Guardiões do Subsolo

Nu

  Após três meses, Selena voltou a pisar o chão do seu trabalho. Conseguira por uma baixa que durasse o mínimo tempo que ela precisava. Selena não sentia, de facto, saudades do cheior enjoativo daquele ambiente. Uma mistura de fritos e grelhados. Tudo a ser feito ao mesmo tempo. Para os clientes poderia ser um cheiro que lhes criasse agua na boca. Mas Selena contava todos os minutos para poder voltar a respirar ar puro. Verificou a cozinha para ver tudo corria bem. Depois caminhou ate as caixas para se certificar que o serviço estava a ser bem feito e eficaz. Não vira nada de suspeito em nenhum dos setores. Virou-se, entao, e voltou dirigir-se para a cozinha. Ao atravessa-la reparou em algo estranho. Uma rapariga estava a passear pela cozinha. Quando se virou, Selena pode ver o seu rosto. E então Selena estacou, chocada. Era Nair. Se não o fosse, era alguém identico a ela. Selena achou impossível ela estar ali, pois Nair estava morta. Foi então que Nair reparou na Selena e sorriu. Nair aproximou-se.

- Nair? - Perguntou Selena ainda chocada.

Perante si, estava uma Nair totalmente despida e que cambaleava pela cozinha. Parecia um cenário de um filme de terror, ouvia os gemidos de Nair e percebia o esforço dela em tentar falar. Cada vez que esta tentava dizer algo, ecoava um barulho ensurdecedor. Após vários esforços de Nair, lá conseguiu dizer algo consistente.

- Conan despiu-me por dentro e por fora. Todos os meus medos e receios ficaram a nu, numa idade precoce e para alguém que não me merecia.- Nair observou o ar chocado de Selena mas não quis parar de proferir, detalhadamente, as atrocidades que Conan lhe fizera.

A certa altura Selena já não queria ouvir mais nada, apanhava apenas palavras soltas que só por si já faziam sentido mas ela queria apagar que isso existira alguma vez. Selena queria continuar a ser trouxa e a acreditar que Conan iria mudar por ela, queria alimentar essa esperança. Chegou a um ponto em que a ruptura estava próxima, cada palavra dita por Nair perfurava-lhe o coração, sentia-se totalmente agonizada. Tentou expulsar Nair do McDonalds, como fazia com aqueles clientes que só vinham arranjar confusões e barracos, mas não conseguiu. Fechou os olhos e voltou a abri-los, para verificar se aquele espírito ainda estaria ali a julga-la e a colocar em risco tudo o que ela acreditara até hoje. Ao abri-los, o mesmo olhar arrepiante e agonizante fintava-a. Desesperada, Selena começou a gritar tão alto que Tony,o gerente, a ouviu e ficou preocupado.

O corpulento italiano de bigode farfalhudo ficou preocupado com a sua funcionária e veio logo ver o que se passava. Eram quase duas da manha, não seria suposto alguém gritar assim. Quando Tony entra depara-se com o chão da cozinha lavado em lágrimas e com Selena encostada a parede fica bastante preocupado com ela, tenta falar-lhe, descobrir o que se passa, ser o seu ombro amigo, que Selena desprezou, levantou-se e saiu a correr.

Sentou-se ao volante do seu carro, pronta para conduzir, guiou até a um campo cheio de flores e mais a frente um precipício.

É então que tudo começa a fazer sentido na cabeça de Selena, uma sequência frenética de flashbacks surge na sua cabeça e ela consegue finalmente perceber o que aconteceu para acordar naquele hospital há meses atrás.

Parecia um filme. Mas era um filme que lhe era familiar. E doloroso. Começou a sentir uma forte dor de cabeça. Mas a vontade de Selena ver o que tinha acontecido superava qualquer dor. Qualquer obstaculo. E num esforço começou a lembrar-se de tudo. Sentia que estava la, a presenciar tudo. Mas nem Melissa nem Selena, que lutavam uma contra a outra, a notaram. Viu ambas a aprixarem-se precipicio. O coração de Selena acelerou de panico. Decidiu aproximar-se. E quando o fez, viu Melissa a empurrar Selena pelo precipio. Selena correu ate ao precipicio para tebtar agarrar a Selena que caia. Mas era uma lembrança e não havia qualquer forma de ajuda-la. E apesar de saber disso, Selena sentia que aquilo era real e que estava a acontecer naquele momento.

- Naooo. - Gritou Selena ao ver o corpo de Selena cair pelo precipio.

Os seus olhos lacrimejaram. Selena repetia montes de vezes que aquilo não era real. Talvez a dor de cabeça estivesse a afetar as suas emoçoes durante o flashback. Foi então que se lembrou que estava viva. E ninguém a uma altura daquelas sobreviveria sozinho. Olhou para o profundo precipicio e viu o corpo de Selena ser levado dali. Mas não conseguia entender quem era. Foram as asas que lhe chamaram a atenção. Havia características naquela pessoa que a faziam lembrar alguém. Foi então que o indivíduo virou a cabeça na direção de Selena e depois na outra e colocou a mão sobre a testa de Selena, que permanecia meio acordada, dizendo algumas palavras que a fizeram adormecer. Selena estava em choque. Não estava bastante chocada. Era apenas um choque de desilusao. Todo aquele tempo Selena alimentara a ilusão de que quem a tinha salvo era Conan. Mesmo estando consciente de que era pouco provável, Selena acreditava que o anjo da guarda dela nunca a tinha abandonado nos momentos que mais precisava. Mas estava enganada. Devia um agradecimento a Josh. Afinal, fora ele que a salvara.