― O que você quer? ― Perguntou ela com a voz rouca, depois de demorar mais de 5 minutos para abrir a porta.
Ela estava com o cabelo amarrado, o rosto amassado e uma expressão de que não queria receber visitas tão cedo. (Típico da Samantha) Sua blusa regata deixava à mostra que ela estava sem sutiã e sua falta de shorts indicava que estava só de calcinha, palpite de sorte já que a regata era bem comprida.
― Tão delicada quanto os espinhos de uma roseira.— brinquei, provocando a fera.
― São 8 da manhã, Gui, isso não são horas de chegar na casa dos outros, ou melhor, na minha casa! Ainda mais sem avisar.— me fuzilou com o olhar.
― Desculpe-me senhorita bem humorada, eu só queria ver o Samuca.— expliquei.
― Existe uma coisa muito revolucionária, que podemos levar para qualquer lugar e serve como meio de comunicação, se chama celular, e serve para ligarmos uns para os outros, inclusive para avisarmos por exemplo, que iremos visitar alguém em plena madrugada, sabia?
Parece que ainda existe um pouco de drama dentro dela ― pensei ― até porque, eram 8:00 da manhã. Ok, talvez um pouco cedo demais, admito.
― Azeda como um limão!— murmurei. — Te peguei num ótimo humor hoje, acho que volto mais tarde! ― falei enquanto virava de costas.
Antes que eu pudesse dar o primeiro passo para ir embora, ouvi um grito vindo de dentro da casa:
― GUINHOOO! ― Era o Samuca, vindo correndo em minha direção.
Me abaixei para tentar ter a altura dele quando ele chegasse perto, e fui recepcionado com o abraço mais apertado que eu havia recebido nos últimos dois anos.
― Você tá forte ein, rapaz? ― falei levantando ele nos braços.
― E você tá gigantão! ― disse ele com aquela voz fofa que crianças de 5 anos costumam ter, e bagunçou o meu cabelo, coisa que ele sempre gostou de fazer.
A Samantha nos observava e percebi um sorriso singelo em seus lábios.
― Pensei que você tivesse me esquecido! ― falei enquanto o colava no chão.
― Ele perguntou por você todas as noites. ― a Samantha falou enquanto se abaixava e limpava a bochecha dele que estava suja de geleia.
― Sério? ― questionei achando legal o fato dele ainda lembrar de mim.
― Você lia para ele todas as noites em que dormia aqui, o que eram várias. Você ficava lá, do lado dele, lendo todas as vezes o mesmo livro, que ele adorava.
― "O Pequeno príncipe"! ― sorri, ao lembrar que também amava esse livro que lia para ele, mas depois de lê-lo dezenas e mais dezenas de vezes, passei a não gostar tanto quanto quando eu era um pirralho.
― Saudades de você Guinho! ― falou ele, me puxando pela mão ― Vem cá, a Sam fez torrada queimada, e tem geleia de morango.
― Ela ainda esquece as torradas enquanto tenta abrir o pote de geleia? ― questionei sorrindo.
― Não me zoa, pois eu ainda estou de mau humor. ― disse ela me encarando com um olhar mortal, o qual fez eu entender o recado.
― Como foi a viagem, Samuca? ― Perguntei enquanto o pegava pelo braço e sentava a mesa com ele no colo.
― Foi bem legal! Me diverti muitão, é bem frio no sul!
― Virando hominho, viajando de avião sozinho ein?! ― brincou a Sam.
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Amizade Preto e Branco
RomanceUm romance disfuncional. Disfuncional: Essa palavra se encaixa perfeitamente na descrição da quase não relação entre Samantha Motta e Guilherme Trindade. Existem pessoas que foram feitas para ficarem juntas para sempre, para se amarem daquela forma...