Prólogo

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  Um dos principais problemas das pessoas arrogantes é que, ao menor sinal de insegurança, a gente acha que vai morrer. A sensação é tão nova, tão diferente, que é mais fácil acreditar que tudo o que conquistamos com o passar dos anos vai ruir porque nossas mentes se tornaram um aglomerado preocupante de falta de auto-estima, pessimismo e ansiedade aguda.

  Eu tinha passado os últimos quinze minutos revivendo tudo o que já tinha feito de errado na vida, como naqueles momentos em que sua mãe grita o seu nome completo e você já vai imaginando qual foi o podre seu que ela descobriu. Mas mães são cercadas com aquela aura linda de amor por suas crias, e eu sempre consegui usar isso a meu favor. Chefes, no entanto, não podem ser conquistados por lembranças arrebatadoras de quando você era um pequeno bebê de colo, até porque tais lembranças não existem. Você é um funcionário pago para servir, obedecer e ser prestativo, e a possibilidade de eu não estar fazendo direito alguma dessas funções me deixava extremamente aflita. Não havia outro motivo plausível para eu ser chamada pelo Sr. Blaine (também conhecido como patrão, manda-chuva, poderoso chefão, dono do útero das funcionárias e alguns outros títulos de caráter menos ortodoxo).

  O cara só podia querer me demitir.

  Seria uma mancha irreparável no meu currículo. Eu tinha acabado de começar o quinto período da faculdade, virado estagiária do maior escritório de arquitetura do país e tudo para dar certo na vida, exceto a aprovação do ser humano que paga o meu salário e que poderia me chutar para fora da empresa se assim desejasse.

  Como dito anteriormente, a tal da sensação de insegurança era meio nova. E não ajudava muito o fato de a secretária do Sr. Blaine ter chegado com aquele olhar de desaprovação e anunciado em alto e bom tom, que eu era requisitada na sala do chefe em vinte minutos. Ainda faltavam cinco, e eu provavelmente teria um ataque de pânico antes disso se meus colegas continuassem me encarando como lobos famintos no meio de um rebanho de ovelhas. Todos nós sabíamos que apenas alguns conseguiriam emprego ao fim do estágio. A vontade de eliminar uma concorrente era até compreensível.

  Me perguntei onde estava o respeito entre os companheiros. A camaradagem. Só encontrei olhares curiosos, ávidos por uma fofoca nova, uma demissão dramática que pudessem comentar. Doces seres humanos.

  Juntei meu último fiasquinho de esperança, na minha típica predisposição para o drama. Passei a bolsa pelos ombros e fui em direção à sala do Blaine, ignorando todas as cabeças viradas na minha direção. Minha saída foi quase triunfal, apesar do meu estado desesperado. Poderia ser uma coisa boa, no fim das contas. Eu estava entre os estagiários com a melhor colocação no processo de admissão e só vinha recebendo elogios, não era possível que em duas semanas eu já tinha alguma falha inaceitável que obrigasse o Blaine a me dar um esporro ou a me demitir.

  A alguns metros da sala, comecei a sentir minha confiança voltando. Assumi minha recém descoberta postura profissional e respirei fundo. A secretária já me esperava na porta com uma expressão neutra e a voz monótona de sempre.

- O Sr. Blaine irá recebê-la agora.


Carpe NoctemOnde histórias criam vida. Descubra agora