Meus problemas de ansiedade começaram ainda no útero da minha mãe. Nasci prematura. Andei e falei cedo demais. Aprendi a ler frases completas aos quatro anos, quando todas as crianças da minha turma ainda não entendiam muito bem como duas letras eram combinadas para formar um único som. Durante a ceia de Natal eu já meditava sobre o que ia pedir de presente no ano seguinte. Eu era boa nessa coisa de querer tudo antes da hora e passar noites em claro pensando em algo que só iria acontecer dali a muito tempo, o que me rendeu horas intermináveis em psicólogos e unhas roídas até a vaidade finalmente falar mais alto e salvá-las.
Dessa vez, contudo, não tive o gostinho de rolar na cama esperando o despertador tocar para o dia finalmente começar. Dormi imediatamente, o que frustrou todos os planos de aproveitar a televisão de setecentos mil canais e a infinidade de espumas coloridas que eu poderia desperdiçar na banheira. Também acordei tarde, o terror dos terrores, mas Agnes me garantira que o café da manhã só seria servido às dez e que ninguém tinha marcado nenhum compromisso antes do almoço justamente para que pudéssemos dormir depois de uma sexta-feira puxada.
Desci antes do horário para causar uma boa impressão, o que eu não tinha feito muito bem no dia anterior. No fim das contas, acompanhei a chegada de quase todo mundo enquanto Agnes ia, gentilmente, me dizendo os nomes e algumas pequenas apresentações.
Blaine chegou no horário exato, numa pontualidade que, eu estava percebendo aos poucos, era sua marca registrada. E embora todos os homens ali se vestissem quase da mesma maneira e parecessem tirados de uma mesma forma, um único olhar era suficiente para perceber quem era o chefe. Dois outros sócios estavam ali, mas Blaine se encaixava no cargo como se tivesse sido treinado desde sempre.
Não achei muito educado falar da vida alheia com ele chegando, e Agnes parecia pensar a mesma coisa quando ficou em silêncio subitamente. Previ que ele se sentaria na frente de Ethan e estava correta, o que o deixou relativamente perto de mim. De repente as colunas jônicas não eram mais a única coisa que eu achava realmente bonita no salão.
- Bom dia, Alec. Agora que temos sua ilustre presença as conversas ficarão ainda mais interessantes, suponho - falou Ethan, com uma provocação evidente na voz. A mesa estava cheia mas apenas o outro sócio presente tinha se dirigido a ele até então.
- Café primeiro. Conversas depois - Blaine ensaiou uma arqueada de sobrancelhas, suavizando a expressão logo em seguida. Viva a cafeína, meus caros.
Alguns instantes passaram em silêncio, eu me perguntando se valia a pena comer outro croissant e Blaine correndo os olhos pela mesa sem se servir novamente.
- Você ainda não apresentou a garota, Alexander - observou o homem de ascendência híndi cujo nome eu tinha problemas em guardar.
- Naveen, essa é a senhorita Lancaster. Lancaster, esse é Naveen Reyansh, um dos meus sócios. Aproveitem a companhia um do outro porque não irão se ver futuramente a não ser que seja estritamente necessário. E não me olhe com essa cara, Ethan, eu vou continuar desagradável enquanto estiver com fome.
- E se eu bem te conheço, você não vai comer porque tudo nessa mesa contém carne - observou Ethan.
- Exatamente. Por que os espanhóis têm essa necessidade de colocar presunto em tudo?
- Eu acho - Ethan começou, engolindo um grande pedaço de pão sem mastigar direito - que você deveria ser multado por vir aqui todos esses anos e nunca ter experimentado uma paella.
Ele deveria ser multado por não conhecer a melhor construção do país, pelo amor de Deus.
- Você tem ideia de quantos animais precisam morrer para você comer a sua maldita paella? - Blaine comentou suavemente.
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Carpe Noctem
RomanceEu costumava achar que tinha tudo sobre controle. Era jovem, bonita, com um futuro promissor pela frente. Tudo ia muito bem, obrigada. Minhas preocupações giravam em torno de ir bem na faculdade e conseguir um bom emprego. Em outras...