Se eu soube como agir? Definitivamente não. Com um pouco de sorte, Blaine não percebeu o quão excessivamente meus hormônios trabalhavam e, tirando a minha frustração, eu havia saído ilesa.
O clima não ficou estranho ou desconfortável em momento nenhum, mas eu sentia uma distância surgindo, tão nítida como se eu pudesse tocá-la. Antes éramos chefe e subordinada numa ocasião que permitia, talvez, um pouco mais de informalidade. Agora ele se mostrava tão ciente quanto eu de que qualquer exagero de proximidade pudesse ser prejudicial.
Mal tive tempo de me jogar na cama ao chegar em casa. Até Catavento, meu gato obeso e ciumento, mostrava mais respeito pelo meu espaço pessoal que Rachel. Eu só queria que ela fosse um pouco mais compreensiva com o meu sono; me deixasse largada até o despertador tocar no dia seguinte e eu morrer por dentro com a perspectiva de ir à faculdade. Invés disso, ela me atormentou com perguntas intermináveis e, Deus, eu precisei me esforçar muito para respondê-la. Sabia que, no lugar dela, agiria da mesma forma. Mas eu só queria apagar e me distanciar o máximo possível do meu cansaço físico e dos tormentos que Blaine me trazia.
O que diabos eu quase tinha feito?
- O Blaine é tão gostoso pessoalmente quanto nas fotos? - ela soltou de repente.
- Que? - perguntei surpresa, afastando as mãos dela, que arranhavam meus joelhos de leve. - Que fotos?
- Como assim ''que fotos''? Existe uma coisa chamada internet, Venus. Eu só procurei.
Meu Deus, o que mais me faltava? Ela também iria aparecer com uma revista de fofoca o intitulando como um dos solteiros mais cobiçados do país?
- Você não me respondeu - ela disse, se demorando em todas as sílabas, algo que eu odiava. Parecia que eu era débil e ela tinha que falar pausadamente, o que acontecia bastante quando ela queria me irritar gratuitamente.
- É. É sim - bufei. - Ele é um cara bonito, mas nada demais. O sócio dele também é, se quer saber - acrescentei, ansiosa para mudar o foco da conversa. Eu podia passar horas falando sobre Ethan sem problemas. Era quase como falar de um famoso qualquer ou daquele menino popular que você sabe que nunca notaria você. Divertido, fácil, mas impessoal. Não quis correr o risco de falar o que não devia e ela notar que eu me sentira atraída pelo chefe.
Funcionou.
- Sério? - ela se empolgou. - Qual o nome dele?
- Ethan Castellari - respondi, oferecendo meu celular quando vi que ela não conseguia achar o dela. - Prove suas habilidades de stalker.
- É pra já!
Rachel ficou em silêncio por alguns segundos, concentrada, até que ergueu os olhos. Um sorriso discreto, porém bem malicioso, surgia no canto da boca.
- Nossa. Você tinha razão. Nossa - repetiu ela. Inclinei-me para olhar a foto mas ela passou para a próxima. - O que são esses olhos? E essa carinha de bebê!
- O bebê tem o dobro da sua idade, sabe - comentei depreciativa.
Ela revirou os olhos.
- Você tem muita sorte. Tipo, muita mesmo. Conseguiu um estágio super bom, foi pra Barcelona de graça e ainda passa todas as tardes com esses homens lindos.
- Na verdade não - Eu ri. - Ethan fica em outro departamento, nem sei direito onde. E o Blaine quase nunca vê os próprios estagiários.
- Não importa. Seu patrão é um velho muito gracinha. O meu é um mal amado que nunca fica satisfeito com nada.
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Carpe Noctem
Roman d'amourEu costumava achar que tinha tudo sobre controle. Era jovem, bonita, com um futuro promissor pela frente. Tudo ia muito bem, obrigada. Minhas preocupações giravam em torno de ir bem na faculdade e conseguir um bom emprego. Em outras...