Uma semana depois de deixar a Samantha sozinha em seu quarto, depois dela me assustar com suas ideias malucas sobre nossa reaproximação, eu resolvi criar coragem e ir até sua casa me desculpar por ter feito o que ela sabia que eu era mestre em fazer, fugir.
Toquei a campainha e esperei dois minutos, até decidir tocar novamente, mas antes que eu pudesse, a porta se abriu rapidamente e me surpreendi ao perceber que não era a Samantha, e sim sua mãe.
― Senhorita Motta, a Samantha está? ― perguntei completamente desajustado.
― Oi Guilherme, quanto tempo. Você cresceu bastante ein?! ― falou ela surpresa enquanto me abraçava.
― Pois é, tia. Dois anos sem ver a senhora. ― falei, ainda desconcertado.
― A Sam não tá, ela saiu com a namorada faz algumas horas, mas acabou de me mandar uma mensagem dizendo que já estava chegando ― disse ela, me deixando boquiaberto. ― Quer entrar e esperar? ― prosseguiu, perguntando enquanto entrava e fazia sinal para eu acompanhá-la.
― Namo..namo..rada? ― perguntei gaguejando e com cara de idiota.
― É brincadeira! ― falou ela rindo. ― Ela disse que se você aparecesse enquanto ela estivesse fora, eu falasse isso. Você sabe como ela gosta de irritar as pessoas. ― explicou ela, me deixando aliviado por não pensar mais em ser a causa de ter feito ela desistir dos homens, o que havia passado pela minha cabeça segundos atrás.
― Não mais do que eu gosto de irritar ela. ― falei sorrindo e observando a tia pegar a bolsa em cima da bancada perto da porta.
― Tem bolo de chocolate na geladeira. Ela já já chega, tenho que sair agora, mas você pode esperar ela aqui! ― Disse ela dando um beijo no lado direito do meu rosto, e saindo caminhando até a porta rápido demais, e antes que eu pudesse falar que poderia voltar em outra hora, ela virou ainda segurando a maçaneta com a porta já aberta e falou ― fique à vontade ― e saiu.
Fiquei congelado no meio da sala e na frente do corredor que ia até a porta da frente. Era impossível não pensar em como aquele momento me deixou desconfortável e sem saber o que fazer. Eu estava na casa dela, sozinho, e esperando por ela. O que ela iria pensar quando chegasse? (Provavelmente que me tornei um stalker, e chamar a polícia) Eu poderia ir embora, evitar descobrir a resposta para essa pergunta, mas decidi ficar e fui esperar no quarto dela, já que sua mãe havia dito para eu ficar à vontade.
Subi até seu quarto e chegando lá, percebi que tudo estava extraordinariamente arrumado, tudo parecia estar exatamente igual há uma semana atrás, quando estive ali com ela, comendo pizza e sendo ameaçado com esquartejamento, caso sujasse o carpete de madeira emborrachado. Admito, o complexo dela por organização e limpeza me irritava, mesmo que agora ela tenha se mostrado menos maníaca e sua arrumação não fosse mais tão simétrica, ela era completamente diferente da bagunça que eu era e do jeito sujo que eu adorava falar. Era como se eu fosse o dia e ela a noite, e juntos nós fossemos o pôr do sol ou o nascer da manhã, nos encontrando em um evento natural mas não duradouro, um crepúsculo nostálgico.
Fiquei observando o quarto dela por alguns minutos, sentado na cama e logo o seu notebook em cima da mesa me chamou atenção. Nunca fui do tipo curioso, mas em relação a Samantha, e depois de dois anos sem falar com ela, me tentei a invadir a sua privacidade para descobrir a pessoa que ela havia se tornado. Caminhei em direção a mesa e ao sentar em frente ao computador me vi ainda mais tentado. Eu poderia imaginar um diabinho e um anjinho em cada lado da minha cabeça dizendo o que era errado e o que era certo.
Abri o notebook e logo percebi que estava sem senha e que era a hora perfeita para descobrir as respostas para as perguntas que eu tinha. Fiquei observando a tela, e minha consciência e bom senso acabaram falando mais alto, e em consequência disso acabei fechando o computador e girando rapidamente a cadeira, me perguntando o que eu estava fazendo. Fechei os olhos por um momento e logo ao abrir percebi que estava em frente ao grande post de "One Day", na parede lateral esquerda. Me levantei e caminhei em direção a ela e fiquei observando o post de perto. Nele, a Emma (Anne Hathaway) e o Dexter (Jim Sturgess) se olhavam, mas não de forma apaixonada, parecia mais como um intenso olhar de surpresa, de dúvida e descrença. Era como se eles soubessem que haviam encontrado a pessoa certa e que os seus destinos estariam traçados daquele momento em diante, mas também era um olhar seguido por um riso, como se ao mesmo tempo que soubessem, não acreditassem, e isso dizia mais ainda sobre eles.
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Amizade Preto e Branco
RomantikUm romance disfuncional. Disfuncional: Essa palavra se encaixa perfeitamente na descrição da quase não relação entre Samantha Motta e Guilherme Trindade. Existem pessoas que foram feitas para ficarem juntas para sempre, para se amarem daquela forma...