Cristo

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Antes de falar sobre mais um deus criado pelo homem para suas finalidades políticas, mercantis, precisamos esclarecer alguns eventos bastante importantes para a compreensão do que exporemos adiante. Vejamos:

Na organização monárquica israelita adotou-se o costume de "banhar" com óleos vegetais a cabeça do rei antes de este assumir o governo. O ritual de ungir o "escolhido" simbolizava um compromisso de fidelidade entre este e o deus cultuado por aquele povo. Servia como a homologação que dava "soberano poder", dito divino, ao ungido.

Porém, naquela cultura, mesmo sendo o rei uma espécie de representante ou braço direito do deus, ele somente agia conforme as suas ordens. Ou seja, segundo o querer do sacerdote. Isso porque eram eles, os sacerdotes, quem ditavam as regras e davam as cartas. Assim, antes de qualquer ação, se fazia obrigatório à majestade consultar deus, quer dizer, o sacerdote.

Esse é um costume que não está mais em voga. País nenhum lambuza com azeite a cabeça de seus governantes para lhes legitimar autoridade e o obriga a consultar algum beato, antes de tomar suas decisões, para saber se um deus permite ou se dará certo.

Essa mentalidade rudimentar, tribal, retrógada, medieval, continua hoje preservada apenas nas ilusões e mentes religiosas monoteístas, sobretudo, disfarçada no vocábulo cristo. Isso se deu porque a palavra ungido, מָשִׁיחַ [Māšîaḥ] em hebraico, foi transliterada para o português como messias, enquanto para o grego, na Septuaginta, foi traduzida como Χριστός [Khristós] chegando ao português grafado como cristo.

Ungido, messias, cristo tem o mesmo significado, ou seja, é a mesma coisa! E é desta raiz etimológica que provêm às bases culturais do ideário messiânico, o messianismo judaico, do qual o cristianismo se derivou apossado deste "neologismo", retocando uma série de crendices que, mais tarde, das asas do império romano, percorre o mundo.

A base que deu sustentação a esta crença, que surgiu acanhadamente no meio israelita depois de sua divisão em dois reinos, é a de que a ascendência do governante para aquele povo repouse sobre a dinastia de Davi, de sua linhagem. O qual é tido como o maior entre os reis israelitas, que melhor serviu e obedeceu a vontade do deus hebreu. Aquele que teve a capacidade de unificar as 12 tribos israelitas, continuar as matanças e escravização na região, ampliar territórios e consolidar seu domínio em nome do deus Jeová, o temível e impiedoso senhor dos exércitos.

Os constantes conflitos entre esse povo fez desmoronar essa união, ocorrida após a morte do rei Salomão, filho de Davi, já no reinado de Roboão, seu neto, desencadeando uma disputa desenfreada pelo controle político e religioso entre duas regiões: Israel, ao norte, e Judá, ao sul. Como resultado, 10 das 12 tribos se rebelaram contra Roboão e formaram o reino de Israel, sob o comando de Jeroboão.

Essa cisão se deu principalmente pelos privilégios econômicos que recebia Judá, sede do reino unificado em sua capital, Jerusalém. É a partir destes impasses internos, trazendo como consequência constantes assassinatos entre a realeza, sobretudo da parte de Israel, que surgiram correntes favoráveis [construídas pelas ideologias ditas proféticas] à necessidade de nascer um rei valente igual Davi [seu descendente] que deveria ser escolhido e ungido em nome do mesmo deus, e pudesse novamente reunificar aquelas tribos e continuar a bandeira divina de antes: invadir e tomar territórios, matar, escravizar, impor tal deus como o único.

Essas intenções ganham cada vez mais fôlego em determinados períodos conflituosos de sua história, quando impérios vizinhos [assírio, persa, babilônio, grego, romano] passaram a invadir seus territórios, dominar e transforma-las em nações tributárias, fazendo desmoronar completamente aqueles reinos. Nestes momentos de angustias, o povo era fortalecido por alguns indivíduos opositores com promessas gloriosas [ditas repassadas pelo deus em visões] com perspectiva de seus territórios serem logo restabelecidos e o reinado reimplantado exclusivamente para os judeus.

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