Divinização da Ignorância

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Ao contrário do que impõem as religiões, em sua maioria, sabemos hoje, principalmente por meio de descobertas arqueológicas, que há pelo menos 2,6 milhões de anos os primeiros proto-humanos ou hominídeos despertavam de sua longa jornada evolutiva para construir e usar as primeiras ferramentas em sílex, um tipo de pedra dura e fácil de moldar, que servia para cortar carnes e objetos. É a Idade da Pedra, a primeira revolução tecnológica humana.

Nota: Para saber a idade de fósseis é empregado o método da datação radioativa. Nestes casos, são mais usados o carbono 14, com meia-vida de 5.730 anos; o potássio 40, com meia-vida de 1,25 bilhão de anos; e o urânio 238, com 4,47 bilhões de anos. Pesquise sobre "datação de fosseis" e conheça.

Em seu lento desenvolvimento intelectivo, mais tarde, por volta de 800 mil anos antes da época presente, ele domina o fogo. Sendo esse o seu mais importante passo, possibilitando, com o melhoramento do alimento, melhor aproveitado, aperfeiçoar inclusive a sua anatomia.

Seiscentos mil anos mais tarde, o homem moderno toma forma, começa a falar, podendo trocar experiências, estabelecer rudes conceitos sobre o mundo que o cerca. De seu berço na África, nos cem anos seguintes, espalha-se por toda a Terra. Há aproximadamente 50 mil anos já fazia instrumentos musicais com ossos, como a flauta, época em que surge o pensamento simbólico, os desenhos nas pedras, inscrições rupestres, evidências de uma espécie bem mais inteligente do que antes.

Há 10 mil anos, com o planeta envolvido em gelo, período conhecido como Idade do Gelo, ele resistiu e ampliou suas habilidades.

Entretanto, há seis mil anos apenas e aproximadamente, tendo por base o século XXI, é que foi possível ao homem inventar a escrita, momento este em que já estavam fixados, por meio de povoações, em pequenas cidades conhecidas como cidades-estados.

E é a partir destes núcleos habitacionais, formados próximos a grandes rios, que o homem se desenvolveu formando civilizações, consequência da interrupção de seu nomadismo de centenas de milhares de anos, da domesticação de animais e plantas e dominação do comércio nascente.

No período anterior, nômade, o homem existia em inúmeros clãs familiares, de galho em galho, vivendo nas mais precárias condições. Uma trajetória que não foi de flores. Nela, ele enfrenta a fúria do frio, da água, do fogo, das condições extremas, catastróficas, imprimindo em si o medo dos fenômenos da Natureza, do desconhecido, inventando as superstições para justificar sua absoluta ignorância de tudo. Nascia aí o mito.

Mitos são narrativas contadas e repassadas oralmente de pessoa a pessoa, sem registro formal, isto é, escritos referentes aos deuses e à natureza, ostentados como revelações divinas, assim, incontestáveis e inquestionáveis. São concebidos sobre três pilares fundamentais e fazem parte, sem exceções, da história de todos os povos antigos. Têm por objetivos iniciais:

I - determinar pai e mãe para as coisas e os seres, alegando que tudo que existe é resultado da criação do deus particular do povo que conta a história, ou de relações sexuais entre forças divinas pessoais;

II - idealizar rivalidades e alianças entre os seres criadores e suas criaturas, sempre resultando em malefícios no mundo dos humanos;

III - definir recompensas e castigos que os deuses dão a quem lhes obedece ou desobedece, justificando as atrocidades brutais que aconteciam ou eram cometidas como ditas 'vontades dos deuses', sob o pretexto de "quem cria tem o direito de destruir, humilhar, matar".

E, portanto, tem por objetivo último, como religião, aterrorizar o homem para assim facilitar a manipulação, a escravização e a irrestrita dominação.

Para firmar suas convicções, esses idealizadores alegavam que não era qualquer um que tinha o direito ou a capacidade de receber tais informações: apenas os escolhidos dos deuses ou espíritos, como sacerdotes, sacerdotisas, profetas – representantes do sagrado -, eram investidos de toda a autoridade para dar testemunho, seja por presenciar o ocorrido, seja por receber informações diretamente de quem causou ou de seu mensageiro. E tudo isso começa nos pequenos grupos, no clã familiar.

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