mas subitamente reagiu como se aquilo fosse uma atitude perigosa.
— Sem moeda, num há como passar — rugiu. — E quanto a essa faquinha em teu cinto ? Vamo fazer uma troca. O'cê me passa isto e eu o deixo passar. O que me diz?
— Minha adaga ? Mas eu a ganhei de presente. Estar na família a século. Quer o gibão ? O gibão é novo, basta lava-lo. Posso lhe garantir, ele estar novinho. Meu pai o comprou exatamente para ser usado hoje.
— Nada de gibam... Me passa logo essa porcaria de faca. Quero ela! Ou o'cê me dar ela ou eu lhe tomo.
Disse isso e avançou para por ênfase em sua ameaça. Mas Gustavo nunca esteve naquela parte da cidade e não sabia dizer o quanto as pessoas dali era violentas, então fugiu as carreiras. Os moleques o perseguiram com gritos de morte, aterrorizando ainda mais o Gustavo.
Ele correu, entrou na primeira brecha que viu. Seguiu reto por um beco longo e no momento que achou que iria emergir em uma possível rua principal,se chocou com alguém.
Gustavo caiu de costa no chão. Sentiu gosto de sangue na boca, talvez tivesse mordido a língua.
— Deuses... — disse uma voz fina.
Ele tentou se erguer, mas estava se sentindo tonto pela batida. Por fim, conseguiu se sentar na lama. Olhou para frente, a vista meio turva, no entanto conseguiu ver os traços de uma mulher.
— Seu idiota de uma... — disse ela, mas no momento que o viu, simplesmente se calou. — Você... está com o nariz sagrando.
Ela era loura, de cabelos curtos e com um sorriso tão doce no rosto que Gustavo podia jurar que tinha visto a alma da moça. Uma alma azul como um céu de verão.
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O Legado dos Collins - Escudo de Papel
RomanceAmor. Traição. Vingança. O livro O Legado dos Collins conta a estória de famílias que lutam em ascensão para roubar o trono dos Collins da família real. Em meio a todas as confusão e tramas mirabolantes, Amanda Collins, a rainha regente tenta r...