Guardiões do Subsolo

A Nova Aliança

  -Temos que nos apressar- bradava Damian, bastante aflito.

- Vai a algum lado?- indagou Fallon, um veterano general.

- Blood Angel aguarda os meus serviços- retorquiu.

Ao ser pronunciado o nome de Blood Angel, todas as pessoas presentes naquela sala escura e degradante, estremeceram. De entre as várias reações , enalteceu-se a de uma mulher claramente deblitada, cujo o seu nome era Lucy. Voltar a ouvir aquele nome, fora um golpe bastante profundo para aquela misteriosa mulher.

A conversa decorreu normalmente, o general Fallon trocava dois dedos de conversa com Damian, conversa essa que era escutada atentamente por todos aqueles que aguardavam ansiosamente a chegada de alguém. Para Fallon, era bastante simples a maneira como iam conseguir destronar Conan e enfraquecer a Spero Mortius já para Damian, que estava dentro da Spero, não era assim tão simples. O choque de opiniões entre os dois proporcionava um cenário de debate intenso em que ambos eram os protagonistas, mas isso não impediu que outras pessoas fossem intervindo na conversa.

- Claramente- introduziu Lucy, projetando a sua voz estridente e ameaçadora que se fez ouvir em toda a sala- Não estamos de acordo, general Fallon. Conheco bastante bem Conan e sei que a melhor maneira de o derubar
é juntarmo-nos a ele. Quanto a Blood a conversa é outra, é necessário armar um conflito,por muito que nos custe. É necessário reunir um exercito poderoso e coloca-los na mira da Spero e de tudo aquilo que lhe pertence. Esta tem sido uma força misteriosa que está a ganhar poder de dia para dia, porque assim o quisemos.

Fallon não estava nada a espera de ser contrariado por uma mulher que nunca vira. O veterano de sessenta e cinco anos, com um curto cabelo cinzento e uns olhos verdes doces não era um simples avó, era mais do que isso até. Fallon combateu nas grandes guerras entre os Anjos e os Demónios, chefiou batalhas e acumulou vitórias. Era um homem cujo o coração tinha gelado quando viu a familia sofrer as consequências dos seus atos enquanto general. Fallon era também um homem da velha guarda, conservador que acreditava que o lugar das mulheres era junto da familia e isso fazia-o não ter qualquer simpatia por esta senhora que acabara de o desafiar e Fallon não reagia bem a desafios.

- Minha cara senhora, antes de mais nada, permite-me a ousadia de lhe pedir escarcidamente que se apresente a mim e a todos estes camaradas.

- Ora essa, general Fallon. O meu nome é Lucy Duncan.

Fallon estremece, ao perceber que está perante uma lenda do mundo dos Anjos, Lucy Duncan, o demónio que abriu a guerra entre Conan e Thomas e que os conduzirá a este cenário de guerra que estavam a largos passos de enfrentar.

- Então senhora Duncan, deve saber que uma guerra é a última coisa que precisamos. Aliás, se não fosse a senhora, talvez, digo talvez, não estivessemos neste clima de guerra.- Deixou escapar Fallon, com um sorriso malicioso.

- O que está a dizer é um disparate. Sempre ouvi dizer que não é o motivo que faz a guerra, é o homem. O homem provoca guerra, mesmo sem necessitar. O que está a dizer é fruto de cusquices de café que eu não quero aqui alimentar.

- Longe de mim querer faltar-lhe o respeito, confesso que tinha essa vontade porque você já o fez deselegantemente, mas eu sou um cavalheiro e prezo muito esse estatuto.
Não pense que me vai conquistar com pensamentos filosóficos da banha da cobra. Estamos perante um cenário desastroso que se deve a sua aventura como Julieta sendo disputada pelos seus Romeus, e isso não é discutivel e nem interessa para a nossa ques...

