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Michael via os pingos da chuva baterem contra o vidro e escorrer por ele como serpentinas sem rumo, nas mãos uma caneca fumegante de chá de menta, os pés friccionando-se para se aquecer como se as meias felpudas com desenhos fofos não fosse o suficiente, e os ouvidos atento ao dedilhar do violão atrás de si.

No sofá o loiro deslizava os dedos pelas cordas de olhos fechados, a mesma melodia se repetia e Michael particularmente gostava, admitiria caso Luke perguntasse, mas ele parecia muito concentrado para se quer notar a expressão de tranquilidade e satisfação no rosto do outro.

O garoto de cabelos coloridos soprou a caneca suavemente e caminhou da janela para o sofá, abriu espaço entre os papéis de Luke e jogou a manta cor de vinho por cima das próprias pernas. Ele gostava do frio que fazia, assim como Luke que parecia no mundo das nuvens, a mente viajando para lugares distantes.

—Eu gosto de como o seu cabelo fica quando você está assim — Michael murmurou mais pra ele do que para o rapaz a sua frente, os pequenos dedos deslizaram pelo ar até alcançarem a mecha loira que caia sobre os olhos de Luke, que ergueu os olhos para o outro e sorriu.

—Desculpe — Resmungou colocando o violão de lado, deslizou o corpo pelo sofá até que ficasse mais próximo de Michael. —O que quer fazer?

—Não, Luke, você pode continuar — Garantiu levando a xícara até os lábios e tomando um gole da bebida quente. —Parecia tão concentrado.

—Eu posso continuar depois.

Michael sorriu, já fazia um mês que Luke estava trabalhando na mesma música, amassando papéis e os jogando fora. O mais baixo nunca pressionou para ver ou saber sobre o que outro tanto escrevia ou pensava, apenas esperava poder ver quando tudo estivesse pronto. E apesar de Luke dedicar boa tarde do seu tempo ao amado violão preto e a cantar em bares por aí, ainda arrumava algum tempo para passar com Michael. Na maioria das vezes os dois passavam as tardes no sofá de Luke ou no tapete de Michael, juntos assistindo filmes ou conversando.

Michael continuava sem mobília e Luke surpreendia-se com o fato da flor vermelha ainda não ter morrido ou murchado. Não a matara e já passava duas quinzenas de dias. Talvez ainda vivesse pelo fato de Michael regá-la a cada dois dias e também tê-la nomeado, Summer, era irônico já que a planta só iria se abrir no inverno, ambos achavam graça daquilo.

—Podemos ver um filme? — Perguntou Michael indeciso. —Ou você pode só cantar até que eu durma.

—Você dormiu até meio dia, Michael — Disse com um falso tom de indignação mas não reclamou quando o outro deixou a caneca de chá no chão e deitou a cabeça em seu colo. Mike esticou o braço até alcançar a mão de Luke e puxou a manga de seu suéter, apertando-a entre os dedos. O garoto disse na primeira vez que o fez que era a maneira de saber caso Luke fosse embora enquanto ele ainda estivesse dormindo, e mesmo sem a chance de Luke ir embora, pois estavam em seu apartamento, Michael gostava de sentir os dedos de Luke segurarem-lhe pelos buracos da manga.

—Vamos Luke, cante — Pediu fechando os olhos, sentiu os dedos de Luke fazerem festinhas por sua pele e ouviu a voz doce dele preencher seus ouvidos enquanto cantava All I want. Ele amava aquela música e também amava como ficava na voz de Luke.

As palavras formando as frases e as frases formando as estrofes, então as estrofes formando a música. Que preenchia a sala na voz do loiro. Que cantava e observava os detalhes do rosto de Michael. Os cilícios tocando-lhe as bochechas delicadamente enquanto elas estavam de um tom rosado. Luke gostava de quando ficavam daquele tom, e gostava do fato de elas ficarem rosadas com mais frequência quando ele estava por perto. Os lábios naturalmente vermelhos e rechonchudos com uma fina camada de lip balm de cereja, o queixo que na visão de Luke era fofo, e os cabelos laranjas caindo por sua testa.

Ele era lindo e Luke seria o primeiro a admitir caso perguntassem, riu entre uma das estrofes da música e os grandes olhos verdes de Michael se abriram para o fitar, divertidos rolaram para trás e Luke soltou mais uma risada baixa. Agora estavam se fitando enquanto Luke ainda cantava, dessa vez mais baixo, quase como um sussurro. Os olhos verdes desviaram-se para a boca que abria e fechava devagar.

Os dedinhos de Michael soltaram a manga do suéter e subiram até que eles deslizaram pelo pescoço de Luke até sua nuca, o loiro sentiu-se arrepiar e inclinou-se para baixo, a distância não era segura e ele podia sentir a respiração de Michael estapear seu rosto da forma mais gentil possível.

Antes de finalmente alcançar os lábios carnudos ele sorriu, e deixou pelo caminho um beijinho em seu nariz.
Os lábios se tocaram, quentes e úmidos, Luke sentia o gosto de menta e Michael apenas o piercing frio do outro se misturar no calor do beijo, desajeitado pelo fato de Luke estar invertido, ou Michael, dependendo do ponto de vista.

Era a primeira vez que acontecia e ambos podiam sentir o desconforto na barriga, passava de insetos nojentos voando lá dentro, era mais intenso do que isso, tão intenso que poderia tirar o fôlego.

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