Na manhã seguinte Nayla acordou com o sol em seu rosto. Era uma manhã de verão quente. Os mosquitos voavam próximos a sua janela acompanhados das formigas que subiam pelos vidros.
Do andar de baixo ela ouviu os barulhos de panelas e pratos.
Obrigando-se a se levantar da cama Nayla desceu, ainda em seus pijamas para ajudar sua mãe na cozinha, não que cozinhar fosse algo que ela era particularmente boa, ou se quer aceitável, mas ela sabia que desde de a morte de Steve os fardos haviam se tornado mais pesados para todos na casa. Conforme os dias se passavam seu pai se tornava cada vez mais cansado, sua mãe cada vez mais ocupada e até mesmo Alex sentia mais e mais a pressão de se tornar um Alfa. Nayla se sentia culpada por tudo àquilo. Ela tentava não pensar demais no problema, mas a realidade era que no fundo ela sentia que se não fosse por ela nada disso estaria acontecendo.
Nayla entrou na cozinha quando o relógio marcava as nove da manhã. O café da manhã havia sido servido ha pouco tempo, mas a louça já se encontrava na pia e sua mãe já estava cortando cenouras para o que provavelmente viria a ser o almoço.
Ela ouviu um murmúrio vindo da sala. O som de sussurros e papéis denunciavam o conselho da alcatéia. Ele estavam reunidos uma vez mais.
— Precisa de ajuda?
Nayla perguntou. Sua mãe ergueu seus olhos e encarou a filha. Seus olhos se encheram de esperança.
Mary assistiu, durante o decorrer das semanas, sua única filha se afundar em um foço de solidão e tristeza. Ela já não sorria como antes, não saia do quarto e não comia direito. Ela se sentia impotente assistindo sua filha definhar sozinha. Era compreensível é claro, ao longo dos últimos anos ela assistiu Steve se tornar para Nayla bem mais do que um amigo. Ao ver a garota em tal estado ela se perguntou, mais de uma vez, se não seria Steve o companheiro eterno de Nayla. O homem destinado a ama-la e faze-la feliz pelo resto de seus dias. Mary temia que o destino de sua filha fora tão cruel a ponto de tirar, de maneira tão dolorosa o que deveria ser seu amor.
Sky discordava, companheiros assim eram difíceis de se encontrar, ele e Mary eram apenas muito sortudos. "Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar Mary." Ele disse "Infelizmente eu dúvido que eles teriam tanta sorte." Mary se agarrava na esperança de que ela estava errada. Mas convenhamos ver um filho naquela situação não era nada esperançoso.
Os índios Haruche tinham como base de suas crenças a família. Laços familiares eram fortes dentro da sua comunidade indígena de maneira que quando um membro da família sofria todos sofriam juntos. Mas ver Nayla fora de sua cama, na cozinha a oferecendo ajuda deu a Mary forças para acreditar que as coisas estavam melhorando.
— Claro querida, se importa em cortar as cenouras para mim?
— Eu adoraria.
Nayla respondeu a sua mãe que lhe entregava a faca. Mary limpou suas mãos no avental e seguiu para a pia com uma montanha de louça suja.
— Como está se sentindo hoje? Não desceu para tomar café da manhã. Eu fiquei preocupada.
Mary perguntou assim que ouviu o barulho da faca contra a tábua de madeira.
— Eu acabei perdendo a hora. Mas não se preocupe eu estou sem fome.
A voz de Nayla soava vazia e distante. Por mais que ela se forçasse para parecer, agir e até mesmo falar como antes, era impossível não notar a apatia em sua voz.
— Obrigada por me ajudar querida. As coisas estão um pouco malucas essa manhã. Os representantes do conselho chegaram ontem a noite sem aviso, eu tive de os colocar no porão e...
Mary começou seu monólogo a respeito da noite anterior e a chegada dos membros do conselho supremo. Ela passou a descrever em detalhes como os dois visitantes todos os problemas de acomodação que ela teve de enfrentar. Ela então explicou porque havia escolhido alocar os visitantes no porão ao invés do sótão, como ela arrumou as camas e quais lençóis havia escolhido. Nayla não prestava muita atenção nos detalhes pequenos, apenas uma dúvida martelava em sua cabeça.
— Mãe, você disse representantes? Como mais de um?
Nayla perguntou assim que sua mãe parou por um segundo, provavelmente para respirar.
— Sim, dois rapazes, não parecem muito mais velhos que Alex. Seu pai e eu ficamos preocupados com a idade. Me parece irresponsabilidade mandar dois jovens sozinhos para um lugar tão perigoso. Um deles diz que é filho do Alfa do conselho supremo. O outro é um beta. Muito bonito por sinal.
Dois? Dois não podia ser um bom sinal não é mesmo? Nayla sentiu seu estômago embrulhar.
— Como assim?
Mary pareceu não entender direito sob o que sua filha estava perguntando. Ela imaginou que talvez Nayla começara a se sentia pronta para conhecer novos rapazes.
— Ah ele é todo galanteador com um sorriso bonito...
Nayla revirou os olhos. Ela certamente não estava interessada na aparência do beta. Ela tinha problemas maiores para se preocupar.
— Não. Eu quis dizer, como assim o filho do Alfa?
— Ah sim! Eles enviaram o filho do Alfa Supremo.
O filho do Alfa.
O filho do Alfa
O candidato mais provável a futuro alfa supremo.
Embaixo do seu teto estava o futuro homem mais poderoso de toda a raça lupina. Isso não podia ser bom. Nenhum pouco bom. Era evidente, pelo menos para Nayla de que a alcatéia e sua existência estava em jogo. Por qual outra razão eles enviariam um alfa do supremo conselho?
— O que isso significa? Para nós? Para nossa alcatéia?
Nayla se virou encarando sua mãe. Os olhos de Mary se tornaram fundos e opacos, como se finalmente ela houvesse processado o que tudo aquilo significava. Mary respirou fundo. Houve silêncio por algum tempo antes que ela ouvisse a voz frágil de sua mãe dizer:
— Eu não sei filha. Eu peço ao Grande Espírito que não seja nada demais
Nayla sentiu o medo se apoderar de seu coração. Seu estômago revirou e ela sentiu seu peito apertar. Eles estavam abrigando o homem que tinha poder suficiente para anaquilar toda a sua aldeia, se o assassino fosse encontrado entre eles então não havia escapatória. A lei era clara: a alcatéia teria de ser destruída.
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O Predador
LobisomemO solstício se aproxima e com ele os lobos que chegaram a idade adulta podem enfim experimentar sua transformação... Nayla esta, como todos os jovens de sua alcatéia, nervosa com o ritual de transformação, a pressão dos pais e o medo da dor de assum...