Capítulo 12 - Uma briga No Portão

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Capitulo Doze

Mas nunca que eu vou deixar você fazer isso. — reclamava meu pai pela terceira vez.

— Eu nem sei se ele vai aceitar, então, deixa pra lá. — Me levantei e joguei o copo com bebida alcoólica que estava com meu pai, fora.

Já estávamos ali por horas e vendo que não conseguiríamos dormir, ficamos conversando. Ouvir meu pai e seus conselhos sempre me era útil. Eu havia me enganado sobre ele, a imagem que criei dele em minha cabeça, era totalmente ao contrário do que realmente era. Meu pai não era um homem viciado que só pensava em bebidas — como eu pensei por muitos anos —, mas sim um homem que não sabia onde encontrar refúgio para seus problemas, e, quando achava, sempre não era o certo a se fazer.

Talvez eu devesse me espelhar nele, não em seu eu que só faz coisas erradas, mas sim naquele pai que conheci naquela madrugada, mas sim, naquele pai que eu nunca prestei atenção que estivesse ali... Me lembrei de tudo que Carlos já fizera por mim e comigo. Íamos — assim que ele se casou com minha mãe — em parquinhos da praça, outrora íamos em lanchonetes, lojas de brinquedos... Quando eu via aquele brilho diferente no olhar de minha mãe quando ele estava com a gente, eu ficava feliz, sabia que ela estava gostando da vida que levava, eu também gostava, mas foi onde tudo aconteceu — a época em que ele bebia e chegava em casa brigando comigo e com Maristela —, e então passei a não gostar, me bloqueando para conhecer o meu padrasto do jeito que realmente era.

***

— Me conta sua história? — pediu Alex.

— Alex eu... eu não sei se consigo. Nunca falei disso com ninguém.

A parte em que eu mais gostava de Brasília eram as tardes de inverno: eram tão proveitosas, e tudo ficava melhor. O inverno é a melhor estação do ano, e é melhor que o verão. O quarto do meu vizinho era iluminado por um sol maravilhoso da tarde que dava inspiração a qualquer fotógrafo. Seu quarto, depois de arrumarmos, estava parecendo um quarto de séries de tevê, e daria um ótimo lugar para um ensaio fotográfico.

Em todas as paredes tinham desenhos de livros. Ele tinha um guarda-roupa enorme com oito portas na cor branca, e eu descobri que uma daquelas portas dava para o banheiro! Sim! E quando entrei lá eu me surpreendi ao ver uma banheira linda. Ele tinha uma cama de casal, tinha uma escrivaninha que estava cheia de papeis e livros da escola e na parede adjacente à porta de entrada, tinha uma estante cheia de tênis. Era uma linda coleção.

Era a terceira vez que Alex me pedia para conta-lo sobre minha historia de vida, nos dois dias anteriores ele evitava muito falar comigo depois ter feito essa pergunta. Não sabia se estava preparada para contar. Minha vida ninguém sabia, nem mesmo minha mãe.

Vários flashbacks passaram por minha cabeça. O lugar das rosas... Minha mãe... Eu escrevendo meu primeiro livro... E, a que mais me dói: meu pai me tocando...

Quando voltei a realidade, estava com lágrimas escorrendo pelo rosto, e Alex estava as secando. Seria uma cena maravilhosamente linda, se o que viesse após não fosse um beijo. Sim, ele me beijou. A princípio eu não fazia a mínima ideia do que fazer, Alex era meu amigo, eu sentia algo por ele. As borboletas em meu estômago fizeram festa quando esse beijo aconteceu, no entanto, eu sabia que não era o certo a se fazer.

Aquele não estava sendo meu primeiro beijo, não mesmo. Tive a "honra" de perder o meu famoso BV com um vizinho da rua debaixo. Foi o pior beijo da minha vida. Nunca quis beija-lo novamente. Uma por ter me tornado cristã, e outra por ele não saber beijar mesmo.

Alex havia parado o beijo, e eu realmente não sabia se eu tinha continuado, ou não tinha feito nada. Nos fitamos e mais lágrimas desceram pelo meu rosto. Dessa vez eu não sabia o motivo de tais lágrimas, eu me sentia impura, como se tivesse cometido o pior dos pecados! Mesmo sabendo que aquele beijo não fora culpa minha.

A Vizinha Cristã (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora