Capítulo 15

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      Os últimos dias do ano passaram rapidamente e já era dia 31 de dezembro de 2015. Eu não falava com Thiago desde a noite do dia 26 e pensei muito sobre isso. Não posso negar que tenha ficado nervosa com o fato de ele não ter me procurado, mas eu havia dito que precisaria de tempo e acho que ele entendeu.

Meus pais estavam de folga e aproveitaram para descansar para a noite da virada.

Após o almoço, li um pouco, mas logo me cansei já que não estava me concentrando. Pensei em ir à casa de Thiago, mas logo descartei essa ideia, já que ainda não sabia o que iria dizer. Minhas amigas disseram que eu deveria dar uma chance para ele e eu cheguei à conclusão de que eu quero dar uma chance. Dormi um pouco para descansar a mente.

Acordei quando meu celular chamou. Mensagem.

Sempre ficamos na expectativa quando o celular chama. Na maioria das vezes nunca é o que estamos esperando e eu sempre acabo me decepcionando com isso. Eu não esperava nada em especial dessa vez, talvez fosse apenas alguma das meninas mandando alguma coisa, mas não era, não dessa vez. Era Thiago.

Thiago: Oi.

Isadora: Oi.

Thiago: Tudo bem?

Isadora: Estou sim. Preciso falar com você.

Thiago: Fala.

Isadora: Prefiro cara a cara.

Thiago: O.k, to indo pra aí. Ainda vai hoje?

Isadora: Vou.

Depois disso, não trocamos mais mensagens e minutos depois, ele bateu em minha porta. Usava uma bermuda e regata.

— Quer sair? — ele perguntou.

Concordei.

— Posso levar a Grace?

— Claro.

Coloquei a coleira nela e fomos andando pela estrada. As costas de nossas mãos se esbarravam de vez em quando e me senti tentada a pegar na mão dele e por algum motivo o fiz. Thiago me olhou com uma expressão de surpresa, não com aquela atitude antiga de se achar.

— Tirando que está tudo fechado essa hora, está muito bom andar no sol — Thiago disse no caminho, sendo irônico e tentando quebrar o gelo que eu criei.

— Para onde vamos então?

— Não faço ideia, mas estou cogitando sentar embaixo daquela árvore — ele apontou para uma árvore em um terreno fechado por uma cerca. Não havia casa, apenas algumas árvores. Passamos por baixo da cerca e nos sentamos na sombra da grande árvore.

— Creio que isso deva ser ilegal — comentei.

— Talvez.

Thiago soltou minha mão e correu em direção ao terreno.

Grace já queria correr, mas enrolei a coleira em minha mão, não deixando ela sair de perto de mim.

Ficamos batendo papo e ele não cobrou o que eu tinha para falar.

— Planos para o ano que vem? — perguntei.

— Não sei — Thiago deu de ombros. — Melhor deixar rolar e ver no que vai dar.

— Legal, mas prefiro ter algum controle sobre minha vida.

— E você acha isso possível? — ele foi sarcástico.

— O.k, você tem razão, mas uns planos dão certo, é só ter foco.

— E o que você pretende fazer ano que vem?

— Quero me encontrar aqui — respondi.

— Quer saber a verdade? — ele perguntou depois de um tempo em que ficou calado, me deixando curiosa para saber o que se passava por sua cabeça. — Eu não quero ficar aqui.

Não pude deixar de me surpreender com aquilo. Não era grande coisa, mas sempre o vi como alguém que amava ser do interior.

— Não é que eu não goste daqui, entende? Eu tinha mais vontade de sair daqui antes, mas... — ele não acrescentou nada após o "mas" e minha curiosidade era tanta que questionei qual viria ser o "mas" dele, já que aprendi uma vez que após um simples "mas" as coisas ditas anteriormente podem não ter um significado tão importante.

Ele novamente não respondeu com palavras, mas desvendei o fim de sua frase por sua expressão facial. Um sorriso torto e um breve olhar em minha direção, que ele logo desviou. Não havia mistério e nem intenção de ter um. Fiquei sem graça por saber que eu era o motivo por ele não querer ir embora, quer dizer, não tanto quanto antes.

— E... para onde pretende ir? — tentei quebrar o gelo que ajudei a criar e acabei estragando uma boa oportunidade para falar o que eu tinha para falar sobre ter tomado minha decisão.

— Para a cidade, ou quem sabe para outro país, não sei, são muitos lugares nesse mundo e eu aqui, sendo apenas um caipira — ele deu um sorriso irônico.

— Não, você é mais que isso.

— Vou ser mais que isso um dia.

— Nossa! Você não tem que achar que não é ninguém por morar aqui.

— É mesmo? E o que você acha, Isadora? Lembra de tudo o que disse sobre este lugar? — ele estava mesmo nervoso, não comigo mas com si mesmo, o que não era nada bom. E eu que achava que ele era super convencido.

— Mas isso foi antes, agora acho que tudo bem morar aqui, é claro que ainda estou me acostumando. Também pretendo ir para outro lugar um dia, na faculdade por exemplo, mas morar aqui agora, não está sendo ruim.

— Agora?

— Sim, principalmente nesse momento.

Thiago olhou para mim, fixei meus olhos nos dele, porém Grace pulou em cima de Thiago.

— Acho que ela quer brincar — ele riu e deitou na grama.

— Você vai ficar cheio de carrapicho — comentei e sorri.

Ele me puxou e me fez deitar na grama alta. Gritei e ri.

— O que disse patricinha da cidade?

Ele disse enquanto Grace corria envolta da gente. Thiago olhava em meus olhos e estava tão perto.

— Nada, caipira — sorri.

Senti que ele iria me beijar, mas o fiz antes, aproximando ainda mais meu rosto do dele e lhe beijando ali no chão daquele campo de grama alta durante um belo fim de tarde. Tive certeza ali, naquele momento que aquela foi uma das poucas coisas certas que já fiz na vida.

Nos afastamos e ambos sorrimos e isso já falou mais do que qualquer palavra que exista nesse mundo ou em qualquer outro. Repousei minha cabeça em seu peito e ouvi seus batimentos rápidos que aos poucos foram desacelerando, assim como os meus. Ficamos ali até o sol se pôr e foi a melhor sensação da minha vida.


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