Capítulo XI - Esforço

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Alice tornara-se uma paciente excepcional. Esforçava-se bastante durante as sessões de fisioterapia e cooperava com a terapeuta. Os quatro dias de viagem de Channing já haviam terminado e ele não retornou, conforme dissera para Lois. Nos últimos dias ele não encontrou em contato com Alice, e ela começava a ressentir-se dele.

- Fome? - A voz de Lois soava como um bálsamo para sua tristeza.

- Claro! - Alice sorrira, mas a alegria não chegava aos olhos. - Você me lê tão bem!

Lois deu uma gargalhada e fez menção de dirigir a cadeira de rodas, mas foi impedida por Alice, que reclamava, dizendo não ser uma inválida. Ambas vinham criando um forte vínculo de cumplicidade, desfrutavam de longas conversas e debates, jogavam cartas ou xadrez e Alice sempre perdia.

- Você é tão ruim no 21 quanto o Channing! - A voz da mulher madura era divertida.

- Não me compare com ele. - Alice piscou. - Estou lhe dando a oportunidade de vencer.

- Todas as 17 vezes? - Lois soltou uma gargalhada. - Ele usa a mesma desculpa que você, isso é incrível.

- Ora, eu sou benevolente com a terceira idade. - Alice retrucou.

- Essa doeu bem aqui. - A governanta apontou para o peito.

- Foi um golpe baixo, eu sei. - Alice resmungou. - Desculpe-me.

- Você é tão boboca quanto o Channing.

- Lois? - Alice chamou.

- Sim, querida.

- Podemos não falar sobre ele? - Seu olhar era triste.

Lois percebera que a moça esforçava-se para não notar a ausência do homem, ou soar ressentida. Ela sabia que aquela atitude dele era uma fuga, o que não era habitual para alguém como Tatum. Ele já deveria ter voltado, uma vez que vinha deixando-a louca nos últimos dias. Recebia mais de cinco ligações do astro por dia, fora as mensagens, todas questionando a saúde, humor, ações da hóspede convalescente. Lois optara por não mencionar estes fatos para a moça, para não chateá-la. Ele podia ser muito controlador quando preocupado, ainda mais considerando a situação.

- Ele já deveria ter voltado, Alice. - Limitou-se a comentar.

- Estava sendo difícil lidar comigo.

- Vou atender ao seu pedido, mas sei que há uma boa razão por detrás desse sumiço.

Alice concordou com a cabeça e esforçou-se para concentrar-se no jogo de cartas.

Haviam passado dez dias. Alice sentia-se mais forte e revigorada. A última sessão de fisioterapia ocorrera na piscina do casarão, e foi um prazer sair de dentro daquelas paredes. Alice aproveitou cada momento e recebeu boas críticas de Andrew. A sessão de terapia também aconteceu do lado de fora da casa, e Alice pôde abrir-se mais com a médica. Pedira para que o almoço fosse servido no deck no entorno da piscina e Lois não viu problema. O restante do dia seguiu agradável e Alice conseguiu um leve bronzeado devido aos exercícios na água. Recolhera-se mais cedo naquele dia, pois o esforço havia sido maior e o sono não demorou a chegar.

Channing estava de volta à casa. Levou mais tempo que o necessário fora, ele tinha ciência, mas sentia-se impotente depois de beijar Alice. Ele sentia que ela precisaria de algum espaço e vê-lo praticamente o tempo inteiro no ajudaria em nada. Ele precisava que ela o perdoasse por sua atitude impensada, e não queria que ela o considerasse como aproveitador de mulheres indefesas. O astro ansiava por sua melhora, e não apenas por sentir o peso da culpa, mas porque ela despertou algo diferente dentro dele. Recebera a visita do advogado de Jenna dois dias atrás e a proposta de divórcio fora milionária. Ele reconhecia a importância da ex-esposa em sua vida, por isso considerou justo acatar todas as exigências feitas por ela, exceto restringir o acesso à sua filha. Apenas por este motivo, recusara-se a assinar os papéis. Deveriam conversar em breve, como pessoas civilizadas, mas teria que pensar nisso mais tarde.

Ao entrar na casa, notou que estava silenciosa. Deixou as malas no quarto principal e não conteve a ansiedade de ver se Alice estava bem. A porta do quarto dela estava ligeiramente encostada e Channing a forçou suavemente, fazendo com que abrisse. Com três Passadas longas, alcançou a beirada da cama. Ela dormia tranquilamente. Observou que sua governanta realmente fizera um bom trabalho, pois Alice tinha uma ótima aparência. Estava corada, visívelmente mais forte e saudável. Não resistiu ao impulso de tocar seus cabelos escuros, afastando uma mecha do rosto. Fitou-a por longos minutos e puxou uma poltrona para perto da cama, sentando-se para velar seu sono por alguns instantes mais.

Alice estivera sonhando com água, praia, calor e Channing. Podia até mesmo sentir o perfume característico dele, isso soaria como insanidade. Um rompante e seus olhos abriram. Estava escuro no quarto, ainda era noite. Talvez fosse madrugada, mas não saberia ao certo. Ao virar-se de lado, sentiu algo escorregar pela coberta que usava e ao voltar os olhos para o lado oposto, pôde ver que não estava sozinha. Ele estava ali, como estivera no quarto do hospital. Poltrona posicionada ao lado da cama, e dormia sentado, com as mãos que antes estavam repousadas sobre sua barriga, mas que escorregaram para o colchão quando movera o corpo. Com uma esticada de braço na direção dele, Alice pôde tocar seus cabelos macios. Precisava saber se ele era real, ou se estava sonhando que havia acordado e Channing estava ali, em seu quarto, dormindo apoiado sobre sua cama. Ainda afagava os fios castanho-claros quando a cabeça dele ergueu-se abruptamente, e ela deixou que a mão caísse enquanto os olhos claros dele encontravam-se com seus olhos escuros. Sim, ele era real. Channing estava de volta, finalmente perto dela outra vez.

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