Capítulo 21

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      O tempo jamais deve ser desperdiçado. Talvez não haja tempo perdido e o tempo que achamos que perdemos foi algo necessário para nosso crescimento. Enquanto estive dentro do carro, vi inúmeras paisagens diferentes, vi pessoas e vi o tempo passando, vi o dia perder o brilho enquanto pensava em Thiago, enquanto lembrava de tudo que passamos, tudo que eu passei também. Estava prestes a voltar ao que eu considerava ser a minha vida inteira, mas aquela é uma vida que já desconheço. As festas barulhentas que iam até tarde da noite, eram divertidas, mas na época eu achava que não poderia passar um final de semana sem ir em uma dessas que já estava por fora, hoje posso ver que isso é pura tolice. Achava que meu apartamento era o paraíso e tinha tudo que eu queria e precisava, pensava também que não havia melhor escola que a minha, mas encontrei no interior uma escola simples, mas com pessoas de todos os jeitos e pessoas adoráveis. E claro, o Jean, algo do passado, um lance da cidade grande. Tudo isso era a minha vida e eu achava o máximo e era legal, mas com o tempo que passei em outro lugar completamente diferente e com outras pessoas pude ver que não importa onde estamos, sempre pode ser bom, só depende de nós mesmos e das pessoas que estão conosco, pois ninguém é substituível e com o tempo que passei na cidade grande e com o tempo que passei no interior, conheci pessoas incríveis e isso é simplesmente maravilhoso.

      Quando finalmente chegamos à casa de meus avós, em Jardim da Penha, eram seis horas da tarde e ainda estava claro por conta do horário de verão.

      Vovó veio radiante nos receber, nos dando longos abraços e vovô veio com seu jeito de sempre, mas não escondeu a alegria em nos ver. Eles sempre com a mania de ajudar até tentaram tirar as malas do carro, mas logo meus pais os repreenderam.

      — Não têm mais idade para isso, entrem que já estamos indo — disse minha mãe com seu jeito protetor e não estava disposta a mudar de ideia.

      Antes de tudo, soltei Grace, que estranhou o local e começou a latir e cheirar as coisas.

      Peguei minha mala e claro, o buquê que Thiago me deu, não iria deixá-lo em casa de jeito nenhum. Eu dormiria no meu quarto que está lá desde que eu era um bebê. Como a casa é grande, têm quatro quartos, mas o meu nunca é usado por nenhum hóspede. Vovó uma vez me disse que o quarto de uma princesa era especial, eu deveria ter uns dez anos quando ela me falou isso. 

      Estava com preguiça de arrumar minhas coisas no pequeno armário, então deixei a mala intacta em um canto do quarto e coloquei as flores no criado mudo ao lado da cama.

      Vovó entrou no aposento.

      — Querida! Mas veja só que lindas flores. Acho que minha menininha cresceu, não é?

      Sorri.

      — Sua mãe me disse que é aquele rapaz que vimos aquele dia em que estávamos em sua casa, aquele que a gente até conversou sobre ele.

      — Sim, é ele. Ai vó! Ele é incrível, sabe? Acho que nunca me senti assim antes. Queria tanto que ele ficasse, queria mais que esse pensamento egoísta se afastasse de mim.

      — Isadora, não é um pensamento egoísta, é medo de ficar distante. O que você tem que fazer é alimentar seus sentimentos da maneira correta, pense apenas nas coisas boas e não nas que as cabecinhas de adolescente inventam.

      Suspirei.

      — A senhora tem razão.

      — Sim. E agora, por que não toma um banho e relaxa um pouco. Estarei preparando o jantar.

      — Tudo bem.

      Seja o que fosse que vovó cozinhasse sei que estaria divino, pois ninguém cozinha como ela.

      — Ah, Isadora! Depois do jantar, tem um bolo de chocolate recheado com brigadeiro esperando por você.

      Era meu bolo preferido em todo o mundo, o bolo de chocolate da minha avó. Ela sempre fazia em meus aniversários e eu comia tudo em menos de uma semana.


      Após o banho, vi que isso era tudo que eu precisava para relaxar e me sentir melhor depois de uma viagem.

      Mamãe já havia cuidado de Grace, mas ela ainda estava deslocada naquele lugar tão diferente para ela e com pessoas que ela não conhecia. Durante o jantar, a deixamos no quintal, mas ela dormiria comigo.

      Uma hora se passou após a refeição. Estávamos conversando na sala de estar quando meu telefone tocou. Era Thiago. Fui para o quintal, onde me sentei em um banco de madeira, Grace se aproximou de mim, mas logo outras coisas lhe chamaram atenção.

       — Alô!

      — E aí? Nossa! Não sabe como é bom ouvir sua voz —  Thiago disse e eu sorri.

      —  Dia difícil?

      —  Muita estrada e engarrafamento.

      —  Mas isso é normal —  falei e ri.

      —  Acabamos de chegar ao hotel e estou morto de cansado.

      —  Então é melhor descansar.

      —  Prefiro falar com você.

      Sorri novamente.

      —  Também prefiro.

      —  Como foi o seu dia?

      —  Não muito diferente do seu, mas estou com meus avós, o que torna tudo mais interessante e divertido.

       — Ainda não acredito que veio mais cedo por minha causa — ele comentou.

      — Onde está o garoto convencido agora? — brinquei. — Falando sério, é claro que eu viria, não interessava como, mas eu iria vir.

      — Obrigado.

      Ficamos em um silêncio bom, não um silêncio constrangedor, mas um em que pudemos ouvir os risos e os pensamentos um do outro, como fazíamos quando estávamos juntos. Depois retornamos a conversar e se passaram mais de uma hora até que finalizamos a ligação.

      Depois de um tempinho enrolando do lado de fora da casa, apenas com aquele sorriso bobo no rosto, entrei. Era muito bom estar na companhia de minha família e isso me fez esquecer qualquer apreensão que estivesse dentro de mim, pelo menos por um tempo. É quando tudo se cala que os pensamentos gritam. Estava deitada na cama e Grace dormia em meu pé. Se não fosse por um carro ou outro que passasse, não haveria barulho algum. Dentro de minha cabeça estava um ambiente um pouco diferente, enquanto pensava em Thiago, considerei o que minha mãe e minha avó me disseram, até mesmo o que Thiago me disse e isso me reconfortou até que enfim pude pegar no sono e descansar corpo e mente.

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