A Bonança

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Quarto do Oliver:

O Oliver continua estendido no chão, ele está a sonhar. Consigo sentir o seu suor, ansiedade e preocupação a percorrer todo o quarto, juntamente com os odores terrosos característicos de uma tempestade. São duas da manhã, e sei-o pelo constante brilho esverdeado que o relógio de cabeceira, pousado ao lado da cama, emana. Não consigo dormir, quer pela tormenta que se intensifica lá fora ou pelo desconforto que sinto ao deitar-me numa cama que não me pertence, e decido embrulhar-me na manta, deixada propositadamente para Oliver, e com a cabeça apoiada numa almofada,  aos pés da sua cama, fico a meditar. 

Ontem, depois de eu entrar no quarto, fechou a porta atrás de mim e ao dirigir-se para a cama, pegou no livrinho que outrora eu estivera a ler e pediu-me, ao sentar-se na beira e ajeitando algumas das almofadas: "Podes ler para mim?" Olhei-o com desconfiança mas assenti. Assim estivéramos durante algumas das horas seguintes, até que me apercebi que ele dormitara no meu colo, um vez que algures durante a nossa sessão de leitura sentei-me com as costas junto ao estrato e ele colocara a cabeça no meu colo, e começara a tentar sair sem fazer movimentos bruscos. Porém quase ao sair da cama o livro caiu da cama e foi parar ao chão com um baque ruidoso, sendo o mínimo para que Oliver num reflexo me agarra-se pelo cotovelo e me pedisse para ficar.

Contudo, não esperaria mais nada do que isto, eu e ele a dormir no chão, com a cama vazia e uma janela aberta, apesar da tempestade que se adensa no exterior, ele ao pé da mesma e eu aninhada aos pés da cama. Já estive para a fechar umas duas ou três vezes, fechei-a no subconsciente umas quatro e por fim, enregelada, levanto-me para concretizar a tarefa.

Estaco a meio do caminho, quando ouço a porta a abrir e ao virar-me vejo Moira... e Walter. A sua mãe entrar no quarto do filho, dado as circunstâncias, já é mau suficiente..para que ainda tenha que me justificar perante o seu padrasto. Era o que mais faltava.. justificar-me.

- Boa noite,Sarah...- cumprimenta-me Walter, quase num sussurro- Peço, desculpa...A Moira tinha que vir ver como estava o Oliver, se não, não conseguiria descansar. Não sabia que iriam dormir no mesmo quarto.

- Boa noite...- nem eu tão pouco, pensei limitando-me a pegar na coberta que até agora estivera enrolada e a dirigir-me para onde Oliver se encontrava

Moira seguiu-me e colocou-me a mão mesmo em cima de uma das cicatrizes que Ryan me fizera, fazendo-me, por momentos, regressar à Ilha.

- Espera, devemo-lo colocar na cama, ele dormirá melhor.- perante o seu tom preocupado, uma vez que era sua convidada e que tendo como desculpa ser sua mãe,  não contestei e pousando a manta sobre o beiral da cama dirigo-me com ela em direcção ao corpo adormecido de Oliver.

- Oliver... Oliver? - chama-o Moira, de joelhos a seu lado- Oliver..., acorda.

Mantendo-me quieta de pé junto dos corpos dos Queen, relanceio um simples olhar a Walter que nos observa com olhos atentos, ao pé da porta. Moira, tentando acordar Oliver não repara na mudança da sua linguagem corporal: ombros e músculos tensos, expressão facial compenetrada... Tento não exprimir as emoções que sinto ao antecipar o que iria acontecer... Tal como esperava Oliver acorda violentamente e num simples movimento imobiliza Moira contra o chão, o seu braço na sua garganta não engana o que ele pretende e percebo que Walter percebe-o pois dá um passo na nossa direcção.

- Walter- digo imperativamente sem o olhar, "Não se mexa!" era o que queria dizer, ao mesmo tempo que agarro o braço de Oliver e pressiono um ponto de pressão na fenda do seu antebraço

- Oliver!- chamo-o, e quase de imediato vejo a compreensão instalar-se na sua face, ele olha da mãe para a sua mão e afastasse até estar contra a janela, o seu olhar transmite terror e alterna-se entre as outras três pessoas presentes no seu quarto

Ânsia e preocupação, sentimentos que têm sido constantes desde que chegamos, intensificaram-se por todo o quarto e não pude conter uma exalação um pouco ruidosa, que contudo não foi ouvida uma vez que já se começavam a ouvir trovões e Walter não esconde a sua decepção. Tento ignorar Moira e Walter e percorro a distância que me separa do Oliver, abaixando-me para ficar ao mesmo nível do que ele e abraço-o. 

- "Gotov...Gotov,Тy Kak dela?" - pergunto num sussurro, apenas alto o suficiente para que seja ele o único ouvinte (Pronto...Pronto, como é que estás?), ele apenas assente

- Desculpa... Desculpem. Peço desculpa, mãe.- diz ele para os restantes

- Estou bem, Oliver. -garante-lhe Moira, nos braços do padrasto de Oliver- Está tudo bem, querido. Estás... Estás em casa.

Nessa altura, sinto-o remexer-se e olho-o à medida que se levanta, ajudando-me, em seguida a por-me de pé e seguindo para a porta.

- Podem sair, por favor? - pede Oliver já com a mão no manipulo com o intuito de a abrir - Ficarei bem... prometo, mãe.. só.. tenho que pensar.

- Não faz mal..., querido. - diz-lhe Moira, ainda um pouco abalada - Se precisares de alguma coisa sabes onde estamos... Não hesites... Boa noite, meninos.

Moira e Walter saem, contudo não consigo deixar de reparar na expressão da face do padrasto do meu parceiro ao sair do seu cómodo. Desprezo. Decepção. Faço tensão de sair mas ele agarra-me pelo pulso, e sentindo a aspereza da mais recente cicatriz percorre-a com o polegar.

- Não vás...

- Oliver, eu tenho o meu quarto , e se for para dormir no chão... ao menos fecha a janela...

- Desculpa-me - declara, ao mesmo tempo que se dirige para a janela fechando-a - Anda cá...- ordena dirigindo-se para a cama, pegando na manta que eu lá deixara muito antes de ele acordar

Arquei uma das minhas sobrancelhas - Estás doido? Viste a reacção do Walter e da tua mãe quando me viram aqui, a dormir no chão!!

- Sarah, as tempestades não duram para sempre... Eles não precisam de gostar, eles tem que aceitar. E não me digas que a Sarah Carter, que superou desafios infindáveis naquela maldita ilha, importa-se com uns simples comentários? - desafiou

- Esperei muito para ter uma família, não quero desiludi-los...

- Tens me a mim! Sempre tiveste... E não consegues desiludir ninguém... a não ser eu se não vieres para aqui. Vá lá, Sarah...- não tive tempo de responder, ele veio na minha direcção e abraçou-me com sofreguidão

- Eu preciso de ti... - disse-me... muito baixinho como se aquela confissão fosse um segredo só nosso

 muito baixinho como se aquela confissão fosse um segredo só nosso

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