Que é Deus?

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Quando alguém toca no assunto deus e imediatamente não bajula o de alguma religião, imediatamente surge o questionamento: "Você é ateu, não acredita em deus?" Veja bem a malícia da pergunta. O interrogante quer que você afirme terminantemente: "Acredito!" Mas acreditar em qual deus, uma vez que cada religião tem o domínio de um? Não vale o inquirido afirmar sim se não disser qual, e esse for exatamente o que a outra acha que é. Assim surgem as confusões. E é neste ponto que a humanidade, há milênios, encontra-se encalhada.

A interrogação seria bem mais racional se fosse: "Você admite a existência de Deus?" E se a resposta for negativa, não deveria haver contenda, porque se formos procurar em livros tidos como sagrados algo que pudesse representar tal expressão, conforme deveria realmente ser, jamais encontraríamos. O que observamos ali é o ideário sobre deuses [homens] cruéis, ciumentos, desajustados, mandando matar, roubar e escravizar nações para lucrar com a coisa alheia.

Então, esse algo maior que imaginamos e convencionamos chamar de Deus, o que seria? Existe? Apesar da maioria dos adeptos de religiões serem induzidos a achar tudo saber, a resposta mais sensata é: "Não sei o que seria; como também não sei se existe".

Aquele que fanaticamente afirma saber que existe é igualzinho ao que enfaticamente diz não existir. Pois ninguém sabe, por mais que afirme saber.

Este é um assunto meramente mateológico. Quer dizer, estudo inútil, fora do escopo da compreensão humana. Por enquanto, a humanidade vive apenas de especulações, querendo cada religião [que se impõe como o caminho para entendê-lo] saber mais do que a outra, impondo suas fábulas, a causar cada vez mais contenda e divisão entre todos. Assim, para não admitir e suprir essa ausência de conhecimento nosso, que é fato, a crença entra na jogada, com suas imposições dogmáticas, ficando fácil manipular, dominar por força do imaginário criado no passado sobre deuses extremamente desequilibrados, esquizofrênicos, individualistas, ciumentos, gananciosos, agressivos, cruéis. Isso para dizer o mínimo.

Intransigente, quem é travado pelas crendices, pela fé, afirma: "Eu sei o que é deus, eu sinto a sua presença, fui curado, converso com ele." E ainda: "Quando você tiver experiências assim, como eu tenho, vai saber que deus existe". Apenas por hipótese, como comprovar? Ou neste caso não é necessário comprovação?

É por motivos como esses, por não querer usar a cabeça, que muitos são facilmente manipulados e defraudados hoje. Querendo ou não, há aí outros quinhentos, nada tendo a ver com o que realmente poderíamos chamar de Deus. Se alguém diz saber, fica apenas no achar, no consolo manipulador da crendice, da fé. Nada sabe. Mais adiante, abordaremos esses fenômenos que alguns chamam de milagres, curas, e o "tipo de deus" que faz isso acontecer.

Hoje em dia, com o avanço científico e mediante os fatos, é possível observar, com toda clareza possível, não existir um deus atuando mecanicamente sobre tudo, principalmente a beneficiar aqueles que a ele se aliem, como alegam os livros religiosos e, por conseguinte, querem os crentes. Mas isso não exclui a possibilidade de existir inteligências bem mais elevadas do que nós terráqueos, desmaterializadas, ou, se alguém preferir, Deus [ou deuses]. Disso não discordo.

O que repudio veementemente é alguém querer definir e impor aos demais o que é, como é, como faz, porque faz, de quem gosta, de quem odeia, do que prefere, tudo isso para encurralar e escravizar umas às outras, quando de fato elas não conhecem nem a si mesmas. E esse tem sido o principal papel, há milhares de anos, de donos de igrejas e da religião em geral. Aqui entra a força da crença manipuladora, a ciência do achismo, o aceitar, o acreditar: a fé que não requer averiguação dos fatos, imposta como se bastasse apenas crer para se saber de tudo. Isso baseado e construído exclusivamente em primitivas teorias de quem sacrificava gente e queimava animais oferecidos aos deuses que o próprio homem inventava para controlar os outros. Atualmente aceito pela imposição supersticiosa e lucrativa da indústria da fé.

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