Capítulo Dez

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   Contrariando todas as expectativas, eu tinha um namorado aos 17.

   Aconteceu meio do nada. Quer dizer, Will sempre estivera na minha turma, mas nunca conversávamos. Um dia arrumou um pretexto qualquer para falar comigo - pedir uma caneta emprestada, talvez - e quando percebi, ele era a primeira e a última pessoa com quem eu falava na sala.

   Saíamos com frequência, em grupos cada vez menores. Na primeira vez que fomos sozinhos ao cinema, ele confessou querer algo a mais comigo e eu o beijei. Ficamos mais algumas vezes, e quando estava óbvio que tínhamos um relacionamento um tanto quanto sólido, começamos a nos tratar como namorado e namorada.

Eu não fui loucamente apaixonada por ele. Nem perto disso. Mas os meses que passamos juntos foram sinceros e divertidos. Eu tinha boas lembranças com ele, e um carinho imenso. Tive as experiências de um primeiro namoro, de borboletas na barriga, de risadas altas abafadas com beijos roubados; aproveitei nosso tempo sem pressa, mas com a certeza de que acabaria em breve.

Perdi a virgindade com ele num sábado qualquer. Rachel tinha ido comigo na caça implacável pelo vestido de formatura perfeito e passamos a manhã toda andando em frustração, desesperada pelos preços abusivos ou pelos modelos que nunca pareciam ser o que queríamos. No fim de algumas horas ela desistiu. Eu pedi para que Will se encontrasse comigo no centro e depois de algumas voltas, fomos para a casa dele.

Tivemos privacidade durante toda a tarde. Um marco histórico para quem estudava há anos em colégio interno. Minha experiência se resumia a encontros furtivos quando ele se esgueirava pelo dormitório e eu tinha que tomar conta da porta antes que alguém me descobrisse com um garoto enfiado debaixo da saia.

Aconteceu com calma, no nosso ritmo, com todos os movimentos desajeitados que tínhamos direito. Fiquei nua antes dele e descobri que não existiam motivos reais para que eu me envergonhasse do meu corpo. Descobri que não havia porque temer a proximidade e que mesmo com essa mentalidade contemporânea de desapego e troca de parceiros, nós ainda temos muita vergonha dos corpos alheios quando não se trata de algo sexual. Ainda muito tímidos, muito presos.

Doeu menos que o que haviam me dito que doeria e bem mais do que eu gostaria que tivesse. Quando ele deixou o corpo cair ao lado do meu eu só conseguia pensar em gargalhar, eufórica demais por finalmente ter feito sexo. Também não foi tão bom como quando ele me chupava, mas eu começava a entender porque as pessoas eram tão fascinadas por aquilo.

Terminamos pouco tempo depois, com alguns momentos memoráveis e fugidas durante o baile. Na ocasião, minha mãe notou e me presenteou posteriormente com um pacote de preservativos de uva. Invés de ficar constrangida, tudo o que eu conseguia pensar era se ela realmente achava que eu iria fazer oral de camisinha. Naquela altura eu já decidira que não era nada de outro mundo, e que eu não tinha nojo de esperma.

Will e eu terminamos, nenhum dos dois querendo fazer muito esforço de manter o relacionamento depois do fim do ensino médio. Eu me afastei inconscientemente de qualquer cara, foquei na faculdade, na realização daquele primeiro passo tão importante pra mim. Rachel protestava, tentando me arrastar de casa, e só foi ter êxito no fim do semestre.

Conheci um cara nesse dia. Conversamos, dançando timidamente e dividimos doses de gim tônica. Eu não tinha intenção de transar com alguém que não fosse meu namorado, muito menos de namorar enquanto meu foco total estava nos estudos. Contudo, o clima esquentou e de repente eu quis fazer. Simples assim. Quis me livrar de cada peça de roupa e quis que ele se enterrasse em mim.

Aquela noite me libertou. Não que eu precisasse ser salva por um homem, mas porque precisava me livrar de uma série de preconceitos que não sabia que tinha. Perceber que eu podia namorar alguém, fazer sexo casual ou enterrar a cara nos livros e não sair por nada desse mundo. Que nenhuma possibilidade anulava ou desvalorizava a outra. A Venus que tinha decidido abrir as pernas para um cara legal e atraente que acabara de conhecer simplesmente por prazer não era pior que a Venus que perdeu a virgindade com um namoradinho meio sério. Gostar de sexo não atrasava ou limitava nenhum outro aspecto da minha vida.

Carpe NoctemOnde histórias criam vida. Descubra agora