VI✅

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 A vida é feita de escolhas e consequências. Algumas vezes nossas escolhas nos levam à lugares onde não estamos preparados para ir. Cada ação gera uma reação e algumas reações tem o poder de mudar para sempre o seu destino. Alguns resultados são aguardados ansiosamente como o nascimento de um filho. Alguns trazem surpresas agradáveis como quando você prova algo novo pela primeira vez. Ações e reações fazem parte de crescer e adquirir indentidade.

Mas nem todas as escolhas levam a grandes descobertas prazeirosas. As vezes as consequências podem ser dolorosas, e por que não dizer, pesadas de se lidar.

Nayla levava em seu peito o peso de uma escolha mal pensada.

Naquela noite de sexta-feira, deixar Steve sozinho o tornou o alvo perfeito. A noite escura e quente havia afastado todos do centro da cidade o que tornava um pedido de socorro em vão. Por mais que ela tentasse fingir que não, a verdade é que Nayla se sentia culpada. Seus ombros pesavam e o coração se afundava na angústia de não saber ao certo até onde ela era culpada.

Era impossível não se perguntar o que teria acontecido se ela tivesse chegado na clareira mais cedo. Ela teria sido capaz de salvar Steve?

Analisando seu reflexo no espelho, Nayla não pode evitar o sentimento de remorço que a corroía. Ela podia ver em seu reflexo o brilho feroz do monstro que havia dentro de si.

Nayla quis amaldiçoar a criatura. Mas que poder tinha ela?

Um lobo era poderoso mas de que adiantava ter tanto poder em suas mãos se ela não tinha controle algum sobre ele. Se olhando no espelho ela odiou a garota fraca que realmente ela era. Ela odiou a dor que sentia em seu peito e odiou o mundo que era fadada a viver de agora em diante. Um mundo sem Steve. Um mundo cheio de culpa e sem muita luz.

Ele fazia tanta falta.

Se fechasse os olhos Nayla via Steve sorrir. Era como se um filme se passasse em sua cabeça. Ela  ouvia o som de sua risada. Em sua mente ele estava vivo, respirando. Ela se concentrou em cada pequeno detalhe de seu rosto. Desde suas sardas até o jeito como ele mexia as orelhas. Cada mínimo detalhe, cada lembrança, cada pequeno gesto que o tornava especial.

Em pouco tempo sua memória começaria a falhar. Aos poucos e sem que ela percebesse os pequenos detalhes serão esquecidos. Um dia ela não seria mais capaz de se lembrar o som da voz rouca de Steve. Mas no momento, as lembranças  continuavam lá a torturando. Uma constante lembrança de que ele esteve em seus braços e ela não pode o salvar. Um lembrete infeliz de sua impotência.

— Você esta pronta?

Alex perguntou de seu lugar junto ao batente da porta. Ela havia ouvido o som abafado de seus passos rápidos e leves contra o carpete velho e puído. Mas ela preferiu ignora-lo.

Alex não se importava em ser ignorado, ele nunca sabia como se portar em situações como essa e ser ignorado era quase um alívio.

— Sim.

Nayla respondeu sem tirar seu foco do espelho, mas ela não se sentia pronta. Ela desejava não ter de ir ao velorio Steve. Nunca.

Nayla parecia cansada.

Ela tinha olheiras profundas, cabelos quase tão opaco quanto os olhos, era como se ela tivesse envelhecido dez anos nas últimas vinte e quatro horas. O vestido comprado as pressas em um brecho lhe caia bem. Mas ainda sim ela parecia uma lembrança vaga da garota bonita e saudável que Nayla costumava ser.

— Então vamos?

Ele perguntou. E sua irmã concordou com um aceno de cabeça.

Alex ofereceu a sua irmãzinha o braço direito. Ele queria ser seu apoio. Não apenas no sentido literal da palavra, ele esperava que Nayla entendesse que ele estava lá para ela.
A garota timidamente agarrou o braço de seu irmão mais velho e juntos eles desceram as escadas.

O PredadorOnde histórias criam vida. Descubra agora