- Para mim é um ultraje ouvir autenticos disparates vindos da boca de uma das mais célebres figuras do nosso panorama. Confesso que sempre o tive em grande conta e seria a última pessoa de quem esperava este circo.- Afirma bastante irritada e com o tom de voz demasiado elevado-Não me importo de discutir o que deve ser discutido mas só lhe peço o minimo de consideração para não cair em baixezas nem em argumentos completamentes ridiculos, que apenas o descridivlizam.
Entretanto, já Damian se sentara, percebera que acabara o seu momento de protagonismo e que agora o debate era entre Lucy e Fallon, a medida que o debate ia subindo de tom, ficava expresso nos rostos dos presentes o receio de até onde poderia ir aquela violenta discussão. Entre ofensas, pontos de vista opostos, gritos e algumas ameças de violências é então que são interrompidos pela entrada triunfal de quem todos esperavam.
A sala silenciou-se quando Carter entrou. Lucy e Fallon não ficaram atrás. A discussão entre ambos cessou. Lucy esboçou um sorriso confiante enquanto Fallon ja não se sentia tão seguro como antes. Carter caminhou até ambos.

- Espero não ter interrompido o espetáculo. - Disse Carter seco. - Trocar acusações entre ambos não vai melhorar as coisas. A Lucy esta cá porque é uma arma preciosa para a luta. Mas não esquecemos também que Fallon é um excelente estratega que derrotou Matt anos atrás. Na plateia estavam cerca de uma dúzia de pessoas. O seu silêncio fez com que Carter entendesse o pedido de todos. - Entendo que todos estejam curiosos para saber o porque de vos ter chamado cá hoje. Bem, planeamos criar uma nova Organização para deter Blood Angel e Conan. Não temos como objetivo, de forma alguma, superiorizarmo-nos. Fazemo-lo por justiça, para estabilizar o equilíbrio entre o céu e o inferno. Por isso chamei cada um de vocês. - Declarou Carter.

- Então a tua solução para combater a Spero Mortius e os Anjos das Trevas é criar outra organização?- Comentou com malicia, um ruivo de sardas que até ali se mantivera calado.

- Os anos passam mas Timon Craig continua sempre igual. Critico e Sarcástico. Pois bem, meu caro amigo, estou apenas a dar uso a velha máxima "Juntos seremos mais fortes". O meu objetivo é reunir um grupo de pessoas que serão uma mais-valia para derrotar Conan e deter Blood Angel de assumir o controlo.

Timon Craig ouvia desconfiado o discurso de Carter. Um dos mais célebres jornalistas do Céu já estava bastante farto de organizações que pretendem combater o mal, ele próprio pertenceu as camadas iniciais da "Spero Mortius"
mas rapidamente quis sair de lá. Para Craig, o mundo dos Anjos sofria de um mal chamado "poder" e que todos queriam obtê-lo a força. A última vez que ele tentou expor esse seu pensamento a alguém fora Carter que na altura concordara com ele. Mas Timon
Craig estava disposto a ouvir o plano de Carter até ao fim e só aí decidiria alguma coisa.

- Passo então as apresentações. Comecemos pelos mais velhos, aqui está Rafael Fallon, um general que dispensa apresentações. Tal como vos disse a pouco, ele derrotou o general Matt Douglas que tinha umas ideias pouco consensuais acerca da forma como se deviam proceder as épicas batalhas entre os Anjos e os Demónios que ocorreram há quase trinta anos. É um homem bastante inteligente, um estratega nato e uma mais-valia para todos nós. Segue-se Lucy Duncan, todos nós sabemos que ela foi o motivo de desacordo entre Conan e Thomas, foi enfiada numa prisão por Conan, acusada da morte de Thomas. Eu tenho vindo a visita-la na cadeia nos últimos meses e juntos delineamos um
plano para ela fugir da cadeia. Como devem compreender, tendo Lucy entre nós, ficamos a conhecer os pontos fracos dos nossos principais inimigos. -Carter fez uma breve pausa no discurso e aproveitou para observar a reação dos presentes. A decisão de juntar
um grupo de pessoas era arriscada e demorara imenso até ganhar coragem para tal. Ele tinha medo que a sua ideia não fosse aceite, tinha medo de ser humilhado.

Foi então que Carter desistiu de continuar a falar e abandonou a sala. O medo tomara o seu corpo.